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Clinton sugere reformas para ampliar acesso à classe média

Ex-presidente americano destaca programa brasileiro de transferência de renda e liderança na produção de etanol

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h38.

Em vez de ficarem paralisados pelo debate entre a disciplina fiscal e o gasto social, os governos da América Latina devem se concentrar em reformas microeconômicas para permitir que mais pessoas de baixa renda tenham acesso à classe média. A sugestão foi dada pelo ex-presidente americano Bill Clinton em conversa com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno.

Um dos exemplos citados por Clinton foi o programa Bolsa Escola, do Brasil. "Precisamos investir tanto quanto possível e de modo inteligente em programas sociais que funcionam, como por exemplo os que fazem transferência de renda para os pobres desde que mantenham seus filhos na escola", disse o ex-presidente.

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Entre as reformas necessárias, Clinton citou o registro de pessoas sem documentos, o reconhecimento legal dos direitos de propriedade, a eliminação de barreiras burocráticas à criação de empresas e o cumprimento dos contratos.

Perguntado sobre a decisão do presidente Evo Morales de nacionalizar as fontes de energia da Bolívia, Clinton questionou o que faria se fosse um mineiro boliviano que trabalha 60 horas por semana e tem de alimentar quatro filhos que não têm perspectivas de um futuro melhor. "Por quem você teria votado?", perguntou. O ex-presidente observou, no entanto, que um governo pode nacionalizar os recursos naturais e dar dinheiro a seus cidadãos, mas se não fizer as reformas necessárias, os pobres continuarão a viver em terras sem registro, sem ter acesso ao crédito formal e sem possibilidades de gerar riqueza por conta própria.

Clinton acredita que nenhum dos dois modelos econômicos que a América Latina seguiu - um marcado pelo extremo conservadorismo fiscal, o outro pelo gasto público desmedido - conseguiu diminuir a disparidade entre a renda dos ricos e dos pobres na região, a mais pronunciada no mundo. "Se ficarem presos ao debate do passado, isto é, responsabilidade fiscal versus gasto social, acabarão desapontados, porque não reduzirão as desigualdades de um jeito ou de outro", afirmou. "A questão não é a apropriação dos bens do Estado ou dos bens dos ricos. O que se quer fazer é afirmar o poder dos pobres para que eles criem riqueza e se incorporem à classe média."

De acordo com o ex-presidente, a América Latina tem um futuro promissor como fonte de alimentos e biocombustíveis em razão das mudanças climáticas e da desertificação em outras partes do mundo. Segundo Clinton, Brasil e Argentina são dois países que aumentaram substancialmente sua produção de grãos na última década e ainda dispõem de solos férteis e profundos.

No curto prazo, conforme o ex-presidente, o maior potencial pode estar na produção de etanol de cana-de-açúcar como alternativa aos combustíveis derivados do petróleo ou do carvão. Conforme Clinton, o Brasil é o produtor de etanol mais eficiente do mundo, e outos países da região, como a República Dominicana, têm grande potencial para converter sua produção de cana-de-açúcar em combustível.

Na opinião do ex-presidente, Washington deveria reduzir o imposto sobre a importação de etanol, já que é improvável que a indústria dos Estados Unidos alcance níveis de produtividade similares aos brasileiros, e não deveria prejudicar ecossistemas frágeis para tentar expandir o cultivo de cana-de-açúcar.

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