Egito vive maior dia de protesto desde início da revolta
Dezenas de milhares de pessoas também se reuniram em outras grandes cidades, incluídas as 20.000 de Alexandria, a maior cidade do norte do país
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2011 às 20h42.
Cairo - Centenas de milhares de egípcios foram às ruas do Cairo e outras cidades do país nesta terça-feira nos maiores protestos desde o início da revolta contra o presidente Hosni Mubarak, em 25 de janeiro.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu nesta terça-feira a seu colega egípcio, Omar Suleimán, ampliar o diálogo para uma transição política com mais grupos de oposição, informou a Casa Branca.
Biden e Suleimán comentaram em uma conversa por telefone algumas medidas adotadas pelo Cairo e apoiadas por Washington, apesar de os Estados Unidos terem reiterado a necessidade de o Egito determinar uma agenda de reformas, segundo um comunicado.
Entre as petições americanas destaca-se a "ampliação do diálogo nacional para incluir uma vasta presença dos membros da oposição", de acordo com a nota.
Jornalistas da AFP que tinham visão sobre a praça Tahrir, no centro do Cairo, informaram que a multidão é maior que a registrada nos protestos anteriores, na terceira semana da revolta contra o regime de Mubarak, com centenas de milhares de pessoas reunidas no fim da tarde.
Dezenas de milhares de pessoas também se reuniram em outras grandes cidades, incluídas as 20.000 de Alexandria, a maior cidade do norte do país.
Mubarak fez algumas concessões ao movimento de protesto, liderado por jovens egípcios, mas se recusou a atender a principal demanda, que é sua saída imediata do poder para abrir caminho para eleições neste país árabe.
Na praça Tahrir, cheia de gente, os manifestantes agitavam bandeiras egípcias e cartazes nos quais se lia "o povo exige a saída do regime", slogan do protesto.
Muitos gritavam slogans divulgados em redes sociais de Internet, como Facebook e Twitter, ferramentas importantes de mobilização, graças a militantes como o executivo do Google Wael Ghonin, convertido em herói depois de ter permanecido detido, com olhosendados, durante 12 dias por conta de uma manifestação.
"O herói não sou eu, e sim vocês, que estão aqui na praça", gritou Ghonim exaltando o ânimo dos manifestantes.
"Devem insistir para que cumpram suas reivindicações", completou, interrompendo seu discurso pela multidão que gritava: "queremos que o regime caia".
Os manifestantes não se contentam com os anúncios do regime. "Nenhuma de nossas demandas foi atendida", explicou Mohamad Nizar, 36 anos, que estava na praça. "Anunciaram aumento de salários, tentam nos enganar. É um suborno político para levar o povo ao silêncio".
Em uma tentativa de apaziguar os ânimos, Mubarabk, 82 anos, dos quais quase 30 no poder, anunciou a criação de uma comissão para alterar a Constituição, em meio ao "diálogo nacional" iniciado no domingo entre o poder e a oposição, do qual participam, pela primeira vez, a Irmandade Muçulmana, até agora rivais políticos do regime.
Na segunda-feira, o chefe de Estado prometeu uma alta de 15% dos salários dos funcionários públicos e das aposentadorias a partir de 1º de abril.
Também pediu a formação de uma comissão de investigação sobre os episódios de violência do último dia 2 de fevereiro na praça Tahrir, onde confrontos opuseram simpatizantes e opositores de Mubarak.
Em 15 dias de mobilização, o balanço é de ao menos 300 mortos, segundo cifras não confirmadas da ONU.
A organização Human Rights Watch (HRW) conseguiu confirmar a morte de 297 pessoas, apesar de considerar que o total de vítimas seja muito maior.
As medidas políticas, incluindo o anúncio de que Mubarak não voltará a se apresentar para um sexto mandato nas eleições de setembro, não conseguiram aplacar o movimento de protesto que continua exigindo a saída imediata do presidente.
Nesta terça-feira, os Estados Unidos consideraram "crucial" que o Egito progrida rumo a uma transição democrática ordenada, enquanto que a França citou a "emergência das forças democráticas" para uma transição que deve ocorrer "sem violência e o mais rápido possível".
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu diante do Conselho de Segurança da ONU uma "verdadeira reforma" no Egito e na Tunísia, onde as revoltas tiraram o ditador Zine el Abidine Ben Ali do poder em 14 de janeiro, e ofereceu ajuda a esses países para lutar contra a corrupção e ter governos mais transparentes.