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ONU espreme recursos para encontrar saída pacífica na Síria

Em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos destinou boa parte de seus esforços no ano que termina a pôr em destaque o drama sírio

O presidente sírio Bashar al-Assad: a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos lamentou a capacidade do ser humano de repetir seus erros (Russia Today/AFP)
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Da Redação

Publicado em 11 de dezembro de 2012 às 17h31.

Genebra - A ONU espremeu em 2012 seus recursos para encontrar uma saída negociada para a Síria , cujo conflito mediado sem sucesso pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o levou a acusar a comunidade internacional de fechar os olhos para os graves crimes que estão sendo cometidos no país árabe.

Em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos destinou boa parte de seus esforços no ano que termina a pôr em destaque o drama sírio e a buscar um consenso internacional que permitisse deter uma guerra que faz o país sangrar desde março de 2011.

A aprovação de resoluções de condenação contra o regime de Bashar al Assad, acusado de crimes contra a Humanidade e crimes de guerra, se transformou em uma rotina na qual ficou clara a divisão da comunidade internacional e a impossibilidade de aumentar a pressão política ou militar sobre Damasco.

Genebra era o primeiro passo do processo, com penas estimuladas pelos países ocidentais e as monarquias do Golfo Pérsico e aprovadas por grande maioria, mas rechaçadas várias vezes por China e Rússia, que posteriormente bloqueavam qualquer tentativa de maior expressão no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Conselho de Direitos Humanos realizou três debates urgentes para debater o tema da Síria, que se defendeu das acusações e acusou o Ocidente de querer buscar desculpas para tentar uma mudança de regime e uma intervenção no país.

As resoluções do Conselho condenaram os crimes cometidos contra o povo sírio e autorizados por seus governantes, e defenderam entregar seus responsáveis à justiça internacional.


O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, chefiado pela sul-africana Navi Pillay, tem em seu poder há vários meses uma lista com nomes de líderes militares e governamentais sírios, e também de membros dos grupos armados de oposição, todos acusados de crimes contra a humanidade.

A lista foi elaborada pela comissão dirigida pelo jurista brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que emitiu três relatórios até o momento, mas não pôde ainda visitar o país, baseando suas conclusões à distância.

Na primavera pareceu se abrir um resquício de esperança em torno da possibilidade de que a via diplomática funcionasse, com a nomeação como enviado especial da ONU e da Liga Árabe de Kofi Annan, que conseguiu das partes um cessar-fogo em abril. Mas o cessar-fogo durou pouco, e o envio de centenas de "boinas azuis" ao país não serviu para deter a violência.

Em junho, a comissão de investigação admitiu pela primeira vez que o que ocorria na Síria apresentava as características de uma guerra civil, e naquele mesmo mês Annan conseguia convocar uma reunião internacional em Genebra para pedir às partes a aceitar a criação de um governo de transição em Damasco.

Porém, o acordo do denominado "Grupo de Ação para a Síria" se diluiu porque a violência aumentou, forçando a saída gradual dos "boinas azuis" que integraram a Missão de Observação da ONU na Síria (UNSMIS).

Annan viajou incansavelmente a Damasco, Moscou, Pequim e às capitais ocidentais para tentar acumular apoios. Mas, na última semana de julho, seu porta-voz, Ahmad Fawzi, convocou de surpresa a imprensa para anunciar, "em off", que seu chefe estava a ponto de renunciar após constatar que nem as partes em conflito nem os principais agentes da comunidade internacional estavam trabalhando para encontrar uma solução.


A paciência de Annan se esgotou depois que China e Rússia voltaram a exercer seu duplo veto no Conselho de Segurança em 19 de agosto para rejeitar novas sanções econômicas à Síria.

A renúncia não demorou a chegar. No dia 2 de agosto, o diplomata ganês jogou a toalha após chegar à conclusão de que nas circunstâncias atuais é impossível uma saída política.

"É impossível para mim ou para qualquer outra pessoa convencer o governo e a oposição a dar os passos necessários para abrir um processo político", disse Annan em entrevista coletiva.

Cinco meses durou o período de mediação de Annan, crítico com os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Rússia, EUA, França e Reino Unido), aos quais acusou de "trocar desqualificações quando necessitávamos de ações".

Annan previu que a violência continuaria, e apenas um mês depois a ONU admitiu que militantes jihadistas procedentes de diversos países e com uma agenda própria estavam radicalizando o conflito armado na Síria.

As palavras parecem ter se esgotado, e o conflito na Síria, apesar do drama humanitário que expulsou de seus lares 2 milhões de civis, começou a ter menor presença nos debates da ONU nos últimos meses do ano, em um reconhecimento implícito de que o caso terá um final militar.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos lamentou a capacidade do ser humano de repetir seus erros e pediu que fosse lembrado o que aconteceu há 20 anos nos Bálcãs.

