Buraco na camada de ozônio em 2013: ela protege a terra de raios ultra-violetas emitidos pelo sol (Divulgação/NASA)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2014 às 16h21.
Genebra - Pela primeira vez em décadas, a camada de ozônio caminha para ser plenamente recuperada, depois de uma importante deterioração.
Ela pode estar completamente reconstituída até 2050, com um forte impacto sobre as condições climáticas no Hemisfério Sul.
O buraco sobre a Antártica deve começar a se reduzir a partir do ano de 2020. A constatação foi publicada nesta quarta-feira, 10, pela ONU, depois de realizar por quatro anos um estudo com 300 cientistas, inclusive brasileiros.
Em 2010, o informe apontava que não havia qualquer tipo de sinal de melhoria. Agora, a entidade comemora a descoberta e alerta que a recuperação apenas foi garantida graças a uma cooperação internacional.
O mesmo modelo, segundo a ONU, deve ser usada como exemplo para os futuros acordos entre governos para lidar com o clima.
A camada de ozônio protege a terra de raios ultra-violetas emitidos pelo sol e, diante da emissão de diversos gases, estava perdendo sua força com a formação de buracos que chegaram a ter a dimensão de verdadeiros continentes.
"Mas diante de certos indicadores positivos, a camada de ozônio deve se reconstituir até meados do século", comemorou o diretor-executivo do Programa da ONU para Meio Ambiente, Achim Steiner.
Segundo ele, até 2050 a projeção aponta que a camada poderá voltar a seus níveis de 1980, data que serve de referência. O auge do problema foi identificado em 1993.
Agora, a constatação é de que, a cada ano, a concentração de gases nocivos tem caído em 1%. A previsão é de que, diante desse cenário, 2 milhões de casos de câncer de pele conseguiram ser evitados até 2030.
Se todas as emissões de gases foram interrompidas, a camada estará recuperada no ano de 2039, um cenário que os cientistas admitem que não é mais realista.
Nem todas as regiões reagirão da mesma forma. As taxas estarão recuperadas antes da metade do século em latitudes médias e no Ártico.
Sul
A situação na Antártica ficará para um período um pouco mais tarde. O buraco continua a se formar a cada primavera e isso deve continuar pela maior parte do século. Isso porque, mesmo se as emissões de substâncias pararam, o acúmulo na atmosfera ainda terá um impacto.
No Hemisfério Sul, o buraco provocou importantes mudanças no clima durante o verão, com altas nas temperaturas da superfície, impacto nas chuvas nos oceanos.
A Península Antártica também se transformou no local com a mais rápida elevação de temperatura do mundo.
Em 2006, o buraco sobre o Polo Sul alcançou um recorde diante de um inverno especialmente frio. No total, a camada foi afetada em 29,5 milhões e quilômetros quadrados.
Pelas novas constatações, os cientistas apontam que o tamanho do buraco não vai mais se expandir.
"A expansão do buraco como vimos durante anos não deve mais ocorrer", declarou Geir Braathen, principais cientista da Organização Meteorológica Mundial.
"Talvez teremos mais dez anos de estabilidade e, a partir de 2020 ou 2025, ele começará a fechar", explicou.
O impacto disso será uma reversão no ritmo de aquecimento na Península Antártica. Já na América do Sul, essa tendência será confrontada com a previsão do aquecimento da região por conta das mudanças climáticas.
Para os cientistas, o que garantiu o resultado foi a aplicação do Protocolo de Montreal que, em 1987, estabeleceu regras para o uso de certos produtos, como o CFC, usados em geladeiras e aerossóis.
O acordo foi fechado depois que se constatou que, em todo o mundo, a camada sofreu uma forte diminuição de seu tamanho em toda a década de 80 e parte dos anos 90.
Desde então, as emissões de CFC foram reduzidas em 90%, cinco vezes superior ao que se pede para a redução de CO2 no Protocolo de Kyoto.
Como resultado, as regras de 1987 conseguiram estabilizar a perda da camada de ozônio a partir de 2000 e, agora, ela começa a aumentar.
Alerta
Mas o informe também alerta para a rápida elevação de certos produtos que passaram a ser usados como substitutos para os gases proibidos.
Segundo os cientistas, esses novos produtos também podem produzir gases de efeito estufa, como o HFC.
Os dados mostram que o ritmo de expansão é de 7% ao ano. "Essas substâncias vão contribuir de forma importante às mudanças climáticas e o aquecimento do planeta", alertou Geir Braathen.
A ONU e os cientistas pedem que esse produto seja abandonado e substituído por elementos menos nocivos.
Os cientistas também apontam que o futuro da camada de ozônio na segunda metade do século ainda dependerá da concentração de CO2 e metano, que continuam a aumentar.
"O que está em jogo é muito importante ainda", alertou Steiner.
"Mas o sucesso no caso da camada de ozônio deve servir como exemplo para a negociação de acordos sobre o clima. Temos as provas sólidas da importância da cooperação para garantir a proteção de nosso patrimônio comum", alertou.
Seu recado tem um destino claro: as negociações sobre um acordo climático, marcadas para o dia 23 de setembro em Nova Iorque.