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Peña Nieto viaja e deixa um México enfurecido por chacina

O presidente partiu para uma viagem comercial à China e Austrália, enquanto o país está chocado e enfurecido pelo anúncio de massacre de 43 estudantes

Pessoas assistem a discurso do presidente do México, Enrique Peña Nieto, sobre desaparecimento de estudantes (Henry Romero/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2014 às 08h26.

México - O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, partiu neste domingo para uma viagem comercial de seis dias à China e à Austrália, deixando um país chocado e enfurecido pelo anúncio de que os 43 estudantes desaparecidos foram massacrados.

Peña Nieto decolou de madrugada rumo à China, onde assistirá à cúpula do Fórum de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec, na sigla em inglês), em meio à pior crise de seu governo desde que assumiu o cargo em 2012.

O governo federal tem sido duramente criticado por levar mais de uma semana para assumir a investigação e por ainda não ter, 44 dias depois dos desaparecimentos, provas sólidas e conclusivas do paradeiro dos jovens.

"A viagem é um escárnio. Mostra sua falta de qualidade moral, brincando com os sentimentos e com a dignidade de 43 estudantes, e é um sinal de que não tem a situação sob controle", criticou neste domingo o estudante Juan González, da escola da comunidade Ayotzinapa, no estado de Guerrero (sul), a mesma dos jovens desaparecidos.

A organização Anistia Internacional também criticou o presidente, afirmando que sua viagem mostra "pouco interesse em enfrentar a grave situação de direitos humanos no México ".

Polêmica por casa luxuosa

Quando já estava em viagem para a China, o presidente se viu envolvido em outra polêmica no México.

O site de notícias da jornalista Carmen Aristegui informou que a primeira-dama assinou um contrato em 2012 para a compra de uma luxuosa casa na Cidade do México que pertencia a uma empresa mexicana.

A empresa participa em um consórcio, liderado pela companhia China Railway Construction Corporation, que no dia 3 de novembro venceu a licitação pra construir o primeiro trem de alta velocidade no México e na América Latina por mais de 3,7 bilhões de dólares.

Apenas três dias depois, de forma abrupta, Peña Nieto decidiu revogar a concessão, após questionamentos da oposição sobre a transparência do processo de licitação, que teve apenas o consórcio como concorrente.

O gabinete de Peña Nieto reagiu com a informação de que a residência foi adquirida apenas pela primeira-dama, a popular ex-atriz de telenovelas Angélica Rivera. A investigação do site 'Aristegui Noticias' avaliou a propriedade em sete milhões de dólares.

Ataque ao palácio

Em uma mensagem à imprensa, divulgada em Anchorage, no Alasca, durante uma escala no trajeto, o presidente mexicano defendeu a polêmica viagem à Ásia e criticou os atos de violência nos protestos contra os assassinatos.

"Não participar de um evento como este seria agir com irresponsabilidade", explicou Peña Nieto, alegando que seu objetivo é ajudar o país a fazer acordos e tomar decisões que permitam "promover o desenvolvimento da nossa economia, revitalizá-la e gerar mais empregos".

O presidente Peña Nieto embarcou poucas horas depois de uma nova manifestação multitudinária, que terminou no ataque de um pequeno grupo radical ao emblemático Palácio Nacional, no coração da Cidade do México.

"É inaceitável que alguém possa usar essa tragédia para justificar sua violência. Não se pode exigir justiça, agindo com violência", disse Peña Nieto, sem mencionar os protestos.

"Quero reiterar minha solidariedade com as famílias (...) Compartilho sua tristeza e reitero que têm, invariavelmente, todo o apoio do governo", garantiu o presidente.

Na madrugada deste domingo, um grupo tentou derrubar a porta principal do Palácio Nacional. Pelo menos 20 pessoas, algumas com o rosto coberto, tentaram forçar as portas com pedaços de ferro, chegando a atear fogo na entrada com coquetéis molotov, sem conseguir entrar no palácio. O prédio é usado pelo presidente apenas para cerimônias oficiais.

Depois de cerca de duas horas e meia, policiais e homens da guarda presidencial retomaram a segurança do edifício, afastando os manifestantes.

Um porta-voz da Procuradoria Geral disse à AFP neste domingo que a polícia prendeu 14 pessoas que teriam vandalizado a porta do prédio colonial.

Boa parte dos milhares de manifestantes lamentaram que a marcha noturna, convocada nas redes sociais e realizada pacificamente, tenha terminado em atos de vandalismo.

Os familiares das vítimas permanecem acampados na escola de Ayotzinapa. Neste domingo, receberam a visita solidária de várias pessoas, que levaram comida, assim como de universitários e ativistas que lhes entregaram os cerca de 180 mil pesos (US$ 13 mil) que conseguiram arrecadar.

Também foram lidos poemas e cartas escritas por crianças. Muitos dos pais choraram de emoção com a homenagem.

Desde que assumiu, o presidente vem tentando deslocar a atenção nacional para sua agenda reformista, mas o crime de Iguala devolveu o México ao drama dos piores anos do combate contra o narcotráfico de seu predecessor Felipe Calderón.

