Degelo entre EUA e Irã aumenta tensão com Arábia Saudita
Avanço na cautelosa aproximação entre Washington e Teerã tem um efeito colateral para a política exerna americana: o aumento das tensões com a Arábia Saudita
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2016 às 11h39.
A aplicação do acordo nuclear internacional com o Irã marca um avanço importante na cautelosa aproximação entre Washington e Teerã, mas também gera um aumento das tensões com a Arábia Saudita .
Enquanto o governo do presidente Barack Obama insiste que seu objetivo é apenas impedir o crescimento do número de armas nucleares, os observadores detectam um esforço para gerar um novo equilíbrio.
E este esforço deu frutos nesta semana com a libertação de 10 marinheiros americanos capturados no Golfo por forças iranianas, com a libertação de prisioneiros no Irã e com a aplicação formal do acordo.
No entanto, diante dos confrontos entre Teerã e Riad, a aproximação com o governo xiita do Irã inevitavelmente alimenta a paranoia das monarquias sunitas do Golfo, tradicionalmente aliadas próximas dos Estados Unidos.
"Uma das visões de Obama para esta região, ao menos no Golfo, é o equilíbrio. Utiliza muito esta frase", declarou Frederic Wehrey, do Carnegie Endowment for International Peace.
Equilíbrio desfeito
Para além das guerras na Síria e no Iêmen, onde as forças apoiadas por Riad lutam contra as forças apoiadas por Teerã, uma paz regional englobadora só pode ocorrer quando ambos construírem uma relação de confiança.
E, apesar das ambições de Washington, as potências regionais rivais estão muito distantes disso. De fato, o compromisso dos Estados Unidos e do Irã no âmbito do acordo nuclear só serviu para deixar a Arábia Saudita muito ansiosa.
No Ano Novo, Riad executou um clérigo xiita por sedição, gerando protestos no Irã que levaram ao saque da embaixada saudita e à ruptura das relações diplomáticas.
Segundo Wehrey, Obama espera que se os dois rivais "não conseguirem alcançar uma distensão ou uma aproximação, ao menos mantenham o equilíbrio e consigam mais ou menos seguir adiante" para que os Estados Unidos possam se focar na Ásia.
"É claro que esta esperança de equilíbrio se rompeu", acrescentou o também acadêmico da Universidade de Oxford.
Os especialistas preveem que, após o início da aplicação do acordo nuclear com o Irã, Obama realize uma visita à península arábica para acalmar os governos saudita e dos Emirados.
O secretário de Estado americano, John Kerry, viajou na quinta-feira a Londres para conversar com seu colega saudita, Adel al-Jubeir.
Jubeir, ex-embaixador em Washington, está acostumado a ser ouvido e a obter solidariedade de seu aliado, mas Kerry deixou claro desde o início que havia assuntos a discutir.
Kerry não afirmou, mas fontes em Washington indicaram que o governo estava consternado com a execução do clérigo Nimr al Nimr, que piorou dramaticamente a crise.
"Os Estados Unidos estão e estarão com seus aliados e amigos na região. Mas também queremos que a diplomacia funcione", disse Kerry aos jornalistas antes de se reunir com seu colega saudita.
"Destruição"
Por sua vez, Jubeir lembrou a Kerry que a Arábia Saudita trabalhou estreitamente com os Estados Unidos no passado. E utilizou palavras duras para se referir aos líderes iranianos, a quem Washington busca seduzir.
Ao ser consultado se estava preocupado com o levantamento das sanções contra Teerã, Jubeir respondeu aos jornalistas: "Todos os países do mundo estão preocupados".
"O histórico do Irã é de guerra e destruição, terrorismo, desestabilização, interferência nos assuntos de outros países", insistiu, depois de se reunir com Kerry.
Jubeir havia considerado na semana uma ameaça para os Estados Unidos o fato de as forças iranianas terem capturado dez marinheiros americanos no Golfo.
No entanto, os marinheiros foram libertados 16 horas após sua captura e o departamento de Estado atribuiu a resolução do assunto às boas relações de Kerry com o chanceler iraniano.
Sócio menor
"Na minha opinião, o primordial para Obama é proteger o acordo com o Irã", disse Karim Sadjadpour, especialista em assuntos iranianos e sócio do Carnegie Endowment.
"Uma pessoa pode argumentar que não apenas é o principal tema de sua agenda para o Oriente Médio, mas que seu governo acredita que pode ser a coroação de uma conquista de política externa", acrescentou.
Antes da revolução islâmica do Irã, os presidentes da época, Richard Nixon entre eles, tinham uma estratégia para manter os vínculos tanto com o xá do Irã quanto com a Arábia Saudita.
Depois que os Estados Unidos cortaram os laços com Teerã em 1979 diante do drama dos reféns na embaixada no país, Riad passou a ser o sócio preferido, e com o boom do petróleo se tornou um sócio rico.
No entanto, o equilíbrio de poder mudou nos últimos anos.
Riad culpa Washington pelo aumento da influência do Irã no Iraque após o fim do regime de Saddam Hussein. Também está desiludida com o fato de os Estados Unidos não terem apoiado seu amigo egípcio deposto Hosni Mubarak e de terem defendido a primavera árabe.
