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Kerry prossegue com negociações no Afeganistão para eleições

John Kerry e os dois candidatos, Ashraf Ghani e Abdullah Abullah, se comprometeram a trabalhar juntos independentemente do resultado do pleito

O secretário de Estado americano, John Kerry (d), em um encontro com o candidato à presidência do Afeganistão, Ashraf Ghani Ahmadzai (Massoud Hossaini/AFP)
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Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2014 às 13h04.

Cabul - Os candidatos à presidência do Afeganistão assinaram um acordo nesta sexta-feira para formar um governo de unidade nacional, aparentemente abrindo caminho para combater a ameaça de conflitos étnicos que vieram à tona após as suspeitas de fraude nas eleições de 14 de junho.

Durante uma visita a Cabul do secretário americano de Estado, John Kerry , os dois candidatos, Ashraf Ghani e Abdullah Abullah, se comprometeram a trabalhar juntos independentemente de quem for o vencedor do segundo turno das eleições de 14 de junho, submetida atualmente a uma auditoria após denúncias de fraude.

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O risco de uma espiral de instabilidade gera apreensão no país, desde que Abdullah se recusou a aceitar os resultados preliminares que informavam a vantagem de Ghani, acusando seu rival de fraudar as eleições.

John Kerry visitou Cabul para mediar o impasse e elogiou o acordo como um avanço importante para salvar o Afeganistão do caos político.

Um acordo intermediado por Kerry no mês passado foi frustrado devido a divergências entre os candidatos, e resta saber se desta vez os eleitores aceitarão o novo pacto.

"Hoje demos mais um passo no sentido de fortalecer a unidade nacional e trazer esperança de um futuro melhor para o povo do Afeganistão", disse Abdullah, ao lado de Ghani e de Kerry.

"Estamos empenhados em trabalhar em conjunto com base na visão que compartilhamos para o futuro do nosso país", completou.

O texto considera que o Afeganistão passa por "um dos períodos mais politicamente sensíveis de sua história" devido ao resultado contestado de uma eleição que deve representar a primeira transferência democrática de poder do país.

"Confiamos um no outro e vamos trabalhar juntos para cumprir este dever. Asseguramos a formação de um governo de unidade nacional. O que nos une é muito maior do que o que nos dividiu durante a campanha. Chegamos a um acordo e assinamos um comunicado de cooperação futura", garantiu Ghani

Corrida contra o tempo

O acordo também determina que ambos os lados concordem que o sucessor do atual presidente, Hamid Karzai, tome posse antes do final deste mês.

O prazo foi uma das principais exigências de John Kerry, que havia chamado a atenção dos candidatos sobre a importância de o Afeganistão ter um novo presidente antes de uma cúpula da Otan, na Grã-Bretanha, nos dias 4 e 5 de setembro.

A reunião pretende aprovar uma missão da Otan de "treinamento e assessoria" no país, liderada pelos Estados Unidos, quando todas as tropas estrangeiras já terão se retirado, o que está previsto para ocorrer até dezembro.

Mas os países-membros têm sido relutantes em assumir compromissos importantes se o Afeganistão não concluir as eleições, um objetivo-chave do enorme esforço militar e de ajuda internacional desde 2001.

"Um destes homens vai ser presidente, mas ambos serão cruciais para o futuro do Afeganistão. Essa auditoria não é simplesmente para determinar o vencedor. Trata-se de oferecer o resultado confiável que o povo afegão merece", disse Kerry

Karzai, que é presidente desde que o regime talibã foi deposto, em 2001, também pediu que a transição do poder ocorra dentro de poucas semanas, dizendo que a incerteza tem prejudicado a economia e a segurança do país, que já são frágeis.

Insurgentes do Talibã realizaram novas operações no sul e no leste do Afeganistão nos últimos meses, e a violência tem aumentado em todo o país, de acordo com vários relatórios independentes.

O número de tropas estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos caiu do pico de 150 mil, em 2012, para as atuais 44.300, e as operações de combate da Otan estão sendo reduzidas, depois de 13 anos de luta em que o Talibã não foi derrotado.

As nações ocidentais que enviaram tropas e bilhões de dólares de ajuda ao Afeganistão desde 2001 têm esperança de que um resultado confiável para as eleições será um legado emblemático dos progressos realizados desde o fim da era talibã.

Os perigos de uma intervenção militar internacional foram relembrados nesta semana, quando um soldado afegão matou um general norte-americano em um centro de treinamento militar em Cabul e feriu outros, dentre os quais estava um oficial alemão.

O secretário americano de Estado, John Kerry, estava nesta sexta-feira no Afeganistão para pressionar os dois candidatos presidenciais para que resolvam a disputa eleitoral antes da cúpula da Otan em setembro.

Os Estados Unidos querem que o Afeganistão, a quem fornece um grande apoio militar e financeiro, tenha um chefe de Estado e um governo de união nacional quando ocorrer a cúpula da Otan, nos dias 4 e 5 de setembro em Gales.

Os americanos temem os riscos de instabilidade política neste país que vive sob a ameaça de uma insurreição dos talibãs, a poucos meses da retirada das forças da Otan, prevista para o fim do ano.

Kerry chegou na quinta-feira à capital afegã e se reuniu nesta sexta-feira com o presidente em fim de mandato, Hamid Karzai, em uma atmosfera tensa. Depois conversou com os dois candidatos, Abdullah Abdullah e Ashraf Ghani, com os quais já havia se encontrado na véspera.

Até o momento não foram feitas declarações, mas no início da tarde está prevista uma coletiva de imprensa de Kerry em Cabul, antes que viaje em direção a Mianmar.

Kerry fez uma primeira visita urgente a Cabul em julho, devido às fortes tensões entre os dois partidos, e alcançou o acordo de Ghani e Abdullah para realizar uma auditoria integral de 8,1 milhões de votos do segundo turno da eleição presidencial para descartar uma fraude.

Na quinta-feira entre 4 e 5 mil urnas em um total de 23 mil já haviam sido inspecionadas.

A poucos meses da retirada das tropas da Otan, prevista para o fim deste ano, os provedores de fundos estrangeiros que apoiam o frágil governo afegão esperam a chegada ao poder de uma nova equipe legítima para reduzir os riscos de instabilidade.

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