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Em escolas do Estado Islâmico, as crianças aprendem a matar

Relatos revelam que crianças estão sendo treinadas para perpetuar as atividades do grupo e praticam decapitações em bonecas de cabelos claros e olhos azuis

EXAME.com (EXAME.com)

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Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 4 de novembro de 2014 às 13h48.

São Paulo – Novas imagens sobre as atividades do Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque revelam que o grupo está se organizando para perpetuar o seu legado de forma tão chocante e violenta como a maneira com a qual executa os seus ataques.

Em uma espécie de escola do jihad, crianças aprendem a matar, juram lealdade ao EI e são ensinadas a visão radical do islamismo tão cara ao grupo. Uma reportagem da rede de notícias CNN mostrou como é uma sessão de cinema no local onde os pequenos jihadistas encontram seus professores.

Sob os olhares atentos dos espectadores mirins, é exibida uma filmagem na qual aparecem cerca de 250 soldados sírios que um dia lutaram contra o EI. Contudo, eles não tiveram a sorte de conseguir fugir.

Correndo em uma fila sob o sol escaldante do deserto em suas roupas íntimas, todos foram brutalmente executados. Na plateia, é possível perceber dezenas de meninos observando. Em meio ao horror da telona, um deles sorri.

É mostrada ainda a formatura de várias crianças que aparentam ter menos de 10 anos de idade. “Vamos matar você sem que você perceba”, canta o grupo.

“O momento em que uma criança está crescendo é especial. Nele, é possível conseguir ‘plantar’ ideias específicas em suas mentes que podem virar ações no futuro”, explicou à CNN um psicólogo especializado em investigar os efeitos de guerras em jovens. E, de acordo com a sua análise, é exatamente esta a intenção dos jihadistas.

Origens

As crianças doutrinadas pelo Estado Islâmico têm diversas origens e muitas executam tarefas dignas de adultos. Abdullah, que já foi conhecido como o militante mais jovem do EI, é um exemplo.

Filho de um ex-oficial do grupo que foi morto em combate junto com seu irmão mais velho, Abdullah tem menos de 11 anos. Segundo relatos ouvidos pelo site The Daily Beast, ele anda pelas ruas de Mosul, no Iraque, fortemente armado e sua responsabilidade é fazer a guarda do quartel general dos jihadistas na cidade.

Mohammed, um garoto de 13 anos que vive em Raqqa, a capital do EI na Síria, teve uma história diferente. Foi forçado a deixar seu lar para viver em um campo de treinamento nos arredores da cidade. Os oficiais que foram buscá-lo enfrentaram a resistência de seu pai, que teve sua vida ameaçada.

Quando retornou do campo, contou o site Syria Deeply, sua mãe encontrou em sua mochila uma boneca de cabelos claros e olhos azuis, vestida em um macacão laranja. Achou ainda uma faca afiada.

Confrontado, Mohammed contou que os itens foram dados por seus professores e que deveria usá-los para a prática de decapitações. Seus pais conversaram com outros que tiveram os filhos enviados ao mesmo local e todos voltaram para casa com este mesmo “kit”. 

Crianças soldados

Um relatório produzido pela organização não governamental (ONG) Human Rights Group investigou o recrutamento de crianças para conflitos armados na Síria. O estudo revelou o panorama sombrio em que vivem os jovens que nascem em meio à guerra civil que hoje assola o país.

Foi constatado que o EI está doutrinando crianças de idades variadas para operações militares que incluem até mesmo atentados suicidas. Estima-se que 300 crianças e jovens já tenham sido treinadas em um campo localizado na região da cidade de Allepo. Muitos tinham menos de 12 anos de idade.

“Era um campo difícil”, contou para a entidade um jovem que frequentou o local aos 16 anos. “Acordávamos, rezávamos, praticávamos exercícios físicos e seguíamos para aulas sobre a sharia (leis islâmicas). Não nos deixavam dormir a noite inteira e entravam em nossas tendas atirando para o alto.”

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