Crianças sírias em um campo de refugiados: elas respondem por metade dos 2,2 milhões de refugiados sírios (Nikolay Doychinov/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2013 às 08h10.
Genebra - Elas respondem por metade dos 2,2 milhões de refugiados sírios registrados na região: uma geração inteira de crianças sírias traumatizadas, isoladas e privadas de educação, advertiu nesta sexta-feira a ONU em um relatório.
"Se não agirmos rapidamente, uma geração de pessoas inocentes será sacrificada por causa desta guerra terrível", alertou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Antonio Guterres, ao apresentar o primeiro estudo abrangente conduzido pelo ACNUR sobre as crianças sírias desde o início do conflito, em março de 2011.
"O mundo precisa agir para salvar da catástrofe uma geração de crianças sírias traumatizadas, isoladas e cercadas pelo sofrimento", alertou por sua vez a enviada especial do ACNUR, Angelina Jolie.
De acordo com o relatório, cerca de 294.300 crianças sírias encontraram refúgio na Turquia, 385.000 no Líbano, 291.200 na Jordânia, 77.120 no Iraque, 56.150 no Egito e mais de 7.600 na África do Norte.
Mais de 3.700 entre elas estão desacompanhadas ou foram separadas de seus pais. Além disso, mais de 70.000 famílias de refugiados sírios vivem sem o pai.
Os autores do estudo, que puderam entrevistar crianças sírias apenas na Jordânia e no Líbano, dizem ter recebido informações sobre meninos treinados para lutar quando retornarem para a Síria.
Além disso, constataram que muitas famílias de refugiados sem recursos financeiros enviam seus filhos para trabalhar e garantir a sua sobrevivência.
Na Jordânia e no Líbano, os pesquisadores descobriram que as crianças, algumas com apenas sete anos de idade, enfrentam longas horas de trabalho em troca de baixos salários e, muitas vezes, em condições perigosas.
Desta forma, no campo de refugiados jordaniano de Zaatari, a maioria dos 680 pequenos comércios empregam crianças.
E um estudo realizado em onze das doze províncias da Jordânia mostra que quase um em cada dois familiares de refugiados sobrevive em parte ou totalmente graças ao salário de uma criança.
Como resultado, a maioria das crianças sírias no exílio não vão à escola. Mais da metade das crianças em idade escolar que vivem na Jordânia não frequentam salas de aulas.
No Líbano, cerca de 200.000 crianças refugiadas sírias com idade suficiente para ir para a escola podem permanecer até o final de 2013 sem acesso à educação.
Outra sintoma que tem provocado grande preocupação é o grande número de bebês nascidos no exílio sem certidão de nascimento - um documento essencial para prevenir a apatridia.
Após quase 1.000 dias de um conflito que fez mais de 120.000 mortos, o ACNUR faz um apelo à comunidade internacional a apoiar os países vizinhos da Síria para manter suas fronteiras abertas e melhorar seus serviços de atendimento às vítimas do conflito.
Guterres pede ainda aos outros países que ofereçam mais habitações e admitam, por razões humanitárias, as famílias de refugiados com crianças gravemente feridas.