"Acredito que este é o temor fundamental, uma espécie de ciúme estratégico de que os Estados Unidos estejam se inclinando a uma espécie de equilíbrio com o Irã", disse Wehrey.
A aplicação do acordo nuclear internacional com o Irã marca um avanço importante na cautelosa aproximação entre Washington e Teerã, mas também gera um aumento das tensões com a Arábia Saudita .
Enquanto o governo do presidente Barack Obama insiste que seu objetivo é apenas impedir o crescimento do número de armas nucleares, os observadores detectam um esforço para gerar um novo equilíbrio.
E este esforço deu frutos nesta semana com a libertação de 10 marinheiros americanos capturados no Golfo por forças iranianas, com a libertação de prisioneiros no Irã e com a aplicação formal do acordo.
No entanto, diante dos confrontos entre Teerã e Riad, a aproximação com o governo xiita do Irã inevitavelmente alimenta a paranoia das monarquias sunitas do Golfo, tradicionalmente aliadas próximas dos Estados Unidos.
"Uma das visões de Obama para esta região, ao menos no Golfo, é o equilíbrio. Utiliza muito esta frase", declarou Frederic Wehrey, do Carnegie Endowment for International Peace.
Equilíbrio desfeito
Para além das guerras na Síria e no Iêmen, onde as forças apoiadas por Riad lutam contra as forças apoiadas por Teerã, uma paz regional englobadora só pode ocorrer quando ambos construírem uma relação de confiança.
E, apesar das ambições de Washington, as potências regionais rivais estão muito distantes disso. De fato, o compromisso dos Estados Unidos e do Irã no âmbito do acordo nuclear só serviu para deixar a Arábia Saudita muito ansiosa.
No Ano Novo, Riad executou um clérigo xiita por sedição, gerando protestos no Irã que levaram ao saque da embaixada saudita e à ruptura das relações diplomáticas.
Segundo Wehrey, Obama espera que se os dois rivais "não conseguirem alcançar uma distensão ou uma aproximação, ao menos mantenham o equilíbrio e consigam mais ou menos seguir adiante" para que os Estados Unidos possam se focar na Ásia.
"É claro que esta esperança de equilíbrio se rompeu", acrescentou o também acadêmico da Universidade de Oxford.
Os especialistas preveem que, após o início da aplicação do acordo nuclear com o Irã, Obama realize uma visita à península arábica para acalmar os governos saudita e dos Emirados.
O secretário de Estado americano, John Kerry, viajou na quinta-feira a Londres para conversar com seu colega saudita, Adel al-Jubeir.
Jubeir, ex-embaixador em Washington, está acostumado a ser ouvido e a obter solidariedade de seu aliado, mas Kerry deixou claro desde o início que havia assuntos a discutir.
Kerry não afirmou, mas fontes em Washington indicaram que o governo estava consternado com a execução do clérigo Nimr al Nimr, que piorou dramaticamente a crise.
"Os Estados Unidos estão e estarão com seus aliados e amigos na região. Mas também queremos que a diplomacia funcione", disse Kerry aos jornalistas antes de se reunir com seu colega saudita.
"Destruição"
Por sua vez, Jubeir lembrou a Kerry que a Arábia Saudita trabalhou estreitamente com os Estados Unidos no passado. E utilizou palavras duras para se referir aos líderes iranianos, a quem Washington busca seduzir.
Ao ser consultado se estava preocupado com o levantamento das sanções contra Teerã, Jubeir respondeu aos jornalistas: "Todos os países do mundo estão preocupados".
"O histórico do Irã é de guerra e destruição, terrorismo, desestabilização, interferência nos assuntos de outros países", insistiu, depois de se reunir com Kerry.
Jubeir havia considerado na semana uma ameaça para os Estados Unidos o fato de as forças iranianas terem capturado dez marinheiros americanos no Golfo.
No entanto, os marinheiros foram libertados 16 horas após sua captura e o departamento de Estado atribuiu a resolução do assunto às boas relações de Kerry com o chanceler iraniano.
Sócio menor
"Na minha opinião, o primordial para Obama é proteger o acordo com o Irã", disse Karim Sadjadpour, especialista em assuntos iranianos e sócio do Carnegie Endowment.
"Uma pessoa pode argumentar que não apenas é o principal tema de sua agenda para o Oriente Médio, mas que seu governo acredita que pode ser a coroação de uma conquista de política externa", acrescentou.
Antes da revolução islâmica do Irã, os presidentes da época, Richard Nixon entre eles, tinham uma estratégia para manter os vínculos tanto com o xá do Irã quanto com a Arábia Saudita.
Depois que os Estados Unidos cortaram os laços com Teerã em 1979 diante do drama dos reféns na embaixada no país, Riad passou a ser o sócio preferido, e com o boom do petróleo se tornou um sócio rico.
No entanto, o equilíbrio de poder mudou nos últimos anos.
Riad culpa Washington pelo aumento da influência do Irã no Iraque após o fim do regime de Saddam Hussein. Também está desiludida com o fato de os Estados Unidos não terem apoiado seu amigo egípcio deposto Hosni Mubarak e de terem defendido a primavera árabe.
"Acredito que este é o temor fundamental, uma espécie de ciúme estratégico de que os Estados Unidos estejam se inclinando a uma espécie de equilíbrio com o Irã", disse Wehrey.