Mundo

Macron descarta renúncia 'seja qual for o resultado' das legislativas antecipadas

Presidente francês dissolveu o parlamento depois de extrema direita ganhar a maioria das cadeiras

O presidente da França, Emmanuel Macron em transmissão ao vivo  (AFP/AFP)

O presidente da França, Emmanuel Macron em transmissão ao vivo (AFP/AFP)

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 11 de junho de 2024 às 12h00.

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que não renunciará "seja qual for o resultado" das eleições legislativas antecipadas, que ele convocou após a vitória da extrema direita nas eleições europeias, ao mesmo tempo que prosseguem as negociações entre partidos para a formação de alianças.

"As instituições são claras e o lugar do presidente também, seja qual for o resultado", declarou Macron à revista Figaro Magazine ao ser questionado sobre o risco de o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) pedir sua renúncia após as eleições.

Apesar da antecipação inesperada das legislativas, previstas inicialmente apenas para 2027, Macron pode continuar como presidente até o fim do mandato, mas corre o risco de dividir o poder com um governo de outra tendência política, em uma "coabitação".

A cinco dias do fim do prazo para o registro de candidaturas, o presidente do partido conservador Os Republicanos (LR), Éric Ciotti, surpreendeu nesta terça-feira ao defender uma "aliança" com o RN, apesar da rejeição de vários líderes de sua legenda, que pediram inclusive sua renúncia.

"Precisamos de uma aliança com o Reunião Nacional, mas sem deixarmos de ser nós mesmos", afirmou Ciotti em uma entrevista ao canal TF1, garantindo os partidos têm uma visão conjunta dos "valores de direita" e que isso permitiria "conservar deputados", ante a queda projetada pelas pesquisas.

A líder do RN, Marine Le Pen, elogiou a "escolha corajosa" e o "senso de responsabilidade" de Ciotti, cuja proposta, caso seja concretizada, acabaria com o tradicional isolamento do partido que é herdeiro da Frente Nacional (FN) de Jean-Marie Le Pen, conhecido por suas declarações racistas.

A sugestão, no entanto, representou um terremoto político no partido que já governou o país com os presidentes conservadores Charles De Gaulle, Georges Pompidou, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy. Muitos políticos trocaram a legenda pelo partido de Macron desde 2017.

Emmanuel Macron chegou ao poder em 2017 com um discurso de centro, o que atraiu os descontentes com a tradicional alternância de poder entre socialistas e conservadores. Desde então, ele também tenta estabelecer distância dos "extremos" que seriam representados, em sua opinião, por RN e França Insubmissa (LFI, esquerda radical).

Apesar da queda de popularidade do presidente centrista, cujos mandatos são marcados por fortes protestos sociais como os dos 'coletes amarelos' ou contra a reforma previdenciária, o partido governista tenta resgatar o seu espírito inicial.

Macron convocou uma entrevista coletiva para quarta-feira com o objetivo de expor o que considera ser o "rumo" para a França e aparecer como a opção moderada contra as "forças extremistas", indicou uma fonte próxima do presidente.

Frente Popular

As discussões parecem reforçar os três blocos que surgiram na França após as eleições presidencial e legislativas de 2022: a aliança centrista de Macron, a extrema-direita de Marine Le Pen e a frente de esquerda Nupes (Nova União Popular Ecológica e Social), que foi rompida por divergências entre a ala social-democrata e a ala radical.

Socialistas, comunistas, ecologistas e a LFI concordaram na segunda-feira em apresentar "candidaturas únicas" nas eleições previstas para 30 de junho e 7 de julho, apesar da mudança de equilíbrio após as eleições europeias, com os socialistas à frente do França Insubmissa.

"Pedimos a constituição de uma nova frente popular que reúna, de forma inédita, todas as forças de esquerda humanistas, sindicais, associativas e cidadãs", afirma um comunicado conjunto publicado após a reunião em Paris.

Centenas de jovens permaneceram do lado de fora do local da reunião para pressionar por um acordo.

Milhares de pessoas protestaram contra o RN nas principais cidades da França na noite de segunda-feira. Outras manifestações foram convocadas para o fim de semana.

O jornal de esquerda Libération defendeu a criação de uma "Frente Popular", com um apelo à "responsabilidade histórica" da esquerda para "impedir a chegada da extrema direita ao poder".

O resultado das eleições europeias provocou alerta na França, com o risco de avanço da extrema direita, e também na Europa: Paris é um ator fundamental na União Europeia e no apoio à Ucrânia contra a invasão da Rússia de Vladimir Putin.

O RN recebeu no domingo 31,37% dos votos, muito à frente dos 14,60% do partido governista. Duas pesquisas sobre as eleições legislativas mostram o RN com 33-34% das intenções de voto. Segundo a projeção da 'Harris Interactive', o partido conseguiria entre 235 e 265 dos 577 deputados, contra quase 90 no atual Parlamento.

 

Acompanhe tudo sobre:Emmanuel MacronEleiçõesEuropa

Mais de Mundo

Chanceler israelense ameaça Hezbollah libanês com 'guerra total'

Alemanha alerta risco de ataques terroristas semelhantes ao de Moscou

Sob críticas da Otan, Putin desembarca na Coreia do Norte para estreitar parceria 'estratégica'

Milei perde apoio em 18 de 24 municípios da Grande Buenos Aires, mostra pesquisa

Mais na Exame