Mundo

Mais um ano perdido na busca pela paz no Afeganistão

Com o processo de retirada da Otan cada vez mais avançado, a Comissão Eleitoral do país anunciou a convocação de eleições presidenciais para 2014


	Cabul, no Afeganistão: as forças afegãs falharam também em impedir ataques coordenados dos talibãs
 (Getty Images/Getty Images)

Cabul, no Afeganistão: as forças afegãs falharam também em impedir ataques coordenados dos talibãs (Getty Images/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 17h46.

Cabul - O Afeganistão vai se lembrar de 2012 como mais um ano marcado pela violência e pelo confronto no qual Cabul e a comunidade internacional fracassaram em conseguir um acordo com os talibãs para definir o futuro político do país.

Com o processo de retirada da Otan cada vez mais avançado, a Comissão Eleitoral do país anunciou a convocação de eleições presidenciais para 2014, ano no qual as forças aliadas concluirão a transferência da segurança às instituições militares afegãs.

Este pleito representará a saída de Hamid Karzai após mais de uma década no poder, pois a Constituição afegã não permite um terceiro mandato, e o próprio presidente afirmou que não tem a intenção de mudar as regras para se perpetuar no cargo.

"É improvável que o presidente estenda seu mandato. Fazê-lo levaria certamente à perda do apoio internacional e daria margem" a tensões internas, disse à Agência Efe o analista político Omar Sharifi.

Em março, os talibãs suspenderam o processo de diálogo que no começo do ano tinham iniciado com os EUA através de um escritório no Catar com o receio do governo de Karzai.

Após este episódio, o consolo para Cabul chegou recentemente, e como uma surpresa, de seu incômodo vizinho Paquistão, cujos órgãos de segurança eram acusados de abrigar e apoiar facções insurgentes que operam em solo afegão.

Em novembro, Islamabad pôs em liberdade nove líderes talibãs para facilitar o processo de paz no Afeganistão, um gesto que oferece uma esperança de que as autoridades paquistanesas mudem sua atitude no conflito.


O ano de 2012 deixou também a marca de uma aliança estratégica com os EUA, que garante um certo apoio além da retirada de seus soldados, e a consolidação dos laços com a Índia, principal aliado regional de Cabul.

Estes avanços diplomáticos não serviram, por outro lado, ao governo para conseguir a simpatia do povo e dos observadores externos, que veem o ano terminar com problemas em temas como segurança, corrupção e luta contra o narcotráfico.

A comunidade internacional acusou constantemente Karzai de não combater com determinação as práticas corruptas de sua administração, que mancharam vários de seus subordinados.

Em julho, por exemplo, o ex-chefe do banco público Pashtany Bank, Hayatulah Dayani, foi condenado a 20 anos de prisão por desvio de fundos no valor de US$ 26 milhões.

Karzai realizou algumas reformas, mais de aspecto cosmético que conteúdo revolucionário, mas estes esforços não conseguiram encontrar aprovação.

Além disso, os cultivos de ópio, muito ligados às áreas sob influência talibã, como as conflituosas províncias do sul, continuam a ser um desafio de primeira ordem, apesar do aumento exponencial das campanhas governamentais de sua erradicação.

Apenas as pragas e o mau tempo fizeram com que diminuísse mais de um terço a produção de ópio no país, origem de mais de 90% desta droga em escala mundial.


Um ano e meio depois do começo da retirada gradual das forças da Otan, o exército e a polícia afegãos já têm aproximadamente o controle da segurança em 75% do território do país.

No entanto, os cidadãos ainda não se sentem confiantes nestas jovens instituições, que deram mostras de ter pontos muito frágeis, entre os quais a infiltração insurgente, a dissidência ou a indisciplina.

A estes fatores devem ser atribuídas a morte de mais de 50 soldados da Otan neste ano por parte de membros dessas forças, uma tendência que alertou a organização.

As forças afegãs falharam também em impedir ataques coordenados dos talibãs, que apesar de terem tendência maior a atentados suicidas ou colocação de bombas em estradas, fizeram ações espetaculares em Cabul e outras cidades.

"Os ataques dos talibãs põem muita pressão, mas o medo de que tomem o poder é mais imaginário que uma realidade", ponderou Sharifi. 

Acompanhe tudo sobre:AfeganistãoÁsiaGuerrasOriente Médio

Mais de Mundo

1ª cápsula de suicídio assistido pode ser usada neste ano, na Suíça; saiba mais sobre o processo

Eleições nos EUA: por que escolha de vice de Trump foge do padrão

Vice de Trump aumenta preocupação na Ucrânia sobre futuro do apoio dos EUA

Argentina nega 'ressentimento' de Milei por comentários sobre o presidente na Cúpula do Mercosul

Mais na Exame