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EUA assumem que protagonismo sobre Síria é de Rússia e Irã

"Como na Segunda Guerra Mundial, quando EUA e Reino Unido chegaram a acordos com Stalin, é hora de fazer acordos", disse especialista em política externa

Vladimir Putin e Barack Obama: novo cenário poderia inclusive flexibilizar a até agora imutável condição americana de que Assad deve deixar o poder para que haja paz na Síria (Kevin Lamarque/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2015 às 11h41.

Nações Unidas - Os Estados Unidos confirmaram nesta semana na ONU que decidiram dar um giro estratégico em sua política sobre a Síria, uma tática mais realista que reconhece o protagonismo inevitável da Rússia e do Irã no futuro do país, mas que corre o risco de gerar uma "transição interminável", apontaram analistas.

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente americano, Barack Obama, abriu definitivamente a porta ao diálogo com a Rússia e com o Irã, dois atores com quem até agora tinha limitado ou rejeitado toda cooperação na Síria por terem uma diferença que considerava não ser negociável: o apoio ao regime de Bashar al Assad.

"(Os Estados Unidos) estão sendo realistas, e o realista é que a Rússia e Assad são parte da solução. Como na Segunda Guerra Mundial, quando EUA e Reino Unido chegaram a acordos com Stalin, é hora de fazer acordos", disse à Agência Efe Gordon Adams, especialista em política externa da American University.

Este giro é também um reconhecimento tácito de que "a política americana de treinar a oposição moderada síria fracassou ", com apenas cinco combatentes inseridos com sucesso no campo de batalha na Síria após meses de esforços e US$ 500 milhões investidos, apontou Adams.

A luta contra o Estado Islâmico (EI), a recente escalada militar russa na Síria e a falta de consenso para convocar uma nova conferência de paz para pôr fim ao conflito mudaram o cálculo de Obama, que há alguns meses se negava a qualquer tipo de cooperação com o Irã por considerá-lo um avalizador de Assad.

O novo cenário poderia inclusive flexibilizar a até agora imutável condição americana de que Assad deve deixar o poder para que haja paz na Síria.

"Assad tem que ir, mas não tem que ser no dia um (dos acordos de paz), ou no mês um", afirmou o secretário de Estado americano, John Kerry, na semana passada em Londres.

O diálogo com a Rússia aconteceu seriamente durante a reunião de segunda-feira entre Obama e o presidente russo, Vladimir Putin, quando os Estados Unidos tentaram obter respostas sobre as intenções militares russas na Síria e aproximar posturas sobre Assad.

Por outro lado, a oferta de diálogo ao Irã topou por enquanto com o silêncio, e fontes diplomáticas americanas admitem que não sabem claramente se os iranianos estão interessados em aceitá-la.

Parece mais provável, por enquanto, que essas conversas se desenvolvam em nível multilateral: na segunda-feira, entre o Irã e o Grupo 51 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) falaram sobre a possibilidade de iniciar um diálogo sobre o conflito na Síria, explicou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Em todo caso, os Estados Unidos quiseram se proteger, e esta semana Kerry intensificou seus contatos na ONU com os países europeus e árabes que concordam com a exigência de tirar Assad do poder, como França, Jordânia e Arábia Saudita.

A mudança de estratégia americana não ficou livre de críticas em Washington, muito cética com Rússia e Irã.

"Se falamos com os dois principais aliados de Assad sobre seu próprio destino, não deveríamos ter ilusões sobre qual é a solução mais provável", advertiu Aaron David Miller, analista de Oriente Médio no centro de estudos Wilson Center.

Essa solução será "uma transição interminável que manterá (Assad) no poder durante bastante tempo, e Rússia e Irã como eternos atores-chave do drama sírio", escreveu Miller em artigo no "Wall Street Journal".

Mesma opinião tem Charles Lister, analista especializado na Síria, do centro de estudos Brookings, que vê enormes riscos em "acomodar as reivindicações russas e iranianas de sobrevivência de Assad e potencialmente inclusive uma partilha de fato do país".

"Isso só prolongará e intensificará o conflito e quase seguramente acenderá uma mobilização jihadista como a que o mundo nunca viu", alertou Lisner.

Para Adams, por outro lado, chegou a hora de assumir que "no final, Assad ficará no poder durante algum tempo durante a transição e que os Estados Unidos não poderão ditar os termos".

