Limpeza étnica de rohingyas continua em Mianmar, denuncia ONU
A Organização alertou também para a "campanha de terror e de fome organizada para obrigá-los" a fugir para Bangladesh
AFP
Publicado em 6 de março de 2018 às 10h03.
Última atualização em 7 de março de 2018 às 09h18.
A "limpeza étnica" dos muçulmanos rohingyas em Mianmar continua, denunciou nesta terça-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, com uma "campanha de terror e de fome organizada para obrigá-los" a fugir para Bangladesh.
"A limpeza étnica dos rohingyas prossegue", afirmou em um comunicado Andrew Gilmour, subsecretário-geral da ONU para os Direitos Humanos, mais de seis meses depois do início da crise.
Uma campanha do exército birmanês provocou a fuga de quase 700.000 muçulmanos rohingyas desde agosto. Centenas atravessam a fronteira para Bangladesh a cada semana.
"O governo birmanês não para de repetir que está pronto para o retorno dos rohingyas, mas ao mesmo tempo as forças de segurança continuam forçando a sua fuga para Bangladesh", completou o representante da ONU, que denunciou o papel do exército e a inação do governo.
O exército birmanês insiste que a operação militar começou depois dos ataques, no fim de agosto de 2017, de rebeldes rohingyas que chama de "terroristas".
A prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, que lidera o governo civil que está à frente do país desde 2016, após décadas de ditadura militar, é acusada de manter o status quo ante o exército e a opinião pública birmanesa.
Nacionalismo budista
Influenciados por um forte nacionalismo budista, muitos birmaneses consideram os rohingyas estrangeiros e uma ameaça para o predomínio budista no país.
O vice-comandante do exército, general Soe Win, recebeu na segunda-feira em Naypyidaw, capital administrativa, o representante especial da União Europeia para os Direitos Humanos, Stavros Lambrinidis.
"O general reiterou que o governo est
á pronto para receber os refugiados, mas reconhece que não aconteceu nenhum retorno, em grupo ou individualmente", afirmou o exército.
O acesso à zona de conflito, perto da cidade de Maungdaw, ao norte do estado de Rakhine, permanece vetado aos jornalistas e diplomatas, com exceção das viagens de um dia organizadas a conta-gotas pelo exército. Apenas a Cruz Vermelha Internacional tem livre acesso à região.
A situação dificulta a comprovação das acusações dos refugiados rohingyas em Bangladesh, que citam torturas, decapitações e outras atrocidades.
"Rohingyas que acabaram de chegar a Cox's Bazar proporcionaram depoimentos confiáveis de que continuam os assassinatos, estupros, torturas, sequestros e fome organizada", afirmou o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.
Os novos refugiados chegam agora de áreas mais remotas que Maungdaw, epicentro da violência e "esvaziada" de sua população rohingya.
Gilmour está preocupado com o destino de
centenas de milhares de pessoas que lotam campos improvisados, no momento em que aproximam as chuvas.
"Depois de sofrer tando com um desastre infligido pelo homem em Mianmar, tememos uma catástrofe natural com as fortes chuvas, deslizamentos de terra e inundações", advertiu.
A ONU também está preocupada com uma eventual epidemia de cólera nos acampamentos gigantes com péssimas condições sanitárias.