Países da Primavera Árabe enfrentam zona de turbulência
Primavera Árabe deu lugar à violência, que corre o risco de se intensificar devido à falta de maturidade das novas classes políticas, temem especialistas
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2013 às 12h40.
Dubai - Derramamento de sangue no Egito , guerra civil na Síria , impasse político na Tunísia : a Primavera Árabe deu lugar à violência, que corre o risco de se intensificar devido à falta de maturidade das novas classes políticas, temem especialistas.
"Os países árabes estão entrando em um período de turbulência e de mudanças, que provavelmente será marcado por mais violência interna, polarização e concorrência regional", considera Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
No Egito, cerca de 900 pessoas, em sua grande maioria manifestantes que apoiavam o presidente deposto Mohamed Mursi, foram mortos em seis dias, e a violência experimentou uma nova escalada segunda-feira com um ataque contra a polícia na instável Península do Sinai.
A crise varreu quase todos os ganhos da revolta contra Hosni Mubarak em 2011, "especialmente o multipartidarismo com a entrada dos islâmicos na política e as primeiras eleições democráticas", ressalta Sophie Pommier, professora de Ciências Políticas.
"O Egito está indo de encontro a parede. Os atores são incapazes de firmar um compromisso político", considera essa especialista em Egito.
O chefe do Exército e novo homem-forte do Egito, o general Abdel Fatah al-Sissi, insistiu domingo que seu país não se curvará diante dos "terroristas", e o guia supremo da Irmandade Muçulmana, Mohammad Badie, acaba de ser preso.
"Se a Irmandade (Muçulmana) for dissolvida, atravessaremos uma linha vermelha", afirma Pommier.
"A grande questão é se a comunidade internacional também irá repetir seus erros, por medo do islamismo, ou baterá com o punho na mesa, dizendo aos militares que ninguém mais pode ser enganado por este tipo de estratégia", diz.
Para Emile Hokayem, as revoltas no mundo árabe "expuseram a imaturidade política das principais facções políticas", como mostra a breve experiência da Irmandade Muçulmana no poder no Egito, onde se mostrou "alienada" dos segmentos da sociedade em que deveria se apoiar.
A situação é ainda mais crítica na Síria, onde a violência provocou mais de 100 mil mortes e cerca de 2 milhões de refugiados, segundo a ONU, desde o início, em março de 2011, da revolta popular contra o presidente Bashar al-Assad que se transformou em insurreição armada.
"Ninguém pode vencer na Síria. Assad pode sobreviver a médio prazo e esperar que os seus inimigos se enfraqueçam, mas nunca será capaz de" ganhar a guerra, ressalta Emile Hokayem, que acaba de publicar um livro sobre o levante sírio.
Para ela, se um "desmembramento formal da Síria permanece improvável, uma divisão macia de fato do país em várias entidades menores (...) toma forma."
Para Nadim Shehadi, especialista em Chatham House, espera ainda mais violência na Síria e no Egito, na medida em que "os velhos regimes sabem como manipular a violência."
A Líbia também luta para recuperar a estabilidade, porque o ex-regime de Muammar Khaddafi "destruiu todas as instituições do país", segundo Shehadi.
E o impasse político também atingiu a Tunísia, onde nem a oposição nem os islamitas no poder cedem às suas exigências, apesar das negociações diretas e indiretas.
Apenas o Iêmen, único caso no mundo árabe onde a revolta levou a uma solução negociada, avança de alguma forma, sob a égide das Nações Unidas, no processo de reconciliação política.
Mas o diálogo nacional, que deveria ser concluído em setembro, estagnou em parte devido a espinhosa questão sulista, e as eleições gerais previstas para fevereiro de 2014 podem não acontecer.
"Serão necessários vários anos, senão décadas, para que a cultura política do mundo árabe reconheça que os mecanismos da democracia sozinhos não bastam e que são indispensáveis os valores da tolerância inclusão", considera Emile Hokayem.
Dubai - Derramamento de sangue no Egito , guerra civil na Síria , impasse político na Tunísia : a Primavera Árabe deu lugar à violência, que corre o risco de se intensificar devido à falta de maturidade das novas classes políticas, temem especialistas.
"Os países árabes estão entrando em um período de turbulência e de mudanças, que provavelmente será marcado por mais violência interna, polarização e concorrência regional", considera Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.
No Egito, cerca de 900 pessoas, em sua grande maioria manifestantes que apoiavam o presidente deposto Mohamed Mursi, foram mortos em seis dias, e a violência experimentou uma nova escalada segunda-feira com um ataque contra a polícia na instável Península do Sinai.
A crise varreu quase todos os ganhos da revolta contra Hosni Mubarak em 2011, "especialmente o multipartidarismo com a entrada dos islâmicos na política e as primeiras eleições democráticas", ressalta Sophie Pommier, professora de Ciências Políticas.
"O Egito está indo de encontro a parede. Os atores são incapazes de firmar um compromisso político", considera essa especialista em Egito.
O chefe do Exército e novo homem-forte do Egito, o general Abdel Fatah al-Sissi, insistiu domingo que seu país não se curvará diante dos "terroristas", e o guia supremo da Irmandade Muçulmana, Mohammad Badie, acaba de ser preso.
"Se a Irmandade (Muçulmana) for dissolvida, atravessaremos uma linha vermelha", afirma Pommier.
"A grande questão é se a comunidade internacional também irá repetir seus erros, por medo do islamismo, ou baterá com o punho na mesa, dizendo aos militares que ninguém mais pode ser enganado por este tipo de estratégia", diz.
Para Emile Hokayem, as revoltas no mundo árabe "expuseram a imaturidade política das principais facções políticas", como mostra a breve experiência da Irmandade Muçulmana no poder no Egito, onde se mostrou "alienada" dos segmentos da sociedade em que deveria se apoiar.
A situação é ainda mais crítica na Síria, onde a violência provocou mais de 100 mil mortes e cerca de 2 milhões de refugiados, segundo a ONU, desde o início, em março de 2011, da revolta popular contra o presidente Bashar al-Assad que se transformou em insurreição armada.
"Ninguém pode vencer na Síria. Assad pode sobreviver a médio prazo e esperar que os seus inimigos se enfraqueçam, mas nunca será capaz de" ganhar a guerra, ressalta Emile Hokayem, que acaba de publicar um livro sobre o levante sírio.
Para ela, se um "desmembramento formal da Síria permanece improvável, uma divisão macia de fato do país em várias entidades menores (...) toma forma."
Para Nadim Shehadi, especialista em Chatham House, espera ainda mais violência na Síria e no Egito, na medida em que "os velhos regimes sabem como manipular a violência."
A Líbia também luta para recuperar a estabilidade, porque o ex-regime de Muammar Khaddafi "destruiu todas as instituições do país", segundo Shehadi.
E o impasse político também atingiu a Tunísia, onde nem a oposição nem os islamitas no poder cedem às suas exigências, apesar das negociações diretas e indiretas.
Apenas o Iêmen, único caso no mundo árabe onde a revolta levou a uma solução negociada, avança de alguma forma, sob a égide das Nações Unidas, no processo de reconciliação política.
Mas o diálogo nacional, que deveria ser concluído em setembro, estagnou em parte devido a espinhosa questão sulista, e as eleições gerais previstas para fevereiro de 2014 podem não acontecer.
"Serão necessários vários anos, senão décadas, para que a cultura política do mundo árabe reconheça que os mecanismos da democracia sozinhos não bastam e que são indispensáveis os valores da tolerância inclusão", considera Emile Hokayem.