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Desafio de Obama é manter a maioria no Congresso durante o mandato

Democratas que o antecederam na Casa Branca viram sua base encolher nas eleições parlamentares do meio do mandato

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h39.

Era de se esperar que o homem eleito para comandar a maior potência mundial não tivesse um dia sequer de descanso. Além de já ser pressionado a definir os principais nomes de sua equipe e as primeiras medidas que anunciará, o democrata Barack Obama também precisa se preocupar com sua base parlamentar. A grande vitória dos democratas no Congresso dará fôlego ao presidente eleito para aprovar medidas importantes, como a reformulação do sistema de saúde, estímulos à combalida economia e a retirada das tropas do Iraque. Mas os analistas apontam para um fantasma que perseguiu seus antecessores democratas na Casa Branca. Bill Clinton e Jimmy Carter perderam a maioria parlamentar nas eleições de meio de mandato. Assim, a prova de fogo de Obama serão as eleições parlamentares de 2010.

Quando foram eleitos, Clinton e Carter também apresentaram sua vitória como o início de uma reforma política e um novo realinhamento de forças. Mas a carreira de Carter terminou após apenas um mandato presidencial e a derrota para o Senado em 1980. Já Clinton perdeu a maioria parlamentar após apenas dois anos de governo e assistiu ao retorno dos republicanos à Casa Branca em 2000 - liderados por George W. Bush.

A expansão dos democratas começou em 2006, quando conquistaram uma estreita maioria de 235 deputados na Câmara, contra 199 republicanos. Para deter o controle da Câmara, são necessários, 251 parlamentares. No Senado, os democratas alcançaram 51 assentos, ante 49 republicanos. Na conta, estavam dois senadores independentes que geralmente votavam com os democratas. A vitória de 2006 é creditada pelos analistas à crescente insatisfação dos americanos com os rumos da guerra no Iraque, os primeiros sinais de que a economia americana não andava bem e a crescente antipatia ao presidente Bush.

Esses fatores ganharam muito mais força nas eleições desta terça-feira (4/11). A eclosão da crise das hipotecas americanas, que rapidamente se transformou em uma crise financeira de proporções mundiais, deixou os republicanos na defensiva. Atrelados à imagem de Bush, seus partidários ficaram sem argumentos para pedir votos, diante do crescimento do desemprego, do aumento do rombo nas contas públicas, do atoleiro americano no Iraque e da indisposição da maior parte dos países ao estilo Bush.

"Onda democrata"

Até o começo da tarde desta quinta-feira, os democratas já contabilizavam 254 deputados e 56 senadores. Do lado republicano, havia 173 deputados e 41 senadores. Quatro cadeiras no Senado e oito na Câmara ainda estavam em disputa. É a primeira vez, desde 1932, que os democratas conseguem ampliar em mais de 20 assentos o seu peso na Câmara. Mas os próprios caciques do partido estão conscientes de que parte da vitória veio, na verdade, de uma forte rejeição a Bush. "Após uma onda como essas, é comum perder cadeiras [nas eleições seguintes]. Estamos trabalhando para impedir isso", afirmou o presidente do comitê democrata de campanha no Congresso, deputado Christopher Van Hollen.

Parte dos especialistas afirma que Obama só impedirá a corrosão de sua base se adotar uma agenda centrista, em vez de ceder totalmente às pressões democratas. Com isso, seria capaz de atrair republicanos moderados e mostrar que pode trabalhar sobre um espectro mais amplo de aspirações dos eleitores. "Se Obama governar para o centro, será a alvorada de uma maioria democrata. Mas, se seguir a estratégia de Bush, terá uma ascendência curta", afirmou Kieran Mahoney, analista republicano, cuja consultoria inclui Steve Schmidt, um dos principais assessores do candidato derrotado John McCain.

A própria presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, sinalizou essa necessidade. "O novo presidente deve governar a partir do centro", afirmou. Entre os itens que Pelosi inclui na agenda parlamentar do futuro governo, estão a reforma do sistema de saúde, o fim da dependência do petróleo estrangeiro, a retirada das tropas do Iraque, e a retomada do crescimento econômico.

Embora entusiasmados, os democratas demonstraram certa frustração com o fato de não atingirem 60 cadeiras no Senado - marca que os permitira legislar praticamente sozinhos, evitando qualquer manobra republicana de bloqueio dos trabalhos. Por isso, o tom no Senado é de conciliação. "Estou comprometido em trabalhar com meus colegas republicanos", afirmou o líder dos democratas, senador Harry Reid.

Com agências internacionais

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