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Mundo vive “estresse hídrico” e nem as grandes economias escapam, alerta estudo

Relatório da consultoria Maplecroft mostra que o uso insustentável da água põe em risco negócios, agricultura e populações em países pobres, ricos e emergentes

Tianlin, na China: município tem sofrido com graves secas nos últimos três anos (Getty Images)

Tianlin, na China: município tem sofrido com graves secas nos últimos três anos (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 22 de maio de 2012 às 11h41.

São Paulo – A equação é de assustar. Embora repleto de rios, mares e oceanos, o planeta Terra tem apenas 3% de água doce disponível para o consumo de cerca de 7 bilhões de pessoas. Abundante em alguns países, escasso em outros, esse recurso natural essencial para a sobrevivência humana é usado intensamente pela agricultura, indústria e em atividades domésticas – só que de forma cada vez mais insustentável.

É o que alerta um novo relatório da consultoria britânica de risco Maplecroft, que avaliou a pressão sobre a demanda de água em mais de 160 países. O resultado precoupa. Economias em crescimento como China e Índia, e até mesmo a maior do mundo, Estados Unidos, são identificadas pela empresa de análise tendo grandes regiões geográficas e setores da economia onde a demanda de água está superando a oferta.

Segundo a Maplecroft, a situação tem o potencial de limitar o crescimento econômico, restringindo atividades empresariais e agrícolas. E à medida que aumenta a insegurança hídrica, cresce também o medo em relação à capacidade de produzir alimentos suficientes para alimentar o mundo.

China

Atenta à questão, a China está tomando medidas importantes para minimizar os riscos de escassez de água em suas províncias através de um ambicioso projeto de desvio destinado a bombear água do rio Yangtze para Pequim através de uma série de canais, que garantem o abastecimento de um quarto da água da cidade até 2014. No entanto, devido à espiral crescente de custos – até agora já foram gastos US$ 22 bilhões - e incertezas sobre os efeitos futuros da mudança climática sobre o abastecimento de água no sul do país, veem surgindo dúvidas sobre a sustentabilidade da empreitada no longo prazo.

Índia

A Índia, por sua vez, extrai mais água subterrânea do que qualquer outro país do mundo. Na média global, 56% dessa água é usada na agricultura. Acontece que na Índia essa parcela vai a 90%, devido às condições climáticas da região. Como um dos maiores produtores de arroz, trigo, batata e cana-de-açúcar em todo o mundo, o uso continuado insustentável de fornecimento de água subterrânea tem o potencial de reduzir as colheitas agrícolas, com implicações desastrosas para os preços globais dos alimentos.


"O bombeamento de águas subterrâneas é uma opção politicamente atraente para aliviar questões de curto prazo de estresse hídrico, mas tem graves consequências a longo prazo", afirma Charlie Beldon, analista da Maplecroft. "As fontes podem secar ou água salgada pode acabar sendo ‘arrastada’ para a oferta, tornando o recurso inútil para o consumo comercial, doméstico e agrícola".

Estados Unidos

Embora os EUA sejam classificados pela Maplecroft como "risco médio", grandes áreas do país já estão sofrendo com o esgotamento das reservas de água do solo, incluindo estados como Arizona, Califórnia, Kansas, Nebraska, Novo México e Texas. De acordo com o estudo, o Aquífero Ogallala, que se estende pelas regiões altas de planícies dos EUA, é responsável por 30% do fornecimento de água para irrigação total no país.

No entanto, a fonte está se esgotando rápido. Ao menos 15% da produção de milho e trigo nacional, bem como 25% das culturas de algodão, dependem dele. Os efeitos sobre a produção agrícola dos Estados Unidos precoupam, já que póderiam causar uma inflação significativa nos mercados globais de commodities. “Os efeitos do estresse hídrico sobre a inflação mundial de alimentos são ilustrados pelos recentes aumentos dos preços para a soja”, diz o estudo.

Onde a corda arrebenta

Há um dito popular que diz que "a corda sempre arrebenta do lado mais fraco...". Essa frase reflete bem a situação atual de “estresse hídrico” do mundo. A falta de acesso à água potável vem pesando sobre os países mais pobres ou marcados por histórico de conflitos militares, instabilidades políticas e sociais. Segundo o levantamento da Maplecroft, os países do Oriente Médio e África são os mais vulneráveis à falta de água. Nessas regiões, cada gota pode emergir como uma nova fonte de instabilidade.

Em alguns dos maiores produtores de petróleo do mundo, como Kwait e Arábia Saudita, a escassez de água vem se tornando crítica há gerações. Primeiro colocado na lista de 10 países em “risco extremo” de falta d´água, Bahrein, no Golfo Pérsico, usa águas subterrâneas para a prática da horticultura, porém, em quantidade insuficiente para atender toda a população. A deterioração dos lençóis subterrâneos de água já é uma das principais preocupações nacionais.

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