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Familiares de vítimas de Fujimori choram traição de Kuczynski

Familiares das vítimas e organizações políticas e de direitos humanos se mobilizavam nesta quarta-feira para tentar anular o indulto a Fujimori

Alberto Fujimori (Koichi Kamoshida/Getty Images/Getty Images)
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AFP

Publicado em 27 de dezembro de 2017 às 18h03.

Traição, injustiça, dor: esses são os sentimentos dos familiares das vítimas dos esquadrões da morte do regime de Alberto Fujimori após o indulto que o presidente Pedro Pablo Kuczynski concedeu ao ex-ditador peruano.

"Nos sentimos traídos, sentimos que não há justiça, a justiça para nós não existe", diz entre lágrimas Rosa Rojas, que perdeu seu marido e seu filho de 8 anos. "Este Natal foi o pior".

Familiares das vítimas e organizações políticas e de direitos humanos se mobilizavam nesta quarta-feira para tentar anular o indulto a Fujimori, de 79 anos, e uma condenação de 25 anos de prisão pelos massacres de Barrios Altos e da universidade La Cantuta.

"Há uma traição em relação a nós, eu votei as duas vezes por ele (Kuczynski) no primeiro e no segundo turno. Eu acreditei nele", disse Rojas, que conversou com a AFP em um parque de Lima.

Rojas, comerciante de 52 anos, conseguiu se salvar do massacre de Barrios Altos, em 3 de novembro de 1991 durante uma festa, da qual escapou correndo assim que militares com os rostos cobertos chegaram.

Quinze pessoas morreram, entre elas o pequeno filho de Rosa, que fugia em busca de seu pai, segundo relataram sobreviventes à Comissão da Verdade e Reconciliação, que investigou a violência política no Peru.

Os criminosos pertenciam ao Grupo Colina, um esquadrão do Exército que perpetrou outras ações no contexto da guerra suja, na qual morreram civis inocentes como os 15 vizinhos de Barrios Altos.

"É uma piada, esse indulto é revoltante. Mas continuarei lutando o quanto eu puder para encontrar justiça", acrescenta. "Minha família ficou destruída. Com a notícia do indulto passei um Natal muito triste".

Ferida reaberta

Oito meses depois do massacre de Barrios Altos, em 18 de julho de 1992, o Grupo Colina agiu novamente em La Cantuta, uma universidade nacional de pedagogia e tradicional reduto da esquerda.

Nove estudantes e um professor foram sequestrados, levados a uma zona rural ao leste de Lima, e executados com tiros na nuca.

Os cadáveres foram enterrados clandestinamente em três fossas, e depois desenterrados e sepultados em outro lugar. Os restos mortais foram encontrados após investigações da imprensa.

O indulto a Fujimori é "ilegal", uma "vergonha" e "uma ferida que se reabre com essas injustiças", disse à AFP Gisela Ortiz, irmã de Luis Enrique, de 22 anos, um dos estudantes assassinados.

"Esta é uma luta sem trégua e que não nos permite descansar", descreve Ortiz. "Já enviamos algumas comunicações à OEA. Vamos fazer o mesmo com a Corte Interamericana de Direitos Humanos porque acreditamos que tem que haver alguma instância de proteção para as vítimas", explica.

Pelas mortes de La Cantuta e de Barrios Altos, a Suprema Corte do Chile concedeu a extradição de Fujimori. Ambos os fatos são considerados os piores crimes contra os direitos humanos perpetrados no Peru nos últimos 30 anos.

Por ambos os casos, a justiça condenou Fujimori como co-autor de homicídio qualificado, tortura e desaparecimento forçado de pessoas. Todos esses delitos são considerados crimes contra a humanidade.

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