Ordem judicial retira da oposição venezuelana o controle de um de seus maiores partidos
Sentença ocorre dias após o anúncio de que o diplomata Edmundo González enfrentará o líder venezuelano nas eleições presidenciais
Agência de notícias
Publicado em 22 de abril de 2024 às 20h32.
O Tribunal Supremo da Venezuela (TSJ) entregou, nesta segunda-feira, o controle de um dos principais partidos opositores do país, o Primeira Justiça (PJ), a um ex-líder da sigla que havia sido expulso da organização e apontado como “colaborador” do governo do presidente Nicolás Maduro .
O PJ, partido de Henrique Capriles, duas vezes candidato presidencial, agora junta-se a outras organizações pertencentes à aliança opositora Plataforma Unitária Democrática (PUD) cujo controle foi concedido por via judicial a diretorias paralelas. No X, Capriles escreveu que “voltaram a usar o TSJ como braço executor de ilegalidades”.
“Forçar uma reestruturação via sentença é mais uma aberração do poder que não só viola direitos políticos, mas também busca confundir os venezuelanos nas próximas eleições e encobrir a rejeição que Maduro tem dentro de seu próprio partido e em todo o país”, afirmou Capriles. “Podem nomear ‘presidências ad hoc’ e cometer mais arbitrariedades, mas com isso não ganham simpatizantes. Pelo contrário, aumentam o desejo de participar e votar. Em ano eleitoral, a única coisa que buscam com essas ações é desmotivar e desmoralizar. Eles não vão conseguir”.
Cenário político da Venezuela
Analistas alertam que essas medidas estão em linha com o chavismo governante e buscam promover fraturas entre os adversários de Maduro. A sentença ocorre três dias depois de a PUD anunciar o diplomata Edmundo González Urrutia, de 76 anos, como candidato para enfrentar o líder venezuelano nas eleições presidenciais de 28 de julho, e um dia depois dele ter aceitado sua indicação. No domingo, em sua primeira mensagem pública após o anúncio, González escreveu que aceita a “imensa honra e responsabilidade de ser o candidato de todos aqueles que querem mudanças por meio de eleições”.
José Dionisio Brito, que recebeu o controle do PJ após decisão do tribunal, é um deputado que rompeu com a liderança tradicional da oposição em 2020, após ser acusado de corrupção. À imprensa local, ele afirmou que não busca influenciar a candidatura de González Urrutia, se limitando a dizer: “Não tenho nada a ver com isso”. A decisão do TSJ, no entanto, autoriza o PJ a “usar o cartão eleitoral” e os símbolos do partido e ordena ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) “abster-se de aceitar qualquer candidatura para processos eleitorais que não seja acordada” com a nova diretoria.
"Eles mandam fantoches vergonhosos acreditarem que podem assumir a liderança de um partido", disse a presidente do partido Primeira Justiça, María Beatriz Martínez, após a decisão do tribunal. "Podem ordenar o que quiserem oficialmente, no papel, a alguns bonecos, mas o que não vão fazer é dobrar a vontade e a convicção de alcançar a liberdade [na Venezuela]", continuou.
Sentenças similares foram emitidas em 2019 e 2020 contra o Vontade Popular, partido dos líderes exilados Leopoldo López e Juan Guaidó, além da Ação Democrática (AD) e do Comitê de Organização Política Eleitoral Independente (COPEI), que dominaram a cena política venezuelana desde a queda da ditadura de Marcos Pérez Jiménez (1951-1958) até a emergência do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013).
Candidato da oposição
A PUD confirmou, na sexta-feira, a candidatura de González Urrutia como representante da líder da oposição, María Corina Machado, nas eleições de 28 de julho, nas quais o presidente, Nicolás Maduro, disputará o terceiro mandato. González foi inscrito como “candidato provisório” da Plataforma Unitária Democrática após Corina Yoris, que substituiria Machado oficialmente, ter tido a candidatura barrada pelo órgão eleitoral. Ele, contudo, posteriormente teve sua inscrição aprovada “de forma unânime” pela PUD, decisão que o secretário-geral da aliança, Omar Barboza, classificou como “histórica”.
A PUD inscreveu González Urrutia como candidato presidencial no último minuto, após denunciar o bloqueio de Yoris. O processo foi feito em uma prorrogação concedida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao chavismo. A ideia era que o embaixador fosse substituído por um candidato “unânime”, mas, após um longo dia de reuniões na sexta-feira — realizada horas antes do prazo para substituir candidatos na cédula eleitoral — a decisão de manter o nome de González Urrutia foi tomada.
De acordo com o El país, pesquisas que circulam nas redes sociais já o colocaram em primeiro lugar, com o apoio de Machado, vencendo Maduro e outras opões com ampla margem.