"Os Estados Unidos não têm nada a ganhar se ficarem à margem, e pelo menos algo a ganhar se chegar a um acordo com Irã e Rússia", ressaltou.

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Nações Unidas - Os Estados Unidos confirmaram nesta semana na ONU que decidiram dar um giro estratégico em sua política sobre a Síria, uma tática mais realista que reconhece o protagonismo inevitável da Rússia e do Irã no futuro do país, mas que corre o risco de gerar uma "transição interminável", apontaram analistas.

Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente americano, Barack Obama, abriu definitivamente a porta ao diálogo com a Rússia e com o Irã, dois atores com quem até agora tinha limitado ou rejeitado toda cooperação na Síria por terem uma diferença que considerava não ser negociável: o apoio ao regime de Bashar al Assad.

"(Os Estados Unidos) estão sendo realistas, e o realista é que a Rússia e Assad são parte da solução. Como na Segunda Guerra Mundial, quando EUA e Reino Unido chegaram a acordos com Stalin, é hora de fazer acordos", disse à Agência Efe Gordon Adams, especialista em política externa da American University.

Este giro é também um reconhecimento tácito de que "a política americana de treinar a oposição moderada síria fracassou ", com apenas cinco combatentes inseridos com sucesso no campo de batalha na Síria após meses de esforços e US$ 500 milhões investidos, apontou Adams.

A luta contra o Estado Islâmico (EI), a recente escalada militar russa na Síria e a falta de consenso para convocar uma nova conferência de paz para pôr fim ao conflito mudaram o cálculo de Obama, que há alguns meses se negava a qualquer tipo de cooperação com o Irã por considerá-lo um avalizador de Assad.

O novo cenário poderia inclusive flexibilizar a até agora imutável condição americana de que Assad deve deixar o poder para que haja paz na Síria.

"Assad tem que ir, mas não tem que ser no dia um (dos acordos de paz), ou no mês um", afirmou o secretário de Estado americano, John Kerry, na semana passada em Londres.

O diálogo com a Rússia aconteceu seriamente durante a reunião de segunda-feira entre Obama e o presidente russo, Vladimir Putin, quando os Estados Unidos tentaram obter respostas sobre as intenções militares russas na Síria e aproximar posturas sobre Assad.

Por outro lado, a oferta de diálogo ao Irã topou por enquanto com o silêncio, e fontes diplomáticas americanas admitem que não sabem claramente se os iranianos estão interessados em aceitá-la.

Parece mais provável, por enquanto, que essas conversas se desenvolvam em nível multilateral: na segunda-feira, entre o Irã e o Grupo 51 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) falaram sobre a possibilidade de iniciar um diálogo sobre o conflito na Síria, explicou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Em todo caso, os Estados Unidos quiseram se proteger, e esta semana Kerry intensificou seus contatos na ONU com os países europeus e árabes que concordam com a exigência de tirar Assad do poder, como França, Jordânia e Arábia Saudita.

A mudança de estratégia americana não ficou livre de críticas em Washington, muito cética com Rússia e Irã.

"Se falamos com os dois principais aliados de Assad sobre seu próprio destino, não deveríamos ter ilusões sobre qual é a solução mais provável", advertiu Aaron David Miller, analista de Oriente Médio no centro de estudos Wilson Center.

Essa solução será "uma transição interminável que manterá (Assad) no poder durante bastante tempo, e Rússia e Irã como eternos atores-chave do drama sírio", escreveu Miller em artigo no "Wall Street Journal".

Mesma opinião tem Charles Lister, analista especializado na Síria, do centro de estudos Brookings, que vê enormes riscos em "acomodar as reivindicações russas e iranianas de sobrevivência de Assad e potencialmente inclusive uma partilha de fato do país".

"Isso só prolongará e intensificará o conflito e quase seguramente acenderá uma mobilização jihadista como a que o mundo nunca viu", alertou Lisner.

Para Adams, por outro lado, chegou a hora de assumir que "no final, Assad ficará no poder durante algum tempo durante a transição e que os Estados Unidos não poderão ditar os termos".

"Os Estados Unidos não têm nada a ganhar se ficarem à margem, e pelo menos algo a ganhar se chegar a um acordo com Irã e Rússia", ressaltou.

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