Manifestantes que apoiam o líder de oposição Leopoldo López erguem uma faixa para bloquear uma rua durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de fevereiro de 2014 às 22h47.
Cidade do México/Caracas - O que mais ficou gravado na memória de Timothy Towell foi o carro. Quando o ex-diplomata americano se reuniu com Leopoldo López em setembro de 2006, o líder opositor venezuelano apareceu em um SUV cheio de buracos de bala.
“O carro tinha sido metralhado, tinha uma dúzia de buracos em um dos lados, e todos os diplomatas seniores dos EUA e suas esposas observavam e metiam os dedos nos buracos das balas”, disse Towell, que estava em Caracas em uma viagem organizada pelo Conselho de Embaixadores Americanos, em entrevista por telefone. “Isso frisava a dramática realidade de que pessoas levavam tiros por defender a democracia”.
Nesta semana, López, 42, estava em outro SUV. Ele foi empurrado para dentro de uma viatura e levado até Ramo Verde, uma prisão militar a duas horas de Caracas. O ex-prefeito de um município de Caracas e fundador de dois partidos políticos foi acusado de incêndio criminoso e de incitar crimes por seu papel nos protestos iniciados no dia 12 de fevereiro, que levaram à morte pelo menos cinco pessoas. Ele pode enfrentar até dez anos de prisão, segundo seu advogado, Bernardo Pulido.
“Não se rendam. Eu não vou me render”, publicou a esposa de López, Lilian Tintori, em nome do marido na conta de Twitter dele. “Não negocio com ditaduras”.
López se tornou a cara pública da oposição ao governo quando o descontentamento com a inflação mais acelerada do mundo e com a escassez de bens como alimentos e remédios se espalhou pelas ruas da Venezuela neste mês.
Quando Chávez se candidatou para a reeleição em 2012, López se apartou das primárias da oposição, citando obstáculos por uma proibição política do governo contra ele, e apoiou Henrique Capriles. Capriles perdeu para Chávez e foi superado novamente por Maduro em abril, depois que Chávez morreu de câncer.
Confrontos nas ruas
Agora, López se afastou de Capriles, 41, em relação às táticas do movimento opositor, e prefere os confrontos nas ruas à política eleitoral.
A alta dos preços ao consumidor mais do que dobrou para 56 por cento durante a administração de Maduro, e a escassez de bens é recorde, segundo o índice de escassez do Banco Central. Mais de um de cada quatro produtos está fora de estoque em qualquer momento dado, mostra o índice.
López nasceu em Caracas. Ele conecta sua linhagem a Simón Bolívar, que ajudou a libertar a Venezuela do domínio colonial espanhol no século 19. Seu pai, Leopoldo López Gil, é membro do conselho editorial do jornal El Nacional. Sua mãe, Antonieta Mendoza de López, trabalhou em assuntos públicos para a Petróleos de Venezuela SA e agora é vice-presidente de assuntos corporativos do Grupo Cisneros, a matriz do bilionário Gustavo Cisneros. López é casado e tem dois filhos.
Diploma de Harvard
López foi à Kenyon College nos EUA e é formado em políticas públicas pela Kennedy School of Government da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts. Na Kenyon, em Gambier, Ohio, ele acordava às 5 horas da manhã para correr, disse Jay Sullivan, seu colega de quarto nos primeiros dois anos do curso.
“Leo era um vulcão de energia”, disse Sullivan, que é advogado, em entrevista por telefone. “Ele conheceu todo mundo do campus em uma semana; não só os alunos, mas também os professores, os padres, as pessoas que trabalhavam nos refeitórios, os homens e mulheres que limpavam os quartos das residências”.
Na sua viagem em 2006, Towell, 80, ex-embaixador dos EUA no Paraguai, disse que López contou ao grupo de visitantes que os simpatizantes de Chávez eram os responsáveis pelos disparos que marcaram seu SUV e mataram seu guarda-costas.
“Eu pensei, ‘eis um cara que tem valentia de verdade, coragem de verdade, e uma pessoa muito inteligente desde o ponto de vista das relações públicas’”, disse Towell. “Ele é o futuro do país, se eles o deixarem viver”.