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México: os bilhões perdidos no tráfico

Se as reformas recentes impulsionaram o México, um antigo fantasma continua vivíssimo – a violência do crime organizado em torno do tráfico de drogas e de armas para os Estados Unidos. De acordo com o Instituto para a Economia e a Paz (IEP), a chamada “guerra das drogas” custou cerca de 110 bilhões de dólares […]

TÚNEL ENTRE MÉXICO E EUA: a chamada “guerra das drogas” custou cerca de 110 bilhões de dólares no ano passado — ou 19% do PIB / Sandy Huffaker

TÚNEL ENTRE MÉXICO E EUA: a chamada “guerra das drogas” custou cerca de 110 bilhões de dólares no ano passado — ou 19% do PIB / Sandy Huffaker

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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2016 às 11h02.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h53.

Se as reformas recentes impulsionaram o México, um antigo fantasma continua vivíssimo – a violência do crime organizado em torno do tráfico de drogas e de armas para os Estados Unidos. De acordo com o Instituto para a Economia e a Paz (IEP), a chamada “guerra das drogas” custou cerca de 110 bilhões de dólares no ano passado — ou 19% do PIB. O cálculo inclui os gastos com operações militares e policiais, o sistema de Justiça, tratamentos médicos, perda de produtividade e impacto negativo sobre a atividade econômica. Já foi pior, no entanto. Em 2011, no auge da “guerra”, esse custo era de 160 bilhões de dólares. A violência tem caído ano a ano. Em 2015, a queda foi de 9,5%. Se o ritmo de diminuição da violência desde 2011 se mantiver, o IEP calcula que até 2020 o país poderá economizar 300 bilhões de dólares.

“A violência afeta, sim, o crescimento econômico, e afugenta o investimento privado”, reconhece o embaixador Andrés Rozental, consultor e membro de conselhos de administração no México, no Brasil e no Canadá. “Mesmo com seus problemas políticos recentes, o Brasil atrai mais que o dobro do investimento estrangeiro que o México atrai. Ainda que muitas empresas descontem o item violência como custo para fazer negócios em muitos países do mundo onde têm operações, não cabe dúvida de que o problema serve de desincentivo na hora de tomar decisões sobre investimentos em países que competem com o México.”

Em 2014, o investimento estrangeiro direto no Brasil alcançou 62 bilhões de dólares e no México 22,6 bilhões de dólares. “A violência é um questionamento diário à estabilidade econômica, porque é um lembrete de que o governo não pode aplicar a lei em uma parte muito importante do território nacional”, concorda Rogelio Ramírez de la O, diretor da consultoria Ecanal.

Rozental aponta outro “problema estrutural sério”: quase 50% da economia opera na informalidade, não paga impostos e oferece empregos instáveis e de baixa qualidade. Já Ramírez chama a atenção para o problema da corrupção. Somada à violência, ela mina a credibilidade das instituições, segundo o consultor, o que prejudica os investimentos externos e, com eles, a atividade econômica. “Nossos maiores desafios não são Donald Trump nem a violência”, assegura Juan Pardinas, diretor-geral do Instituto Mexicano para a Competitividade. “Os maiores obstáculos ao crescimento econômico são a corrupção e um débil Estado de Direito.”

“O México tem uma economia sólida graças a um complexo processo de reformas que teve início nas últimas décadas do século 20, sobretudo no que se refere ao equilíbrio fiscal e ao livre comércio”, avalia Pardinas. “A estabilidade macroeconômica, a livre flutuação da moeda, a inflação baixa e a abertura comercial têm dado ao México a capacidade de enfrentar crises globais (2008-2009) e o choque financeiro sobre os países produtores de petróleo. Entretanto, o índice de crescimento é positivo, mas medíocre.”

O modelo de crescimento é uma preocupação para Ramírez. “Fala-se que o motor do crescimento é o consumo interno, mas na realidade é a depreciação do peso combinada com uma participação alta das exportações e com um crescimento muito baixo das importações devido ao incremento reduzido do investimento”, analisa o consultor. “As reformas estruturais não contribuíram com mais crescimento, que continua dependendo de fatores tradicionais, como o crescimento dos Estados Unidos e o aumento do crédito da banca comercial.”

Ramírez adverte que a depreciação da moeda causa perdas nos fundos estrangeiros que investiram nos papéis em pesos, “e isso os distanciará desse mercado por vários anos”. Além do mais, a queda da moeda local eleva o custo do serviço da dívida externa pública e privada, o que inibe os investimentos e pressiona ainda mais o peso. E é ainda “um trauma para o setor privado, abala a credibilidade do governo e a estabilidade macroeconômica”. Há muito para avançar no México. Mas pelo menos ele está na direção certa.

(Lourival SAnt’Anna) 

 

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