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EUA e China brigam em Copenhague

ONU concentra esforços nas negociações das duas potências, principais agentes da conferência climática

Presidente dos EUA, Barack Obama, e primeiro-ministro da China, Wen Jiabao (.)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.

SÃO PAULO - O propósito da cúpula das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas em Copenhague deveria ser buscar um acordo global de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. Mas a proposta das negociações tomou outro rumo depois da declaração feita pelo chefe da delegação dos Estados Unidos, Todd Stern.

Como o seu próprio nome sugere ("stern", em inglês, significa "severo"), o enviado especial da Casa Branca disparou um cruzado de direita na China logo no primeiro round, quando desembarcou na Dinamarca. "Eu não vejo os fundos públicos dos Estados Unidos indo para a China. Nós gostaríamos de direcionar nossos recursos públicos para os países mais necessitados", disse a jornalistas.

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Se antes havia uma possibilidade de um racha entre nações negociadoras, hoje a distinção entre dois blocos ficou mais evidente. De um lado, estão os Estados Unidos e a União Europeia, que hesitam em subsidiar países emergentes no combate a redução de emissões de gases poluentes. Do outro, China, Brasil e Índia, países em desenvolvimento, lutam para não serem excluídos dos investimentos dos mais ricos, colocando-se no mesmo patamar que Quênia, Indonésia, Camboja, entre outras regiões carentes de recursos financeiros investidos na preservação do meio ambiente.

De um jeito ou de outro, a ONU está concentrando esforços na efetivação de um acordo do G2, grupo informalmente composto por Estados Unidos e China. Como os dois países juntos representam cerca de 40% da fatia total das emissões de gases prejudiciais ao meio ambiente, seria importante para o futuro do planeta convencer as duas potências da necessidade do comprometimento com a nova resolução que substituirá (ou atualizará) o protocolo de Kyoto, assinado em 1997 no Japão.

Para acirrar os ânimos da conferência de Copenhague, autoridades chinesas disseram na última quarta-feira que os países industrializados (incluindo os europeus) deveriam fornecer tecnologia e dinheiro para compensar o legado histórico de emissão de gases poluentes que deixaram para o mundo. A pressão sobre os governos mais desenvolvidos se intensificou quando o diretor-geral de negociações da China, Su Wei, propôs reduzir a quantidade de carbono emitido por percentual do Produto Interno Bruto (PIB) de seu país – de 40% para 45% até 2020.


O presidente Barack Obama só visitará Copenhague no dia 18 de dezembro, mas já indicou que está disposto a investir 10 bilhões de dólares por ano, com a aprovação do seu Senado, para ajudar os países pobres no combate à poluição. Só que, segundo Stern, nenhuma parte desse montante será destinada a China, porque é um país em processo de desenvolvimento econômico, com capacidade de gerar recursos próprios para evitar devastações ambientais.

Caso os dois países não cheguem a um acordo e a conferência climática seja um fiasco, cientistas calculam que até 2030 a China ultrapassará os Estados Unidos no ranking mundial dos maiores emissores de CO2, com 13% a mais do que o total liberado pelo governo norte-americano.

Como as maiores fontes de polução da China estão atreladas à infra-estrutura, seria preciso fazer ajustes em todo o sistema de desenvolvimento econômico, algo complexo considerando o seu ritmo de crescimento - 10% ao ano nas últimas três décadas. Será que o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, está disposto a frear a megalomania?

A mesma pergunta vale para os Estados Unidos, onde o setor de transporte é o principal responsável por contribuir com o efeito estufa. A grande jogada do governo norte-americano será incentivar a indústria de carros elétricos, prevista para ser lançada até o fim de 2011. Se esse projeto for viabilizado até 2020, pesquisadores dizem que as emissões de gases tóxicos do governo norte-americano diminuiriam em 4%.

Quem quiser ser o vencedor desse embate ecológico travado na conferência sobre mudanças climáticas em Copenhague deverá ousar em se comprometer com as metas de redução de emissão de gases poluentes.


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