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Milícias de Gaza são reforçadas para confronto com Israel

O alcance do poderio militar do Hamas, e de outras pelo menos 13 milícias e grupos armados que operam na região é difícil de calcula

Só ao Hamas, os serviços de inteligência israelenses atribuem a posse de 12 mil foguetes, 90% de um alcance de entre oito e 40 quilômetros (Said Khatib/AFP)
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Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2012 às 21h55.

Jerusalém - As milícias que operam na Faixa de Gaza conseguiram reforçar sua capacidade ofensiva e de defesa nos últimos anos com o contrabando de armas do Sinai e graças à instabilidade em diferentes países do mundo árabe.

''Ninguém sabe o que o futuro esconde'', disse Abu Ahmed, porta-voz das Brigadas de Izz al-Din al-Qassam, braço armado do Hamas, em entrevista por telefone à Agência Efe na qual expressou seu receio de Israel , ''um inimigo no qual não se pode confiar''.

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''A escalada é esperada para qualquer momento, vemos todos os meses que há assassinatos (de milicianos) por este inimigo, pequenas incursões por terra (em Gaza) e tentativas diárias de arrastar os milicianos para uma guerra'', acrescentou.

O alcance do poderio militar do Hamas, e de outras pelo menos 13 milícias e grupos armados que operam na região é difícil de calcular, mas, segundo os serviços de inteligência israelenses, poderia chegar a mais de 20 mil foguetes de diferentes tipos.

Só ao Hamas, os serviços de inteligência israelenses atribuem a posse de 12 mil foguetes, 90% de um alcance de entre oito e 40 quilômetros.

Um raio que se ampliaria até Tel Aviv se estiverem certas as recentes suspeitas israelenses de que sofisticados foguetes do arsenal líbio chegaram à faixa, depois da queda do regime do coronel Muammar Kadafi.

Ahmed, assim como outros líderes de grupos armados, rejeita fazer o mínimo comentário sobre um assunto que considera de alta sensibilidade: o arsenal palestino.

É um dos segredos melhor guardados em Gaza, como também as vias de entrada e o nome dos envolvidos no contrabando.

O que sim é conhecido são as principais vias de abastecimento, a mais importante delas a fronteira com o Egito, onde os túneis subterrâneos foram avaliados entre 800 e 1.200.


A segunda via tenta burlar o bloqueio marítimo que Israel impôs à Faixa de Gaza em 2007 e a terceira consiste na fabricação local de armas em oficinas bem escondidas.

''Esse é nosso destino, fazemos o que podemos para enfrentar o inimigo, que tem um poderio muito superior ao nosso'', explica Ahmed.

A estratégia do Hamas, que deixou em suspenso sua política de atentados suicidas em um acordo não escrito com Israel em 2004, consiste nos últimos anos na dissuasão com uma arma relativamente barata e fácil de portar: os foguetes de curto e médio alcance.

''Nossa capacidade é muito limitada e com essa simples arma tentamos causar dano ao inimigo que mata nossa gente'', ressaltou o miliciano.

Na última década, asseguram especialistas da Inteligência israelense, o Hamas também se abasteceu de sistemas de foguetes no Irã, que representam uma maior ameaça para um milhão de civis que vivem no raio de 50 quilômetros ao redor da faixa.

Abu Ahmed assegura que com o tempo chegaram a ''conhecer o ponto fraco do inimigo e saber como, onde e quando realizar nossos ataques e disparar nossos foguetes''.

''Por isso não acho que seja relevante falar de quão grande ou pequeno é nosso arsenal'', comentou Ahmed.

A primeira vez que o Hamas disparou um de seus foguetes contra solo israelense foi em 2001, um pequeno projétil sem ogiva conhecido pelo nome de Qasam, fabricado em oficinas precárias e com um alcance de cerca de três quilômetros.

Uma década depois, com mais de 13 mil lançamentos contra Israel, segundo o Exército, os engenheiros do movimento islamita ampliaram o alcance do Qasam para dez quilômetros, o peso de sua ogiva de 0,5 quilo para 20 quilos, melhorando sua precisão.

Também conseguiram encaixar outros mais sofisticados adquiridos no exterior e introduzidos pelos túneis de Rafah, entre eles os Grad de 122 milímetros e 23 quilos de ogiva.

Mas a grande incógnita é o arsenal da Jihad Islâmica, com um braço armado muito menor, versátil e escorregadio.

Os últimos ciclos de violência com Israel foram liderados por esta organização, que tem uma capacidade de reação quase imediata ao não temer, como no caso do Hamas, represálias contra seus líderes militares e políticos.

Em qualquer circunstância, todas as milícias acreditam que a trégua feita com Israel quando uma operação militar terminou em 2009 - que causou 1.400 baixas na faixa, pelo menos a metade civis - não durará.

Adnan Abu Amr, analista em movimentos islâmicos, explicou à Efe que há uma certa ''paranoia'' sobre que Israel lançará outra ofensiva a qualquer momento e ''com essa preocupação, tentam todo o tempo melhorar sua capacidade militar''.

''Acreditam que a próxima guerra em Gaza será muito mais destrutiva e, por isso, querem estar preparados para evitar surpresas'', argumentou o analista.

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