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Poluição da China separa famílias, e cobra seu preço

Enquanto o ar ruim asfixia as cidades chinesas, alguns expatriados estão começando a deixar suas famílias no país de origem


	Em Nanjing, na China, pessoas usam máscara para se proteger da névoa que tomou conta da cidade, em decorrência da forte poluição
 (ChinaFotoPress/ChinaFotoPress via Getty Images)

Em Nanjing, na China, pessoas usam máscara para se proteger da névoa que tomou conta da cidade, em decorrência da forte poluição (ChinaFotoPress/ChinaFotoPress via Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2014 às 18h19.

Xangai/Hong Kong - Enquanto um smog espesso cobria Pequim no ano passado, Stephanie Giambruno e seu marido decidiram que ela e suas duas filhas voltariam a morar nos EUA.

O marido de Giambruno ficou na China por seu trabalho como gerente-geral de uma empresa internacional de tecnologia. Ele agora fala com a família pelo Skype duas vezes por dia e vive com um “jetlag” constante, porque viaja à Flórida uma vez por mês para visitá-los, disse ela.

Embora seja difícil viver separados, Giambruno disse que a poluição do ar recorde de Pequim não lhes deu outra opção. Ela viu os filhos dos amigos desenvolverem asma. Suas próprias filhas, de 6 e 21 meses, muitas vezes não podiam sair de casa.

“Isso não é jeito de viver, ter que manter seu bebê em casa com um filtro de ar”, disse.

Enquanto o ar ruim asfixia as cidades chinesas, alguns expatriados estão começando a deixar suas famílias no país de origem: esse é o mais recente sinal do custo crescente da poluição para os mais de meio milhão de estrangeiros que trabalham na China e para as multinacionais que desejam retê-los. O smog em Pequim foi pior que os padrões governamentais na maioria dos dias do ano passado e as estatísticas do Ministério do Meio Ambiente mostram que 71 de 74 cidades chinesas não alcançaram os padrões de qualidade do ar.

A Organização Mundial da Saúde disse em março que a poluição do ar contribuiu para 7 milhões de mortes em todo o mundo durante 2012 – e 40 por cento delas oriundas da região dominada pela China sob o sistema de classificação da OMS. A poluição do ar exterior pode provocar câncer de pulmão, disse uma agência da OMS no ano passado, classificando-a como carcinogênica pela primeira vez.

Compensar a adversidade

Um terço das empresas da Câmara de Comércio da União Europeia na China disse que a poluição do ar aumentou os custos de recursos humanos, pois os expatriados demandam melhor assistência médica, remuneração ou filtros de ar, de acordo com Ioana Kraft, gerente-geral da sede de Xangai da Câmara.


Dois terços identificam a qualidade do ar com o maior desafio para atrair novos talentos. Cerca de 48 por cento dos participantes em uma pesquisa realizada em 2014 pela Câmara de Comércio dos EUA para a Pequim e Nordeste da China disseram que enfrentaram dificuldades para recrutar ou reter executivos seniores na China por causa da poluição.

Os níveis de PM2.5, as pequenas partículas que apresentam um risco enorme à saúde humana, permaneceram perigosos por uma semana neste ano em Pequim e atingiram o recorde de 35 vezes o limite recomendado pela OMS em 2013. James McGregor, presidente do conselho para a Grande China da consultoria APCO, conseguiu reter seus funcionários porque contrata principalmente locais. Mesmo assim, alguns clientes lhe disseram que está cada vez mais difícil atrair novos talentos.

“Pessoas talentosas conversaram comigo, mas desistiram de se estabelecer na China por causa da poluição do ar”, disse a diretora-geral da OMS Margaret Chan, em entrevista à Bloomberg TV, em março. “Acredito que as autoridades chinesas compreendem isso e sabem o que está acontecendo”.

Guerra contra o smog

O primeiro ministro chinês Li Keqiang disse que a poluição é um problema importante e que o governo vai declarar guerra contra o smog retirando de circulação os carros com altos níveis de emissão e fechando as caldeiras a carvão.

Quase dois terços dos ricos do país, aqueles com ativos de US$ 1,6 milhão ou mais, saíram ou planejam sair do país, de acordo com a Hurun Report, empresa de pesquisa com sede em Xangai que acompanha a riqueza do país. As preocupações ambientais estão entre as razões mais mencionadas por eles, segundo Kristin Shi-Kupfer, que investiga a sociedade chinesa no Instituto Mercator para Estudos da China, em Berlim.

Giambruno, que se mudou com suas filhas para a Flórida, está grata pelo ar puro que elas têm agora. Embora a distância e o traslado global representem um preço alto para ela e o marido “é lá que o trabalho está agora e ele tem um emprego excelente, em uma empresa bacana”, disse ela, que não quis comentar a remuneração ou dar detalhes sobre o trabalho do marido.

“Todas as vezes que eu saio com as meninas eu digo a elas que respirem fundo porque esse é o melhor cheiro que existe: ar puro”.

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