Em uma de suas raras entrevistas coletivas, Pillay pediu que não fosse necessário uma "nova Srebrenica" (cidade bósnia na qual foram assassinados milhares de civis em 1995) para que a comunidade internacional se decida a deter o conflito na Síria.

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Genebra - A ONU espremeu em 2012 seus recursos para encontrar uma saída negociada para a Síria , cujo conflito mediado sem sucesso pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o levou a acusar a comunidade internacional de fechar os olhos para os graves crimes que estão sendo cometidos no país árabe.

Em Genebra, o Conselho de Direitos Humanos destinou boa parte de seus esforços no ano que termina a pôr em destaque o drama sírio e a buscar um consenso internacional que permitisse deter uma guerra que faz o país sangrar desde março de 2011.

A aprovação de resoluções de condenação contra o regime de Bashar al Assad, acusado de crimes contra a Humanidade e crimes de guerra, se transformou em uma rotina na qual ficou clara a divisão da comunidade internacional e a impossibilidade de aumentar a pressão política ou militar sobre Damasco.

Genebra era o primeiro passo do processo, com penas estimuladas pelos países ocidentais e as monarquias do Golfo Pérsico e aprovadas por grande maioria, mas rechaçadas várias vezes por China e Rússia, que posteriormente bloqueavam qualquer tentativa de maior expressão no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Conselho de Direitos Humanos realizou três debates urgentes para debater o tema da Síria, que se defendeu das acusações e acusou o Ocidente de querer buscar desculpas para tentar uma mudança de regime e uma intervenção no país.

As resoluções do Conselho condenaram os crimes cometidos contra o povo sírio e autorizados por seus governantes, e defenderam entregar seus responsáveis à justiça internacional.


O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, chefiado pela sul-africana Navi Pillay, tem em seu poder há vários meses uma lista com nomes de líderes militares e governamentais sírios, e também de membros dos grupos armados de oposição, todos acusados de crimes contra a humanidade.

A lista foi elaborada pela comissão dirigida pelo jurista brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que emitiu três relatórios até o momento, mas não pôde ainda visitar o país, baseando suas conclusões à distância.

Na primavera pareceu se abrir um resquício de esperança em torno da possibilidade de que a via diplomática funcionasse, com a nomeação como enviado especial da ONU e da Liga Árabe de Kofi Annan, que conseguiu das partes um cessar-fogo em abril. Mas o cessar-fogo durou pouco, e o envio de centenas de "boinas azuis" ao país não serviu para deter a violência.

Em junho, a comissão de investigação admitiu pela primeira vez que o que ocorria na Síria apresentava as características de uma guerra civil, e naquele mesmo mês Annan conseguia convocar uma reunião internacional em Genebra para pedir às partes a aceitar a criação de um governo de transição em Damasco.

Porém, o acordo do denominado "Grupo de Ação para a Síria" se diluiu porque a violência aumentou, forçando a saída gradual dos "boinas azuis" que integraram a Missão de Observação da ONU na Síria (UNSMIS).

Annan viajou incansavelmente a Damasco, Moscou, Pequim e às capitais ocidentais para tentar acumular apoios. Mas, na última semana de julho, seu porta-voz, Ahmad Fawzi, convocou de surpresa a imprensa para anunciar, "em off", que seu chefe estava a ponto de renunciar após constatar que nem as partes em conflito nem os principais agentes da comunidade internacional estavam trabalhando para encontrar uma solução.


A paciência de Annan se esgotou depois que China e Rússia voltaram a exercer seu duplo veto no Conselho de Segurança em 19 de agosto para rejeitar novas sanções econômicas à Síria.

A renúncia não demorou a chegar. No dia 2 de agosto, o diplomata ganês jogou a toalha após chegar à conclusão de que nas circunstâncias atuais é impossível uma saída política.

"É impossível para mim ou para qualquer outra pessoa convencer o governo e a oposição a dar os passos necessários para abrir um processo político", disse Annan em entrevista coletiva.

Cinco meses durou o período de mediação de Annan, crítico com os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Rússia, EUA, França e Reino Unido), aos quais acusou de "trocar desqualificações quando necessitávamos de ações".

Annan previu que a violência continuaria, e apenas um mês depois a ONU admitiu que militantes jihadistas procedentes de diversos países e com uma agenda própria estavam radicalizando o conflito armado na Síria.

As palavras parecem ter se esgotado, e o conflito na Síria, apesar do drama humanitário que expulsou de seus lares 2 milhões de civis, começou a ter menor presença nos debates da ONU nos últimos meses do ano, em um reconhecimento implícito de que o caso terá um final militar.

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos lamentou a capacidade do ser humano de repetir seus erros e pediu que fosse lembrado o que aconteceu há 20 anos nos Bálcãs.

Em uma de suas raras entrevistas coletivas, Pillay pediu que não fosse necessário uma "nova Srebrenica" (cidade bósnia na qual foram assassinados milhares de civis em 1995) para que a comunidade internacional se decida a deter o conflito na Síria.

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