Com essa viagem, o governo "vai tentar mudar a conversa de novo", avaliou o especialista em Segurança consultado pela AFP Alejandro Hope.

Peña Nieto sustenta que a violência caiu desde sua chegada ao poder, mas mais de 80 mil pessoas foram assassinadas no México, e outras 22 mil continuam desaparecidas, desde que Felipe Calderón lançou o combate militar contra os cartéis, em 2006. A maioria desses crimes segue impune.

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O governo federal tem sido duramente criticado por levar mais de uma semana para assumir a investigação e por ainda não ter, 44 dias depois dos desaparecimentos, provas sólidas e conclusivas do paradeiro dos jovens.

"A viagem é um escárnio. Mostra sua falta de qualidade moral, brincando com os sentimentos e com a dignidade de 43 estudantes, e é um sinal de que não tem a situação sob controle", criticou neste domingo o estudante Juan González, da escola da comunidade Ayotzinapa, no estado de Guerrero (sul), a mesma dos jovens desaparecidos.

A organização Anistia Internacional também criticou o presidente, afirmando que sua viagem mostra "pouco interesse em enfrentar a grave situação de direitos humanos no México ".

Polêmica por casa luxuosa

Quando já estava em viagem para a China, o presidente se viu envolvido em outra polêmica no México.

O site de notícias da jornalista Carmen Aristegui informou que a primeira-dama assinou um contrato em 2012 para a compra de uma luxuosa casa na Cidade do México que pertencia a uma empresa mexicana.

A empresa participa em um consórcio, liderado pela companhia China Railway Construction Corporation, que no dia 3 de novembro venceu a licitação pra construir o primeiro trem de alta velocidade no México e na América Latina por mais de 3,7 bilhões de dólares.

Apenas três dias depois, de forma abrupta, Peña Nieto decidiu revogar a concessão, após questionamentos da oposição sobre a transparência do processo de licitação, que teve apenas o consórcio como concorrente.

O gabinete de Peña Nieto reagiu com a informação de que a residência foi adquirida apenas pela primeira-dama, a popular ex-atriz de telenovelas Angélica Rivera. A investigação do site 'Aristegui Noticias' avaliou a propriedade em sete milhões de dólares.

Ataque ao palácio

Em uma mensagem à imprensa, divulgada em Anchorage, no Alasca, durante uma escala no trajeto, o presidente mexicano defendeu a polêmica viagem à Ásia e criticou os atos de violência nos protestos contra os assassinatos.

"Não participar de um evento como este seria agir com irresponsabilidade", explicou Peña Nieto, alegando que seu objetivo é ajudar o país a fazer acordos e tomar decisões que permitam "promover o desenvolvimento da nossa economia, revitalizá-la e gerar mais empregos".

O presidente Peña Nieto embarcou poucas horas depois de uma nova manifestação multitudinária, que terminou no ataque de um pequeno grupo radical ao emblemático Palácio Nacional, no coração da Cidade do México.

"É inaceitável que alguém possa usar essa tragédia para justificar sua violência. Não se pode exigir justiça, agindo com violência", disse Peña Nieto, sem mencionar os protestos.

"Quero reiterar minha solidariedade com as famílias (...) Compartilho sua tristeza e reitero que têm, invariavelmente, todo o apoio do governo", garantiu o presidente.

Na madrugada deste domingo, um grupo tentou derrubar a porta principal do Palácio Nacional. Pelo menos 20 pessoas, algumas com o rosto coberto, tentaram forçar as portas com pedaços de ferro, chegando a atear fogo na entrada com coquetéis molotov, sem conseguir entrar no palácio. O prédio é usado pelo presidente apenas para cerimônias oficiais.

Depois de cerca de duas horas e meia, policiais e homens da guarda presidencial retomaram a segurança do edifício, afastando os manifestantes.

Um porta-voz da Procuradoria Geral disse à AFP neste domingo que a polícia prendeu 14 pessoas que teriam vandalizado a porta do prédio colonial.

Boa parte dos milhares de manifestantes lamentaram que a marcha noturna, convocada nas redes sociais e realizada pacificamente, tenha terminado em atos de vandalismo.

Os familiares das vítimas permanecem acampados na escola de Ayotzinapa. Neste domingo, receberam a visita solidária de várias pessoas, que levaram comida, assim como de universitários e ativistas que lhes entregaram os cerca de 180 mil pesos (US$ 13 mil) que conseguiram arrecadar.

Também foram lidos poemas e cartas escritas por crianças. Muitos dos pais choraram de emoção com a homenagem.

Desde que assumiu, o presidente vem tentando deslocar a atenção nacional para sua agenda reformista, mas o crime de Iguala devolveu o México ao drama dos piores anos do combate contra o narcotráfico de seu predecessor Felipe Calderón.

Com essa viagem, o governo "vai tentar mudar a conversa de novo", avaliou o especialista em Segurança consultado pela AFP Alejandro Hope.

Peña Nieto sustenta que a violência caiu desde sua chegada ao poder, mas mais de 80 mil pessoas foram assassinadas no México, e outras 22 mil continuam desaparecidas, desde que Felipe Calderón lançou o combate militar contra os cartéis, em 2006. A maioria desses crimes segue impune.

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