Irã e potências avançam rumo a uma minuta de acordo nuclear
O Irã e as grandes potências mundiais se reuniram novamente para seguir encaixando peças ao complicado quebra-cabeças de um acordo nuclear
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2014 às 14h24.
Viena - O Irã e as grandes potências mundiais se reuniram nesta terça-feira novamente para seguir encaixando peças ao complicado quebra-cabeças de um acordo que assegure que Teerã não tenha capacidade de fabricar armas nucleares, mas que ao mesmo tempo garanta ao país o direito de utilizar energia atômica.
O encontro, que está ocorrendo em Viena (Áustria), será encerrado amanhã. As duas equipes negociadoras são lideradas por Catherine Ashton, chefe da diplomacia europeia, e pelo ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Yavad Zarif.
Ashton coordena a negociação em nome do G5+1, que reúne a Alemanha mais os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia).
Tanto Ashton como Zarif destacaram que após os encontros anteriores, nos quais se debateu o que discutir e como fazer isso, a nova reunião chegou ao momento crucial de se começar a colocar no papel uma minuta de acordo.
"Estamos no meio de negociações muito detalhadas e substanciais. Isto será uma grande continuação do processo para explorar as respectivas posições em cada um dos temas", disse hoje Michael Mann, porta-voz de Ashton.
Zarif, por sua vez, foi mais esclarecedor e ao chegar ontem em Viena afirmou à emissora iraniana "Press TV" que "preparar uma minuta (de acordo) é uma das partes mais difíceis" das negociações, que considerou "duras".
As peças a se encaixar neste acordo são muitas e as posturas, em alguns casos, distantes.
Por um lado, é preciso definir quanto urânio enriquecido e a que nível de pureza é conveniente permitir que o Irã produza. O combustível alimenta as centrais atômicas que geram energia, mas também as bombas atômicas.
Embora o G5+1 aceite a exigência inegociável do Irã de seguir processando urânio, a questão é a quantidade e qualidade do mesmo.
O plutônio, outro material de duplo uso, militar e civil, é outro dos pontos de impasse.
O Irã está construindo uma usina de água pesada que, segundo o governo do país, será usada no tratamento contra o câncer.
Mas a central também gera plutônio, que poderia ser usado na fabricação de uma arma nuclear, por isso o G5+1 defende mudanças nas características da usina.
A retirada das sanções econômicas ao Irã ou a regulação de futuras inspeções são outras das peças deste quebra-cabeças negociador, que uma fonte diplomática americano de alto nível chegou a comparar com um "cubo mágico".
"Sabemos onde podemos ver pontos de acordo. Sabemos onde há abismos sobre os quais é preciso construir pontes. Mas também digo que isto é um cubo mágico, e que conseguir progresso em um elemento pode significar mais dificuldade para negociar outro elemento", declarou a fonte, que pediu anonimato.
Inicialmente, o acordo teria que ser assinado no final de junho, caso o prazo de seis meses dado pelas duas partes seja cumprido, mas existe a possibilidade de uma prorrogação.
O plano é que no próximo encontro, que poderia ser realizado em meados de maior, comecem a ser escritos os termos do eventual pacto.
"Estou absolutamente convencido de que podemos fazer isso, embora o tema essencial não é se podemos escrever as palavras no papel, fazer a minuta. Mas sim as decisões que o Irã tem que tomar, e algumas delas são muito difíceis", comentou a fonte do governo americano.
Para Washington, o objetivo de conseguir garantias de que o Irã não obterá armas nucleares obrigará o país a "fazer mudanças importantes e tomar decisões".
Segundo a fonte diplomática, a negociação "segue o ritmo do plano de trabalho", por isso se espera que a redação da minuta comece em maio.
Os Estados Unidos e seus aliados ocidentais temem que, sob a aparência de um programa atômico civil, o Irã oculte aspirações militares, dúvidas que não puderam ser esclarecidas em uma década de inspeções, negociações e sanções.
Enquanto o G5+1 negocia, Israel denuncia que o Irã só pretende ganhar tempo e segue sem descartar um ataque militar contra as instalações nucleares do país, argumentando que se sente ameaçado por Teerã.