Por que as regiões mais ricas do país recebem a maioria dos recursos voltados a projetos sociais?
Alterar a desproporcionalidade do volume de investimentos no eixo Rio-SP é fundamental para promover um desenvolvimento mais equilibrado no país
Colunista
Publicado em 12 de setembro de 2023 às 08h00.
Ao direcionar mais recursos para outras regiões, é possível promover o desenvolvimento econômico e social de áreas menos favorecidas, além de preservar a diversidade cultural e a identidade das comunidades locais, reduzindo a disparidade entre diferentes partes do país.
No meu último artigo, pude falar sobre performance na filantropia e como organizações fortalecidas, com os recursos e gestão adequadas, são capazes de entregar mais e, de fato, mudar a realidade de uma região e de quem depende dela e do serviço prestado.
Hoje, gostaria de trazer uma nova reflexão: da centralização de projetos e recursos por região e como isso pode impactar na dinâmica social. Naturalmente, o Sudeste, sendo a região mais rica e desenvolvida do Brasil, acaba estando mais apto para propor o maior número de projetos e, consequentemente, absorve a maior quantia de recursos dedicados à transformação de problemáticas sociais. No entanto, deveríamos voltar as nossas atenções, novamente, à desproporcionalidade deste volume e como a alteração desse cenário é fundamental para promover um desenvolvimento mais equilibrado.
Oque, muitas vezes, não ponderamos é que a concentração de projetos e recursos em uma única região pode acentuar as desigualdades sociais, uma vez que as áreas menos privilegiadas ficam desprovidas de oportunidades e acesso aos benefícios do desenvolvimento.
No mapa ilustrado pelo Portal Prosas, podemos verificar a distribuição dos recursos empenhados somente na Lei Rouanet no ano de 2022. Esses números se repetem de maneira muito semelhante nas demais calhas de incentivo, como em Fundos da infância e do idoso, por exemplo.
Um dado que torna mais preocupante é perceber que a concentração no eixo não é exclusividade das empresas privadas. Quando analisamos o investimento das estatais, percebemos que a concentração do investimento no eixo Rio de Janeiro - São Paulo é ainda maior do que quando consideramos o investimento total no mecanismo.
Precisamos de uma abordagem consciente e direcionada para garantir que as áreas menos desenvolvidas tenham acesso a oportunidades e recursos que as capacitem a crescer de maneira sustentável.
Devemos partir do princípio da capacidade das organizações em estarem aptas a executar projetos sólidos, relevantes e que dialoguem com a iniciativa privada de uma forma mais profissional, que entregue ótimos resultados - e que, principalmente, sejam sustentáveis economicamente, deixando um legado para a comunidade.
A descentralização de recursos e projetos pode contribuir para a redução das desigualdades regionais, melhorando a qualidade de vida de mais pessoas. E pode, inclusive, servir como um excelente laboratório para formação de cases com potencial de replicação exponencial - principalmente nos grandes centros, como RJ e SP.
O interesse de filantropos e organizações por mensurar a mudança social produzida por uma iniciativa vem crescendo em velocidade acelerada. Mas é preciso ir além do número! Enquanto resultados se relacionam com as conquistas concretas que, em geral, representam o alcance e a amplitude da iniciativa, o impacto pode ter uma natureza mais subjetiva - relacionado à ideia de transformação social.
Quando há diversidade de recursos e projetos em várias regiões, aumenta-se a probabilidade de inovação e soluções criativas para problemas locais, impulsionando o desenvolvimento de maneira mais holística. A distribuição mais equitativa de projetos e recursos pode fortalecer a participação cidadã, uma vez que as comunidades se envolvem mais ativamente na definição e implementação de iniciativas.
A propósito, vale destacar que um problema social só é, de fato, resolvido quando todos os membros da sociedade civil estão engajados! Importante termos em mente que não existe uma regra neste tema: em todas as regiões existem bons projetos e grandes problemas e, nos locais mais adensados, as demandas obviamente devem ser combatidas. Porém, devemos endereçar com responsabilidade o problema social que queremos e podemos resolver como investidores, e o impacto disso no global.
Não me parece fazer sentido apostar em empreendedorismo para o idoso de 70 anos da base da pirâmide socioeconômica, sendo que, nesta condição, ele demanda urgentemente saúde, ao mesmo passo em que acho natural buscarmos a transformação de uma nação através da educação para jovens.