Egito: uma vitória para Sisi, uma derrota para a democracia
ÀS SETE - Depois que candidatos de relevância foram presos pelo governo, sobrou apenas um nome desconhecido para competir com o atual presidente
Da Redação
Publicado em 2 de abril de 2018 às 06h16.
Última atualização em 2 de abril de 2018 às 07h14.
O Egito divulga nesta segunda-feira o resultado das eleições nacionais, realizadas na semana passada. O atual presidente, Abdel Fatah al-Sisi, deve ter uma vitória esmagadora, com cerca de 92% dos votos, segundo números preliminares.
Às Sete – um guia rápido para começar seu dia
Leia também estas outras notícias da seçãoÀs Setee comece o dia bem informado:
- Uma discussão decisiva para as concessões de petróleo
- Protestos em Brasília marcam semana decisiva para Lula
- Curtas – uma seleção do mais importante no Brasil e no mundo
Depois que outros candidatos de relevância foram presos pelo governo, sobrou apenas um nome desconhecido na política egípcia para competir com al-Sisi, o de Moussa Moustapha Moussa, que recebeu cerca de 3% dos voto, menos do que os brancos e nulos.
Um outro dado joga luz sobre o atual problema egípcio: o comparecimento às urnas. Menos de 40% dos eleitores foram às urnas, abaixo dos 47% de comparecimento no pleito que elegeu al-Sisi pela primeira vez em 2014.
Em 2012, quando os egípcios votaram pela primeira vez após a retirada do ditador Hosni Mubarak do poder, o comparecimento foi superior a 60% do eleitorado.
Mubarak governou o país por 30 anos, promovendo eleições de fachada de tempos em tempos. Ele foi derrubado pelo movimento democrático da Primavera Árabe, mas, como se vê, nada mudou.
Entre os jovens, que deixaram de comparecer em massa, preponderou a descrença em relação ao cenário político do país. Veículos e jornais internacionais relataram a compra de votos com alimentos, pequenas quantias em dinheiro, promessas de serviços municipais e até mesmo a chance de vencer uma viagem de peregrinação a Meca.
A autoridade eleitoral do país inclusive ameaçou a população com uma multa de 28 dólares para quem não votasse. A cobertura midiática internacional do evento foi largamente criticada pelo governo e pela imprensa estatal, alegando interesses escusos.
Al-Sisi, que já aprisionou milhares de oponentes políticos, principalmente da Irmandade Muçulmana, o partido que comandava o Egito antes dele, deve ficar no poder até 2022, quando pela Constituição seria obrigado a deixar o executivo — ele nega que irá propor uma emenda que aumente seu tempo como presidente.
O presidente conduz uma ostensiva reforma econômica e uma caça a membros do grupo terrorista Estado Islâmico no Egito, fato que o jogou nas graças de países do Ocidente, como os Estados Unidos sob o governo Donald Trump.
Originalmente um general do exército, al-Sisi assumiu o poder em 2013, quando destituiu Mohamed Morsi, então presidente eleito, em uma ofensiva militar após protestos em massa. As eleições de fachada, como na época de Mubarak, parecem se repetir como uma tragédia na democracia do Egito.