Ativistas paquistaneses da organização Jamat-ud-Dawa (JuD) gritam palavras de ordem em um protesto contra as operações militares de Israel em Gaza (Banaras Khan/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2014 às 12h15.
Jerusalém - Um mero conflito ou o começo de um novo massacre? A retomada das hostilidades na Faixa de Gaza é vista em todo caso como uma escalada do Hamas e um jogo perigoso que pode vir a mergulhar a região no caos, consideram os analistas.
Nesta sexta-feira, após a expiração de uma trégua de 72 horas entre Israel e Hamas, dezenas de foguetes foram novamente lançados a partir do território palestino contra Israel, que imediatamente respondeu com ataques aéreos e fogo de artilharia.
No entanto, a esperança de manter a trégua era real, um mês após o início da violência que deixou mais de 1.900 palestinos mortos, incluindo mais de 450 crianças, e reduziu a ruínas milhares de casas, forçando quase 500 mil pessoas do lado palestino a fugir, além dos 64 soldados e três civis israelenses mortos.
O Estado judeu e uma delegação palestina, incluindo o Hamas, participaram durante os últimos dias no Cairo de negociações indiretas com exigências irreconciliáveis.
O Hamas fez do levantamento do bloqueio imposto a Gaza por Israel desde 2006 uma condição sine qua non para a cessação das hostilidades, enquanto Israel insiste na desmilitarização do enclave palestino para permitir a sua reconstrução.
Alívio do bloqueio
"Para o Hamas, o mínimo esperado é o levantamento do cerco, mas está claro que isso eles não conseguirão. A questão é saber até que ponto poderão obter um alívio deste bloqueio", afirma Nathan Thrall, especialista do International Crisis Group.
O braço armado do Hamas, as Brigadas Ezzedine al-Qassam, exigem pelo menos a abertura de um porto no Mediterrâneo, além de um levantamento imediato do bloqueio e da construção de um aeroporto internacional.
"Mas isso significaria que navios poderiam atracar sem ser revistados, o que Israel nunca vai aceitar", adverte Thrall, pois isso pode permitir que o movimento islâmico importe foguetes sem contrabandeá-los através de túneis que dão no Egito.
Para evitar esse cenário, poderia encontrar "uma saída honrosa" ao aceitar ao final de novas negociações "uma saída marítima sob supervisão internacional e não um porto (palestino) propriamente dito", considera Naji Charab, um cientista político da Universidade Al-Azhar, em Gaza.
O movimento islâmico tem surpreendido pela sua resistência ao exército israelense durante a guerra. Mas está cada vez mais encurralado, depois de ter perdido recentemente o apoio do Egito após a destituição há um ano do presidente Mohamed Mursi, membro da Irmandade Muçulmana que é próxima ao Hamas. Neste cenário, "o Hamas está prestes a perder tudo o que poderia utilizar para aumentar a pressão", ressalta Kobi Michael, professor da universidade israelense de Ariel.
Uma operação terrestre
Apesar da popularidade alcançada entre os palestinos por sua resistência militar ao exército israelense, o Hamas está é pressionado a produzir rapidamente resultados políticos depois de combates que fizeram tantas vítimas e que devastaram a região.
Ao lançar seus foguetes, o Hamas "queria ver se Israel iria responder e como ele iria responder" para talvez obter benefícios nas negociações, acredita a analista militar israelense Miri Eisin.
Após retomar os bombardeios, o exército israelense pode ainda lançar uma nova operação terrestre após a retirada das suas tropas e seus tanques.
"Não há nenhuma razão que justifique uma nova operação terrestre imediata porque o Hamas lança foguetes", explica Miri Eisin à AFP. Mas se os combates se intensificarem, Israel pode mudar a estratégia e enviar tropas terrestres, diz.
"Israel não quer voltar a entrar no território palestino, avançar em profundidade e ocupar Gaza", nota Yoram Schweitzer, ex-chefe da contra-terrorismo das forças israelenses. Mas se o conflito aumentar e as partes não chegarem a um "acordo aceitável", Israel poderia "mudar a política e lançar uma operação mais ampla em Gaza", adverte.