Canivetes da Victorinox em uma fábrica da companhia em Ibach, na Suíça (Philipp Schmidli/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 2 de outubro de 2014 às 23h31.
Zurique - Os olhos de Carl Elsener brilham quando ele conta como o pai lhe deu seu primeiro canivete suíço em seu quarto aniversário.
O diretor da Victorinox AG, a maior fabricante da icônica ferramenta suíça, não perdeu nada do seu entusiasmo quando fala da abertura da primeira loja conceito da empresa em Zurique mais de cinco décadas depois.
Amanhã, coincidindo com o seu 130º aniversário, a Victorinox abrirá uma loja de 220 metros quadrados na Bahnhofstrasse, principal rua comercial de Zurique. Lado a lado com butiques da Cartier e da Apple, a inauguração é o resultado de oito anos de busca de um local para a empresa familiar.
“O investimento nas lojas é, realmente, um investimento na percepção da marca”, disse o CEO, de 56 anos de idade, em entrevista no mês passado. “Com as nossas lojas próprias podemos dar apoio aos mercados importantes e promover o reconhecimento da marca”.
A Victorinox está investindo em sua própria marca em uma tentativa de combater a estagnação das vendas, refletindo uma estratégia que as fabricantes de produtos de luxo estão implementando cada vez mais para manter o controle sobre a forma em que seus produtos são exibidos e ganhar um maior contato com os clientes.
A Hugo Boss AG ampliou seus lucros depois que abriu mais lojas próprias para depender menos de vendedores de fora e a Prada SpA disse em abril que planeja inaugurar cerca de 120 estabelecimentos com sua marca homônima até 2016.
A Victorinox tem 75 lojas, em cidades como Genebra, Londres e Dusseldorf, que também vendem roupas e perfumes. A companhia abrirá duas ou três unidades por ano na próxima década, com foco na América do Norte e na Grande China, disse Elsener.
Brasil, Rússia, Índia e China são os mercados mais promissores e a localização é mais importante que o número de lojas, segundo o CEO.
Removedor de escamas
Dos 400 modelos de canivetes de bolso, Elsener disse que sempre leva o seu favorito, o Traveller, que o acompanhou em viagens para o Monte Kilimanjaro e para o desértico interior australiano.
Com mais de 20 funções, incluindo barômetro, altímetro e palito de dentes, esse modelo tem versões vendidas por até 143 francos suíços (US$ 150).
A empresa desenvolveu 80 ferramentas para seus canivetes, incluindo removedor de escamas de peixes, cortador de charutos, drives USB, talhadeira e instrumentos de poda para o jardim.
A Victorinox, que tem sede em Ibach, Suíça, foi fundada em 1884 por Karl, bisavô de Elsener, e sete anos depois começou a fornecer facas para o Exército Suíço. Em 2005, a companhia comprou a rival Wenger.
Medidas de segurança
A receita despencou mais de 30 por cento no ano após os ataques terroristas de 11 de setembro, em 2001, porque as pessoas compraram menos canivetes de bolso em lojas duty-free devido ao reforço das medidas de segurança.
Embora as vendas tenham aumentado desde então, elas permaneceram em cerca de 500 milhões de francos ao ano desde 2008, ainda abaixo dos níveis pré-11 de setembro, disse Elsener.
A empresa vem se diversificando em relação aos canivetes suíços, que agora respondem por cerca de 40 por cento das vendas.
Em agosto, a Victorinox comprou a TRG, com sede em St. Louis, Missouri, que tem uma licença para fabricar malas com a marca do Exército Suíço, por uma quantia não revelada. A empresa obtém 20 por cento de suas vendas com relógios.
“Com a queda das redes e outras lojas especializadas, nós podíamos vender apenas um leque muito limitado de produtos”, disse Elsener. “Nossas lojas próprias compensam isso”.
A Bahnhofstrasse é a segunda rua comercial mais cara da Europa em preços de aluguéis, depois da Bond Street, em Londres, e à frente da Champs Élysées, em Paris, segundo a Colliers International, uma empresa imobiliária.
A companhia, que tem cerca de 2.000 funcionários, não informa seus lucros. Apesar de anos de vendas lentas, a Victorinox diz que nunca demitiu nenhum empregado por motivos econômicos.
“Normalmente não é possível evitar cortes de pessoal, mas nós mantivemos todos eles”, disse Elsener. “Isso só foi possível porque nós possuíamos reservas dos bons tempos e reduzimos nossa semana de trabalho de 42 para 40 horas. Somos uma família. Passamos por bons e maus momentos”.