Novos arranha-céus dominam São Paulo em boom imobiliário
O reaquecimento do mercado decorre de uma combinação de demanda reprimida após anos de crescimento lento e juros baixos
João Pedro Caleiro
Publicado em 28 de dezembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 28 de dezembro de 2019 às 09h00.
O mercado imobiliário de São Paulo nunca esteve tão em alta.
Caminhando pela cidade mais rica do Brasil, é impossível evitar canteiros de obras que deram vida a propriedades anteriormente vazias. Uma única rua no Itaim Bibi, o distrito financeiro da cidade, tem cinco arranha-céus sendo construídos. Os jornais estão cheios de anúncios de novos edifícios destinados a qualquer pessoa com um salário fixo.
Isso sem falar nos corretores de imóveis. Em alguns bairros, eles parecem estar em toda parte, esperando para abordar qualquer transeunte que pareça um potencial comprador. Espreitam do lado de fora das padarias e esperam nos semáforos, oferecendo folhetos com ilustrações de edifícios cobertos por plantas exuberantes ou repletos de todos os serviços de um hotel cinco estrelas.
O reaquecimento do mercado decorre de uma combinação de demanda reprimida após anos de crescimento lento e juros baixos.
Economistas apontam o boom da construção como um sinal de recuperação: o ritmo de expansão do setor no terceiro trimestre ficou duas vezes acima do crescimento do PIB. O salto ocorre após 20 trimestres seguidos de retração do setor.
Mais de 36 mil unidades residenciais começaram a ser construídas - a maioria apartamentos - em São Paulo nos primeiros 10 meses do ano. Com isso, 2019 pode registrar o maior número de novos projetos desde pelo menos 2004, segundo o Secovi. Os preços médios subiram 2% neste ano até novembro, para cerca de R$ 9 mil por metro quadrado, de acordo com o índice FipeZap.
“2019 será o melhor ano” em termos de vendas e novos projetos, disse Emilio Kallas, vice-presidente do Secovi-SP e presidente da Kallas Incorporações e Construções. “O efeito dos juros mais baixos na economia está sendo subestimado.”
A queda acelerada da Selic - a taxa básica caiu de 13,75% para 4,5% em apenas três anos - impulsionou a demanda por financiamento imobiliário.
Novos empréstimos para pessoas físicas totalizaram R$ 78,4 bilhões neste ano até outubro, um aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano passado, e a tendência está ganhando tração. Outubro foi o melhor mês desde dezembro de 2016, segundo dados do Banco Central.
A expansão já visível em São Paulo em breve será sentida em todo o Brasil, de acordo com Eduardo Fischer, copresidente da MRV Engenharia e Participações, a terceira maior construtora residencial do mundo. São Paulo abriga o maior empreendimento da MRV, com 7,3 mil apartamentos e 51 torres para o segmento de baixa renda, a um preço médio de R$ 230 mil reais.
“São Paulo teve vantagem porque é um mercado mais forte e já está crescendo”, disse Fischer em entrevista. “Isso acontecerá em outras capitais e estados nos próximos trimestres e anos.”
Embora os preços em outras cidades como Manaus e Florianópolis também estejam subindo com a recuperação do setor, eles ainda mostram queda em outros lugares do país, o que deixa os preços médios inalterados para o ano, de acordo com o FipeZap.
As novas torres variam de unidades de baixa renda a projetos ultraluxuosos, com “salas zen” e serviços para animais de estimação.
O Iconyc, que se descreve como nascido “entre Nova York e o Ibirapuera” e vende apartamentos de quatro quartos por cerca de R$ 2 milhões, tem salas de jogos compartilhadas para adultos e crianças, além de duas piscinas - uma com um teto projetado para evocar o céu noturno estrelado.
O edifício St. Leopold oferece até nove vagas de estacionamento por apartamento, um privilégio comum para os mais ricos de São Paulo. Os apartamentos custam a partir de R$ 15 milhões, segundo preços publicados on-line.
A poucos quarteirões da avenida Faria Lima, o VN faz parte de uma nova tendência de pequenos estúdios que despontam em São Paulo.
Para fugir dos limites dos apartamentos de 22 metros quadrados, os proprietários podem socializar em um jardim na cobertura ou no café do térreo, comodidades que a construtora espera que agrade aos millennials.
A menor unidade custa cerca de R$ 500 mil, o que equivale a R$ 23 mil por metro quadrado. Não há mais unidades disponíveis, segundo a construtora Vitacon.
A virada do mercado tem atraído investidores como Ed Kuczma, da BlackRock, que administra US$ 1,9 bilhão em fundos de ações latino-americanos e está overweight em construtoras brasileiras.
“O setor vive um momento único, com juros baixos e preços de imóveis abaixo dos níveis de pico anteriores”, disse.
“A economia avança rumo a um importante ponto de inflexão, onde o setor privado é a principal fonte de crescimento”, disse Kuczma. “De todas as economias investíveis na América Latina, o Brasil parece ser o único que pode acelerar o crescimento do PIB mais rapidamente em 2020.”