Estátua da Liberdade em Nova York: o fim dos EUA como o conhecemos? (Carlo Allegri/Reuters)
Guilherme Dearo
Publicado em 24 de abril de 2014 às 07h53.
São Paulo - Os Estados Unidos, não é surpresa para ninguém, se consideram o “farol do mundo” e “a maior nação do mundo”.
Não são palavras inventadas. Estavam, por exemplo, no Discurso da União de Barack Obama em 2011, em seu primeiro mandato.
Essa teoria de que algo de especial acontece nos Estados Unidos da América tem até nome: “American Excepcionalism” – a América Excepcional.
O primeiro a formular que os EUA eram uma nação diferente das outras, excepcional, foi o escritor francês Alexis de Tocqueville, nos anos 1830.
Com o passar dos anos, esse termo foi usado e citado de diferentes modos (até mesmo por Josef Stálin para criticar o partido socialista americano), mas sempre querendo dizer que os EUA agiam diferente do convencional - e da Europa.
Para o historiador Joyce Appleby, ele é “a forma peculiar de eurocentrismo que a América criou para si”.
Esse princípio, muitas vezes até próximo da teoria de “Destino Manifesto”, se mostrou muito presente durante a Guerra Fria e depois, quando os EUA ganharam o papel de líder global.
Os EUA acreditam que a eles cabe levar a liberdade a todos os cantos do globo.
Eles também acreditam que podem dar o exemplo ao mundo: de que são uma nação sem classes sociais estagnadas – onde, com estado controlado e economia livre, qualquer um pode ascender.
A religião organizada também é uma característica do excepcionalismo: a presença forte da crença cristã e um estado menos secular.
Em discursos recentes de políticos americanos, essa ideia é mais do que clara.
George W. Bush, em 2004, disse que a América não precisava de "permissão" para se proteger e espalhar a sua missão pelo mundo.
Já o candidato republicado derrotado em 2012 Mitt Romney disse que os EUA eram "um país excepcional com um destino e papel único no mundo".
Crise excepcional
Agora, muito se fala nos EUA se essa aura excepcional está desaparecendo.
Primeiro, a crise vem dos republicanos. Para eles, Obama e os democratas "descaracterizam" os EUA.
Muitos disseram que era o fim dessa característica quando, em 2011, Obama não usou o termo em seu Discurso da União.
Mitt Romney, candidato republicano em 2012, usou frequentemente a expressão “Obama não tem o mesmo sentimento que eu sobre o excepcionalismo americano”.
Segundo a Factiva, o termo apareceu 3 mil vezes em publicações em inglês durante a Era Bush. Já no mandato de Obama, sua menção saltou para 10 mil vezes.
Ou seja, voltou a ser discutido quando pareceu ameaçado.
Outro fator importante é o novo perfil demográfico dos EUA: mais hispânicos e imigrantes, mais jovens que cresceram vendo os desastres das guerras do Afeganistão e Iraque.
Outro ponto: a realidade econômica dos EUA não é mais a mesma no século 21.
Alguns estudos e estatísticas recentes mostram que o modo como os EUA se enxerga está mudando.