Crise dos refugiados rohingya é a pior desde 1990, diz ONU
Nos últimos dois meses, mais de 600 mil pessoas fugiram da violência e da perseguição no Mianmar e foram para Bangladesh
EFE
Publicado em 23 de outubro de 2017 às 09h51.
Genebra - A ONU e Bangladesh pediram nesta segunda-feira recursos e uma solução duradoura para os refugiados da etnia rohingya em Mianmar, depois que mais de 600 mil pessoas fugiram da violência e da perseguição nos últimos dois meses no estado de Rakhine, o que desembocou na pior crise de refugiados desde a década de 1990 e o genocídio em Ruanda.
Essa solicitação foi realizada no início de uma conferência de doadores organizada por ONU, União Europeia (UE) e Kuwait para reunir US$ 434 milhões para auxiliar os 603 mil rohingyas que chegaram a Bangladesh desde 25 de agosto e os 400 mil integrantes desta minoria muçulmana que já tinham fugido para esse país após ondas anteriores de violência.
"Há poucos precedentes da magnitude desta crise, salvo se voltarmos à década de 1990, quanto ao ritmo e ao número" de deslocados por conflitos, disse o titular do alto comissariado da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi.
O embaixador de Bangladesh, Shameem Ahsan, admitiu que a chegada e a presença de tantos refugiados em Cox's Bazar, distrito próximo à fronteira com Mianmar, está criando "enorme pressão social, econômica, demográfica e ambiental sobre o país".
"Apesar de tudo, a violência em Rakhine não acabou. Milhares de rohingyas ainda entram diariamente (em Bangladesh), que já recebeu - entre novos chegados e os 400 mil que já estavam no país - quase um milhão de refugiados", disse Ahsan, que acrescentou que 60% dos recém-chegados são crianças e mulheres.
"Trata-se do êxodo mais rápido de um único país desde o genocídio em Ruanda em 1994", comentou o embaixador bengalês, o que, segundo ele, gerou uma "situação insustentável" para os esforços de seu governo para atender aos refugiados.
O governo de Bangladesh atribuiu 3.500 hectares para os rohingyas, pois o acampamento principal está totalmente saturado, e afirmou que construirá assentamentos para 150 mil famílias rohingyas, nos quais já foram erguidas 114.826 unidades de habitação até o momento, disse Ahsan.
Além disso, as autoridades já fizeram o registro biométrico de 224 mil rohingyas até agora.
O embaixador pediu apoio à comunidade internacional para uma solução duradoura em Mianmar, e acusou o governo desse país de fazer "propaganda sem fundamento", qualificando os rohingyas como imigrantes ilegais bengaleses.
Mianmar não reconhece os rohingyas como cidadãos, por isso as pessoas dessa comunidade são consideradas apátridas.
O chefe humanitário da ONU, Mark Lowcock, lembrou que não se trata de uma crise isolada, mas que esta é apenas a última "onda de um ciclo de perseguição, violência e deslocamento que já dura décadas".
Lowcock insistiu nas exigências da ONU para que haja o fim de toda a violência e perseguição, para que seja garantido o acesso pleno de pessoal humanitário a Rakhine e o retorno seguro e com dignidade dos rohingyas.
Grandi, por sua vez, advertiu que, "se algo não for feito frente aos problemas de raiz em Mianmar de maneira urgente, não haverá tão cedo uma solução para esta crise".
O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), William Lacy Swing, também disse que a emergência "não tem precedentes na região e em muitas partes do mundo", e assegurou que "tudo é uma prioridade agora mesmo", desde a construção de assentamentos a serviços de saúde, instalações sanitárias, alimentação, proteção e segurança.
O diretor-executivo da ONG bengalesa BRAC, Muhammad Musa, disse que "muitos rohingyas perderam a esperança", enquanto que a presidente internacional da Médicos Sem Fronteiras (MSF), Joanna Liu, explicou que as instalações médicas "estão em seu limite" e que só há 250 leitos para um milhão de refugiados.