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Cidades da Ucrânia ocupadas pelos russos no começo da guerra tentam se reerguer

Borodianka, Bucha e Irpin lembram os traumas do começo da invasão, mas população busca recuperar suas casas e suas vidas

Agência o Globo
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Publicado em 31 de maio de 2024 às 07h44.

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Em três cidades próximas a Kiev ainda é possível ver rastros da destruição que deixou a invasão russa de 24 de fevereiro de 2022. Borodianka, Bucha e Irpin estão tentando se reerguer, mais de dois anos depois do que a jovem Yelyzaveta Hrytsaienko, que estuda para ser tradutora de inglês, chama de “o maior pesadelo de nossas vidas”.

Enquanto caminha pela Igreja de Bucha, cidade que esteve 33 dias ocupadas por tropas russas no início da guerra e onde estima-se que morreram cerca de 500 civis, Yelyzaveta conta que já perdeu um amigo no campo de batalha, e atualmente está angustiada pela situação de um colega de escola que perdeu um braço e está internado. Ela mostra a foto do rapaz no celular, e diz que trocam mensagens todos os dias.

"Pergunto sempre como ele está, tento puxar conversa. É tudo muito difícil", afirma a jovem ucraniana, com lágrimas nos olhos. Ela nasceu em Bucha e assegura que não quer deixar a cidade.

"Tenho uma irmã que mora na Turquia e tentou me convencer e também aos nossos pais de deixar o país, mas não queremos. Nasci em Bucha e vivi toda minha vida aqui, não quero sair", enfatiza Yelyzaveta.

Na Igreja foram enterradas 116 pessoas, conta o padre Andrew, figura muito presente em redes sociais e que ficou famosa após as imagens da guerra em Bucha darem a volta ao mundo. Como em Kiev, os moradores de Bucha também tentam retomar uma vida o mais normal possível, cientes de que a guerra ainda poderia estar longe de terminar.

Nas ruas da pequena cidade circulam pessoas de todas as idades, e algumas cenas chamam especialmente a atenção de qualquer observador estrangeiro. Avós passeando com seus netos, casais com seus filhos, crianças indo para a escola e idosos sentados em praças conversando. A guerra continua, mas nas três cidades que foram ocupadas durante várias semanas pelos russos os esforços são pela reconstrução.

"Nos prometeram uma casa e estamos esperando", conta Hana, de 78 anos, enquanto espera para o ensaio de seu coro, que acontece toda quarta-feira, numa praça de Borodianka.

Ao lado de sua amiga Irina, a aposentada ucraniana diz que tem familiares no campo de batalha, que rompeu amizades com russos e que atualmente está apenas “cantando e esperando a vitória”. "Estamos invictos", diz Hana, antes de cantar uma canção nacional junto a Irina.

Borodianka também esteve 33 dias ocupada pelos russos e lá, segundo autoridades locais, 2.116 casas foram destruídas. Cerca de 6 mil habitantes foram embora e não voltaram, mas muitos outros continuam em suas casas e apartamentos, até mesmo em prédios que foram bombardeados nas primeiras semanas do conflito.

Na janela de um desses prédios uma senhora fuma um cigarro e dá tchau, quando é perguntada em inglês sobre a situação. Ela não fala inglês, e faz apenas um gesto que parece querer dizer “tudo bem”. Junto ao marido aceita tirar uma fotografia, sorrindo. Seu prédio, segundo autoridades da cidade, foi atacado com bombas de 500 quilos. Muitas famílias não sobreviveram ao que, dizem essas autoridades, foi o único bombardeio por aviação das primeiras semanas de guerra.

Museu da destruição

A cidade de Irpin também foi algo de uma invasão e ocupação russa. Numa de suas estradas principais foi montado uma espécie de museu da destruição, com carros e caminhonetes queimadas. A cada segundo, outros carros passam pela estrada sem sequer olhar para a pilha de automóveis destruídos. Assim se vive na Ucrânia hoje, tentando olhar para frente e deixar para trás dores e traumas de uma guerra que escala no front.

A 8,4 quilômetros de Kiev, uma nova ponte une a capital a cidades próximas. Ao seu lado, a ponte destruída pelo governo de Volodymyr Zelensky em 25 de fevereiro de 2022 para impedir o avanço dos russos continua lá, em ruínas. Estima-se que 40 mil pessoas foram evacuadas através desse local, em cenas que marcaram os ucranianos. A ponte velha, cuja implosão foi chave para impedir que as tropas russas chegassem à capital, vai virar um memorial em homenagem às vítimas da guerra.

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