Milhões de crianças podem ser expostas a trabalho infantil, diz ONU
Com o fechamento de escolas afetando 1 bilhão de estudantes por causa do coronavírus, tendência é aumento da atividade forçada, diz relatório
Agência O Globo
Publicado em 12 de junho de 2020 às 21h00.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o avanço da pandemia do novo coronavírus pode levar milhões de crianças ao trabalho infantil. Hoje, essa atividade já afeta 152 milhões de crianças e adolescentes no mundo, diz a entidade.
Segundo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho infantil vem aumentando com o fechamento de escolas devido à pandemia, Esse fechamento afetou mais de 1 bilhão de jovens em cerca de 130 países até o momento.
"Mesmo quando as aulas recomeçarem, alguns pais podem não ter mais condições de enviar seus filhos para a escola”, alertaram a OIT e a Unicef em uma declaração conjunta.
- À medida que a pandemia afeta a renda familiar, se não tiverem ajuda, muitos podem recorrer ao trabalho infantil - disse Guy Ryder, diretor geral da OIT. - A proteção social é vital em tempos de crise, pois fornece assistência às pessoas mais vulneráveis nesses momentos.
De acordo com o relatório, com o avanço do coronavírus e sem estudos, mais crianças podem ser "forçadas a trabalhar em atividades perigosas, e as desigualdades de gênero podem se tornar mais agudas, com as meninas particularmente vulneráveis à exploração na agricultura e no trabalho doméstico”.
O problema é particularmente grave na África, onde uma em cada cinco crianças está envolvida em trabalho infantil. Mas a exposição a ele também pode ser intensa em regiões como a América Latina, segundo informe da OIT e da Cepal.
"A desaceleração da produção, o desemprego, a baixa cobertura da proteção social, a falta de acesso à seguridade social e os níveis mais altos de pobreza são condições que favorecem o aumento do trabalho infantil" na América Latina e no Caribe, afirmam.
O relatório, publicado no Dia Internacional Contra o Trabalho Infantil, insta os governos da região a tomarem medidas para evitar esse cenário.
"Os indicadores de trabalho infantil e adolescente podem aumentar significativamente se estratégias não forem implementadas para reduzir o impacto", enfatiza o documento.
Na América Latina, o percentual de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos que trabalham caiu de 10,8% em 2008 para 7,3% em 2016, uma redução de 3,7 milhões de pessoas, para o número atual de 10, 5 milhões.
Mas o aumento do desemprego e da pobreza com a pandemia levará as famílias a buscar renda através do trabalho infantil, em meio à incerteza sobre as perspectivas de emprego.
"Com isso, pelo menos entre 109 mil e 326 mil crianças e adolescentes podem ser forçados a trabalhar", afirma o estudo.