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EUA alertam para crise mundial provocada pelo wbola

"O ebola é uma crise mundial urgente que requer uma resposta mundial urgente", disse o secretário de Estado americano, John Kerry

Ebola: o Pentágono anunciou que enviará 100 marines à África (Cellou Binani/AFP)
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Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2014 às 19h34.

Os Estados Unidos alertaram para "uma crise mundial urgente" pelo ebola , depois da morte de um paciente no Texas, nesta quarta-feira, quando o número de mortos beirava os 3.900.

Enquanto isso, Madri pedia calma, e funcionários da Saúde denunciavam a má gestão do tema na Espanha.

"O ebola é uma crise mundial urgente que requer uma resposta mundial urgente", disse o secretário de Estado americano, John Kerry, pouco após a divulgação da notícia da morte por ebola de um paciente liberiano no Texas, o primeiro diagnosticado com a doença fora da África.

Durante uma coletiva de imprensa com o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond, Kerry destacou a necessidade de colaboração internacional com unidades de tratamento, pessoal, equipamentos de telecomunicação e incineradores, a fim de combater a doença mortal, contra a qual não há remédios, nem vacinas.

Pouco depois, a Casa Branca informou que vai medir a temperatura dos passageiros que chegarem ao território americano vindos de Libéria, Guiné e Serra Leoa e desembarcarem em cinco de seus mais importantes aeroportos.

Já o Pentágono anunciou que enviará 100 marines à África. Esse efetivo se somará aos 350 que já estão na região.

Enquanto isso, os espanhóis tentavam entender como ocorreu o contágio da auxiliar de enfermagem Teresa Romero, de 44 anos, que tratou de dois missionários espanhóis, infectados com a doença na África e repatriados para a Espanha, onde morreram.

"Nesse momento, o que temos de fazer, é ficar atentos, mas mantendo a tranquilidade", afirmou o chefe do governo conservador espanhol, Mariano Rajoy.

No entanto, sindicatos e trabalhadores de Saúde espanhóis denunciaram uma longa lista de falhas na gestão dos doentes dessa febre hemorrágica, que desde o início do ano matou 3.865 pessoas entre 8.033 infectados, segundo atualização do balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgada nesta quarta-feira.

Entre eles, destacaram a repatriação "improvisada" de Libéria e Serra Leoa dos missionários doentes, o pouco treinamento do pessoal médico, o equipamento insuficiente e inadequado e a gestão imprudente dos resíduos na Espanha.

"O medo de não saber"

Na noite de terça-feira, Teresa Romero, a primeira pessoa que se contagiou fora da África, foi internada no hospital Carlos III em Madri.

"Estou um pouquinho melhor", afirmou Teresa nesta quarta, em entrevista por telefone ao jornal "El Mundo".

Um dos médicos que a atendem, Germán Ramírez, disse à imprensa reunida na porta do hospital que a técnica pode ter se contaminado ao tocar no próprio rosto com as luvas.

"O que ela me passou é que tocou o rosto com as luvas. Foi o que ela me contou três vezes", relatou o médico.

A esse respeito, a própria Teresa considerou que o problema foi com o traje de proteção. "Acho que o erro foi tirar o traje. Vejo como o momento mais crítico, no qual pôde ter acontecido, mas não sei ao certo", declarou ao jornal "El País".

Uma enfermeira do hospital Carlos III, que falou ao jornal "Expansión" sob a condição de ter sua identidade preservada, afirmou que os trajes fornecidos não fecham bem e que são selados com fita adesiva nos punhos e nos joelhos.

Outra fonte hospitalar disse à AFP que as ambulâncias estavam mal equipadas.

Na tarde desta quarta-feira, médicos e enfermeiros protestaram em frente ao hospital contra a gestão dos casos de ebola.

A promotoria de Madri abriu investigações prévias para avaliar se pode ter havido algum crime no caso, informaram fontes da promotoria.

"Há o medo de não saber", disse à AFP Mar, uma moradora de Alcorcón, onde equipes especiais entraram na residência da técnica de enfermagem para desinfetá-la.

Essas equipes também recolheram da casa o cão dela, Excalibur. O sacrifício do animal provocou reações de revolta de grupos de defensores dos animais, que tentaram evitar sua transferência, enfrentando a polícia com cartazes que diziam: "Excalibur, the world is with you" (Excalibur, o mundo está com você).

Rajoy se comprometeu com uma "transparência total no tema". Mensagens tranquilizadoras também vieram da OMS, segundo a qual a ocorrência de casos esporádicos na Europa era "inevitável", mas que o risco de propagação da doença "é extremamente baixo".

Um morto nos EUA

Nos Estados Unidos, John Kerry pediu à comunidade internacional que faça mais pela luta contra o vírus, depois da divulgação da notícia da morte de Thomas Eric Duncan.

O liberiano, que viajou ao Texas para visitar a família e foi internado em um hospital de Dallas em 28 de setembro, foi a primeira pessoa a desenvolver os sintomas da doença fora da África.

Funcionários americanos de Saúde monitoram dezenas de pessoas que podem ter tido contato com Duncan, em particular umas dez que correm grande risco de ter contraído o vírus. Sua família está isolada em seu apartamento, vigiado por um policial.

Para evitar que isso se repita, os aeroportos JFK, de Nova York; Dulles, de Washington; O'Hare, de Chicago; Hartsfield-Jackson, de Atlanta; e Newark Liberty, de Nova Jersey, vão verificar a temperatura dos passageiros procedentes dos países mais afetados - Libéria, Guiné e Serra Leoa.

O presidente americano, Barack Obama, referiu-se à triagem como uma "camada de proteção adicional sobre os procedimentos que já são adotados".

Nesta quarta, outras duas pessoas foram hospitalizadas em Los Angeles e em Dallas por suspeita de exposição ao ebola.

Em Los Angeles, a pessoa não apresentou sintomas, mas teve histórico de viagem para a Libéria. O paciente foi levado de ambulância do aeroporto até o hospital Centinela.

No caso de Dallas, o diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs, na sigla em inglês), Tom Frieden, disse que "há alguém que está sendo acompanhado, que não tem nem contato definido com o ebola, nem sintomas definidos de ebola".

Os sintomas do ebola são febre, diarreia, vômitos e fortes dores musculares e nas articulações.

É transmitido pelo contato com fluidos corporais de uma pessoa infectada, ou ao tocar no corpo de uma vítima.

São Paulo - Ebola é uma doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
  • 2. A origem

    2 /13(Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)

  • Veja também

    A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
  • 3. A epidemia atual

    3 /13(Tommy Trenchard/Reuters)

  • Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
  • 4. Os sintomas

    4 /13(AFP)

    Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
  • 5. Transmissão

    5 /13(Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)

    O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
  • 6. O tratamento

    6 /13(Cellou Binani/AFP)

    Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
  • 7. Como se proteger

    7 /13(AFP)

    A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
  • 8. Epidemia global

    8 /13(Tommy Trenchard / Reuters)

    O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
  • 9. Vacina experimental

    9 /13(sxc.hu)

    Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
  • 10. Fronteiras fechadas

    10 /13(Gary Cameron/Reuters)

    Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
  • 11. Não há mercado para a vacina

    11 /13(AFP)

    Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
  • 12. Medicação

    12 /13(Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)

    Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
  • 13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde

    13 /13(Reuters)

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