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Fillon alega inocência em acusação de desvio de dinheiro público

O candidato conservador das eleições francesas ainda denunciou uma instrumentalização da justiça

Fillon: os juízes que investigam o caso indiciaram Fillon um dia antes do previsto por desvio de fundos públicos (Christian Hartmann/Reuters)

Fillon: os juízes que investigam o caso indiciaram Fillon um dia antes do previsto por desvio de fundos públicos (Christian Hartmann/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de março de 2017 às 14h26.

O candidato conservador François Fillon, indiciado por desvio de fundos públicos a 40 dias das eleições presidenciais na França, alegou inocência nesta quarta-feira, e denunciou uma instrumentalização da justiça.

Fillon, até pouco tempo grande favorito para ocupar o Palácio do Eliseu, foi indiciado na terça por desvio de fundos públicos e apropriação indébita de bens sociais no caso dos empregos supostamente fictícios de sua esposa e seus filhos como assessores parlamentares.

O ex-primeiro-ministro, que assegura não ter feito nada ilegal, voltou a denunciar o que chamou de instrumentalização da justiça para impedir que seja candidato às eleições presidenciais.

"O objetivo é que a direita e o centro não tenham candidato", afirmou em uma entrevista à Radio Classique, na qual disse estar convencido de que a justiça reconhecerá sua inocência.

"Decidi resistir", reiterou Fillon, que prometeu retirar-se da disputa presidencial caso fosse indiciado pela justiça, antes de voltar atrás, denunciando ser vítima de "assassinato político".

"Há um movimento muito forte em andamento, há muita revolta entre os eleitores de direita e de centro que não querem que roubemos deles a eleição", insistiu.

Fillon se agarra a sua candidatura, apesar das várias deserções entre seus partidários e de uma queda nas pesquisas que prognosticam que não passará do primeiro turno.

A líder da extrema-direita Marine Le Pen e o social-liberal Emmanuel Macron, um rosto novo na política francesa, são os candidatos com mais possibilidades.

A candidatura de Fillon, até então favorito à presidência, se desequilibrou desde que, em janeiro, a imprensa revelou que sua esposa, Penelope, e dois de seus filhos receberam cerca de um milhão de euros como assistentes parlamentares.

Embora isso seja legal na França, os investigadores do gabinete contra a corrupção têm dúvidas sobre o trabalho efetivo realizado pelos três membros de sua família.

Os juízes que investigam o caso indiciaram Fillon um dia antes do previsto por desvio de fundos públicos.

"A audiência foi antecipada para que acontecesse em condições mais calmas", explicou Antonin Levy, advogado do ex-primeiro-ministro.

Fillon, que assegura ter respeitado a lei, se negou a responder as perguntas dos juízes, mas leu uma declaração em que reitera que o emprego de sua esposa e de seus filhos "não foi fictício".

Seu indiciamento ocorre em um momento difícil, quando faltavam apenas 72 horas para o encerramento do prazo de apresentação das assinaturas necessárias para formalizar as candidaturas às eleições presidenciais.

Depois de 17 de março não haverá chance de seu partido, Les Républicains, apresentar um candidato alternativo.

Entretanto, ele não é o único candidato que enfrenta problemas com a Justiça. Marine Le Pen também é alvo de uma investigação por empregos fictícios no Parlamento Europeu.

A presidente do Frente Nacional, no entanto, se nega a depor antes das eleições.

Os juízes também investigam o dinheiro recebido por Penelope Fillon por atividades na Revue des Deux Mondes, uma publicação literária propriedade de um empresário próximo de seu marido.

Entre maio de 2012 e dezembro de 2013 - paralelamente a suas atividades na Assembleia Nacional - Penelope Fillon cobrou 3.500 euros por mês por esta colaboração, embora em um ano e meio a revista tenha publicado apenas dois artigos com sua assinatura.

A essas acusações somam-se novas revelações da imprensa sobre os caros presentes para patrocinadores amigos de Fillon, incluindo dois ternos de uma elegante alfaiataria de Paris, que custaram 6.500 euros cada um, dados a um "amigo generoso".

Fillon, de 63 anos, ganhou as primárias de centro-direita apresentado-se como "o candidato da honestidade" contra e ex-presidente Nicolas Sarkozy, envolvido em vários casos na Justiça, e o ex-primeiro-ministro Alain Juppé, condenado pela Justiça em 2004 por um caso de empregos fictícios.

Se Fillon ganhar as eleições, terá direito, por lei, a uma imunidade total que impede qualquer processo contra ele. Nesse caso, os investigadores poderiam continuar averiguando apenas no que se refere a outros envolvidos.

Sua esposa deverá comparecer diante dos juízes em 28 de março e também pode ser indiciada.

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