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Ex-presidente da Libéria é condenado a 50 anos de prisão

O Tribunal Especial para Serra Leoa o considerou culpado de crimes contra a humanidade e crimes de guerra

Charles Taylor escuta a sentença: segundo os juízes, Taylor iniciou uma campanha de terror com o objetivo de controlar Serra Leoa e poder explorar seus diamantes (Toussaint Kluiters/AFP)

Charles Taylor escuta a sentença: segundo os juízes, Taylor iniciou uma campanha de terror com o objetivo de controlar Serra Leoa e poder explorar seus diamantes (Toussaint Kluiters/AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2012 às 11h14.

Leidschendam - O ex-presidente da Libéria Charles Taylor foi condenado nesta quarta-feira a 50 anos de prisão pelo Tribunal Especial para Serra Leoa (TESL), por crimes contra a Humanidade, e se tornou o primeiro ex-chefe de Estado sentenciado pela justiça internacional.

"O tribunal o condena de forma unânime a uma pena única de 50 anos de prisão", anunciou o juiz samoano Richard Lussick, durante uma audiência pública em Leidschendam, na periferia de Haia.

"O acusado é responsável por ter ajudado, estimulado e planejado alguns dos crimes mais odiosos da história da Humanidade", completou Lussick.

"Os efeitos destes crimes sobre os familiares das vítimas, assim como sobre a sociedade em geral, têm sido devastadores", disse o juiz.

"O tribunal viu muitos sobreviventes chorando durante os depoimentos", destacou.

A acusação "recomendou" em 3 de maio uma condenação de 80 anos de prisão, algo considerado "desproporcional e excessivo" pela defesa do ex-presidente, o primeiro chefe de Estado condenado pela justiça internacional desde o tribunal militar de Nuremberg.

Os juízes também consideraram a pena de 50 anos excessiva e lembraram que Taylor havia sido declarado culpado por ter desempenhado um papel-chave na execução de crimes sem ter o controle "efetivo" dos rebeldes de Serra Leoa, nem ter cometido diretamente os crimes.

Mas alegaram como circunstância agravante o fato de Taylor, 64 anos, ter "traído", segundo eles, a postura de "confiança pública" que deveria ter respeitado como presidente da Libéria, assim como o fato de não ter demonstrado nenhum remorso.

Vítimas da guerra civil de Serra Leoa celebraram a condenação de Charles Taylor por seu apoio aos rebeldes que espalharam o terror no país.


Centenas de pessoas se reuniram diante do edifício do Tribunal Especial para Serra Leoa, em Freetown, para acompanhar, em silêncio, o anúncio do veredicto.

"Fecham-se as cortinas para Charles Taylor. Espero que seus atos o atormentem enquanto apodrecer na cadeia", afirmou Al Hadji Jusu Jarka, que teve os braços amputados pelos rebeldes.

O ativista dos direitos humanos Charles Mambu também comemorou a decisão.

"É excelente! Nós, como defensores dos direitos humanos, estamos felizes com a sentença".

O ex-presidente da Libéria (1997-2003), detido em 2006 na Nigéria, foi declarado culpado no fim de abril de 11 crimes contra a Humanidade, incluindo estupro, assassinato e saques, cometidos entre 1996 e 2002 em Serra Leoa.

Se desejarem apelar da decisão ou da pena, defesa e acusação têm prazo de 14 dias.

Segundo os juízes, Taylor ajudou e estimulou uma campanha de terror com o objetivo de controlar Serra Leoa e poder explorar seus diamantes, durante uma guerra civil marcada por atos de canibalismo e mutilações, que deixou 120.000 mortos entre 1991 e 2001.

Em troca dos diamantes, o ex-presidente entregou armas e munições aos rebeldes de Serra Leoa, da Frente Revolucionária Unida (RUF), desempenhando assim um papel "crucial" nos crimes cometidos pelos insurgentes.

Os juízes consideraram, no entanto, que Charles Taylor tinha uma "influência significativa" sobre o comando da RUF, mas que isso não significava que tivesse o comando ou o controle efetivo.

A condenação foi elogiada de forma unânime pela comunidade internacional e por várias ONGs como uma "decisão histórica" na luta contra a impunidade.

Transferido de Freetown para Haia em 2006 por motivos de segurança, o julgamento de Charles Taylor, detido na Nigéria em 2006, começou em 4 de junho de 2007 e terminou em 11 de março de 2011.

A Holanda exigiu que o local do cumprimento da pena fosse determinado antes de aceitar o julgamento em Haia. A Grã-Bretanha propôs então que Taylor fosse detido em uma penitenciária britânica depois de condenado.

Autorizado pela última vez a tomar a palavra diante dos juízes em 16 de maio, Charles Taylor afirmou que havia feito tudo pela paz em Serra Leoa e acusou o gabinete do promotor de ter comprado e ameaçado as testemunhas.

*Matéria atualizada às 11h14

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