Marketing

De onde vêm as tendências de consumo?

Reinier Evers, fundador do Trendwatching, explica como nascem as tendências, de que países elas estão vindo e como o Brasil entra nessa história

Reinier Evers: "Uma pessoa precisa ser curiosa para buscar tendências" (Divulgação/Trendwatching)

Reinier Evers: "Uma pessoa precisa ser curiosa para buscar tendências" (Divulgação/Trendwatching)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2011 às 09h50.

São Paulo - Para saber identificar tendências, uma pessoa precisa, antes de tudo, ser curiosa, diz Reinier Evers. Expert em trends e fascinado pelo mundo dos negócios online que a internet possibilitou, o holandês é fundador da empresa de pesquisa de tendências de consumo Trendwatching, nascida em Amsterdam, mas hoje com sede em Londres e personificada em trend hunters espalhados por mais de 120 países.

Na companhia de Henry Mason, chefe de pesquisa & análise do Trendwatching, Reinier conversou com EXAME.com sobre a tarefa de buscar ideias promissoras pelo mundo e os países que estão na roda na hora de contribuir com inovações. Leia a entrevista.

EXAME.com – O que uma pessoa precisa para saber identificar tendências?

Reinier Evers - Ter curiosidade é importante. Claro que se torna mais fácil se você tem tempo e a habilidade de perceber que talvez o que acontece em um supermercado brasileiro pode estar acontecendo ao mesmo tempo em uma fábrica alemã. Quando se está focado em apenas um lugar e uma atividade, é mais difícil. Há também um perigo quando você está sozinho buscando tendências, que é o de se tomar como base para tudo. Você precisa ficar fora dessa análise, e pensar nas necessidades e gostos de vários tipos de pessoas.

EXAME.com - O Trendwatching.com está agora com conteúdo traduzido para português. Por que você achou importante se aproximar do Brasil?

Evers – É nas economias que estão indo bem que encontramos um interesse maior em tendências. Vemos isso no Brasil, na Turquia, na China e na Índia, por exemplo. O Brasil é um mercado imenso, com um sentimento muito positivo. Não apenas é uma economia jovem, como também uma sociedade jovem. Para nós, seria um desperdício de mercado se não estivéssemos presentes aqui. O que sentimos vindo da Europa hoje é muito negativo. Eu diria que Nova York, Cingapura e São Paulo são três lugares onde queremos estar.

EXAME.com - De que partes do mundo estão vindo as principais tendências hoje?

Evers – Por muito tempo, esperávamos que inovações em marketing e tecnologia, por exemplo, viessem da Europa e da América do Norte. Hoje, porém, vemos os novos mercados também contribuindo, e não apenas copiando. Faz sentido que tendências venham de sociedades de consumo estabelecidas. E é por isso que os Estados Unidos ainda trazem grandes novidades. Mas estamos vendo cada vez mais inovações e tendências vindas da China, da Índia... 


EXAME.com – E o Brasil, onde entra?

Evers – O Brasil ainda está muito no começo. O que temos hoje no Brasil é uma comunidade criativa muito grande e crescente, especialmente em inovações em marketing ou design. Os publicitários brasileiros estão sempre entre os mais premiados. Eu diria que o Brasil, apesar de ainda não ser um lugar de onde as principais tendências vêm, está muito bem posicionado. Aqui existe uma sociedade muito aberta e não-restritiva, e isso é bom. 

EXAME.com – O que países que “criam” tendências têm de especial?

Evers – É necessário ter uma cultura cosmopolita. É importante estar exposto a pessoas e culturas diferentes. Acho seguro dizer que o Brasil possui uma vantagem, que é a de ter uma sociedade que valoriza a criatividade e o individualismo. É um valor ainda complicado na China, porque a sociedade é extremamente coletiva. Lá há um medo em fazer coisas de forma diferente, de sair da linha. Mas é importante. Londres é um grande exemplo disso e um lugar fantástico para criatividade. 

EXAME.com - Tudo que vocês têm identificado tem, necessariamente, a ver com tecnologia?

Evers – Hoje tudo tem um aspecto tecnológico. A tecnologia se tornou uma parte da vida, oferece oportunidades para inovações sem que seja necessário envolver mil pessoas em um projeto. Acho que a parte fascinante da tecnologia é que você pode inovar de forma individual. Se você tiver uma grande ideia, pode distribuí-la de forma simples. Nós chamamos isso de "Off = On". Há poucos anos havia uma separação entre dois mundos. Mas hoje não. Hoje vivemos a cultura das telas.

EXAME.com – Você não acha que hoje há uma overdose de tendências? Elas estão sendo descobertas com uma velocidade cada vez maior. Como separar o que é modismo do que é algo realmente consistente?

Evers - Às vezes não é um trabalho fácil. Nosso posicionamento é de que é preciso olhar para inovações. Nós não fazemos previsões, apenas observamos o que está acontecendo no momento. O que acontece hoje já é novo o suficiente, e se pode fazer muita coisa com essas novidades. Se vemos algo que é popular e agradável a certo segmento de consumidores, e percebemos isso em outras partes do mundo, torna-se, de certa forma, seguro dizer que há uma demanda, há uma necessidade.


EXAME.com – Você pode dar um exemplo?

Evers - Hoje há um interesse crescente das pessoas em como e pelo que o processo de decisão de compra está sendo influenciado. E isso está acontecendo em uma escala tão grande, que não é apenas um fato isolado. Você percebe que não e algo que desaparecerá de uma hora para outra. Se isso estará acontecendo daqui a dez anos, eu não sei. Precisamos olhar para as necessidades mais profundas das pessoas.

EXAME.com – O que você acha que estará bombando em 2012?

Evers - Há um conceito chamado "Perfect stranger", que está associado a pessoas que você não conhece, mas com quem compartilha conteúdos porque vocês têm os mesmos gostos. São produtos ou serviços compartilhados, e não somente por meio de "seguidores" ou "fãs". Há também uma grande onda de marcas que buscarão mais humanidade em suas ações. Será uma forma mais transparente de se relacionar com consumidores. Veremos campanhas e marcas mais humanas.

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