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Enquanto CNE dá vitória a Maduro, oposição da Venezuela fala que não teve acesso a apuração de votos

Opositores denunciam falta de acesso de testemunhas às seções eleitorais e rejeição na entrega das atas de votação

Delsa Solorzano, líder do partido de oposição Encuentro ciudadano, fala com a mídia enquanto aguarda os resultados das eleições presidenciais em Caracas em 28 de julho de 2024. Com a respiração suspensa, a Venezuela aguardava os resultados no domingo de uma eleição presidencial tensa, na qual o atual presidente socialista Nicolás Maduro enfrentou o maior desafio até agora para o domínio de 25 anos de seu partido no poder ( RAUL ARBOLEDA /AFP)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 29 de julho de 2024 às 07h39.

A presidente do partido de oposição, Delsa Solórzano, acusou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Brasil,de cometer uma série de irregularidades que estão impedindo o acesso do grupo político à apuração dos votos, como a negativa à entrega dos boletins das urnas. Em coletiva de imprensa na noite deste domingo, Solórzano reforçou o pedido aos eleitores para que não deixem as seções eleitorais, denunciando um bloqueio por parte do CNE das testemunhas que desejam acompanhar a contagem — um direito legal.

"A Venezuela já sabe o que aconteceu. Vamos imediatamente ao CNE e pedir o acesso [às atas]. Estão nos obrigando a nos retirar [das seções eleitorais]. O CNE está negando a transmissão do resultado da ata [eleitoral]. O que está acontecendo é que não querem imprimir a ata e não querem transmitir [a impressão], e isso já é um padrão de incidentes em várias seções eleitorais em todo o país", denunciou a opositora.

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Nesta eleição histórica, que pode pôr fim a 25 anos de chavismo, o presidente Nicolás Maduro busca de um terceiro mandato contra o diplomata Edmundo González , principal nome da oposição que substituiu a líder María Corina Machado, impedida de concorrer pela Justiça, na coalizão Plataforma Unitária.

O advogado da campanha opositora, Perkins Rocha, também expressou sua preocupação com o movimento na coletiva, e exigiu que oCNE"não burle os cidadãos".

"Em muitos espaços, se negaram as atas, não se levou a cabo o ato publico. Repito: estamos dispostos a defender a felicidade que hoje os cidadãos expressaram nas ruas. A soberania popular é o mais sagrado que tem em um pais", disse Rocha, alertando para o destaque das eleições no momento: — Os olhos do mundo estão na Venezuela agora. Não burlem os cidadãos. É o momento para que digamos a verdade. Até agora, nosso melhor instrumento tem sido a verdade: por ela, estamos dispostos a dar a nossa vida.

Segundo, o Comando ConVzla, campanha da oposição, mais de 11,7 milhões de venezuelanos foram às urnas neste domingo, mais de 54% do eleitorado de 21 milhões. Um comparecimento abaixo dos 60% era visto como preocupante para os candidatos, sobretudo para a oposição. Em 2013, cerca de 80% do eleitorado votou.

Venezuelanos protestam pelo mundo durante eleições

Pressão internacional

Os governos de Argentina, Uruguai, Equador, Paraguai, Peru, Panamá, Costa Rica e República Dominicana divulgaram uma nota dizendo que acompanham o desenrolar da apuração da eleição venezuelana e exigiram que os resultados sejam respeitados. Eles também pediram que seja liberado acesso dos fiscais de urna as atas de votação.

O movimento foi capitaneado pelo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, e envolve governos de centro e centro-direita da região. Mulino reiterou que respeito à vontade do povo é fundamental para o governo da democracia.

O Panamá é um dos países mais afetados pelo êxodo de 7 milhões de venezuelanos, muitos dos quais tentam atravessar a Selva de Darién, para chegar aos Estados Unidos.

Governos sul-americanos de esquerda mais próximos do chavismo, como a Colômbia de Gustavo Petro e o Brasil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Maduro trocou farpas recentemente, não subscrevem a nota.

O assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, acompanha o andamento do pleito diretamente de Caracas. Em nota divulgada quando ainda havia seções eleitorais abertas, ele destacou a "participação expressiva" do eleitoral e a "tranquilidade" do processo, e também pediu respeito ao resultado.

“Estou acompanhando de perto o processo eleitoral venezuelano. Ainda há mesas de votação abertas. É motivo de satisfação que a jornada tenha transcorrido com tranquilidade, sem incidentes de monta. Houve participação expressiva do eleitorado", disse Amorim. "Estou em contato com diferentes forças políticas e analistas eleitorais, além de membros da equipe de observadores do Centro Carter e do Painel de Especialistas da ONU. O presidente Lula vem sendo informado ao longo do dia. Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos.”

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata governista à sucessão de Joe Biden, Kamala Harris, escreveu na rede social X que “Os EUA estão ao lado do povo da Venezuela, que expressou sua voz na histórica eleição presidencial de hoje. A vontade do povo venezuelano deve ser respeitada. Apesar dos muitos desafios, continuaremos a trabalhar em prol de um futuro mais democrático, próspero e seguro para os venezuelanos”.

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