Quer comprar um carro? Espera chega a 150 dias e preços sobem até 20%
Restrições causadas pela pandemia diminuíram oferta, enquanto segurança do transporte individual fez demanda subir
Marília Almeida
Publicado em 14 de abril de 2021 às 06h00.
Última atualização em 14 de abril de 2021 às 12h01.
Nos últimos meses 13 montadoras anunciaram a suspensão parcial ou total da produção no país por conta de um imbróglio logístico global: a falta de semicondutores no mercado, fabricados principalmente na Ásia. O segmento, assim como diversos outros, inclusive o das próprias fabricantes de carros , foi afetado pelas restrições que têm o intuito de controlar a pandemia.
Ou seja, mesmo que o consumidor tenha condições de comprar agora um veículo novo pode não conseguir: a fila de espera para modelos mais desejados varia entre 90 a 150 dias, diz o diretor de planejamento da Associação dos Revendedores de Veículos no Estado de Minas Gerais (AssoveMG), Flávio Maia.
Por outro lado, financiamentos mais baratos e uma maior segurança do transporte privado atraiu consumidores e provocou uma demanda inesperada. Antes, as taxas de financiamentos giravam em torno de 1% ao mês. Hoje, é possível encontrar no mercado bancos que cobram até 0,70% ao mês pelo crédito.
O resultado não poderia ser mais explosivo: preços até 20% mais altos (considerando uma esperada depreciação, que não aconteceu nos últimos 12 meses e, ao invés disso, houve alta de até 5% no valor) e falta de carros zero quilômetro. Segundo aFederação Nacional das Associações de Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), em março foram comercializadas 1.237.030 unidades, contra 1.188.275 no mês anterior. As vendas no acumulado de 2021 já são 14,1% maiores do que o mesmo período de 2020.
Quais modelos são mais afetados?
As poucas peças que são adquiridas pelas montadoras são destinadas a modelos mais rentáveis, que podem ou não ser fabricados no país. Portanto, não há um padrão: alguns modelos, tanto de entrada quanto mais sofisticados, podem estar mais em falta que outros.
Mas é um fato que o estoque baixo é generalizado no mercado, e atinge também os seminovos e usados, em um efeito dominó. Esse cenário provoca aberrações em alguns casos, como seminovos com valores mais altos do que o de veículos novos.
Alarico Assumpção Júnior, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), estima que do total de modelos zero quilômetro à venda no país, apenas 30% têm estoque disponível para pronta-entrega. "Acreditamos que ainda deve demorar até três meses para o mercado normalizar".
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Pesquisa do segmento de classificados do MercadoLivre mostra que em novembro houve uma alta de 1,5% nos preços de carros usados vendidos na plataforma. Modelos Chevrolet, Fiat e Renault tiveram poucas variações de preços no período, enquanto modelos da Toyota registraram queda de 2%, enquanto os da Hyundai, Mitsubishi e BMW apresentaram alta de 7%, 6% e 4%, respectivamente.
Veja abaixo a variação de preço observada nos veículos mais buscados na plataforma nos últimos 12 meses:
Não apenas o segmento de veículos de passeio está sofrendo, mas também o de caminhões, por conta de um aumento da demanda do comércio eletrônico, e também o de motos, cuja busca aumentou por conta do aquecimento do delivery. Para piorar, 80% das motos são fabricadas em Manaus, onde a pandemia está fora do controle. "A fila para adquirir motos para realizar um trabalho essencial chega a três meses", diz Junior, da Fenabrave.
Comprar, trocar ou vender? que fazer?
Esse cenário, naturalmente, não é propício para a compra, já que promove alta de preços e não dá espaço para barganhas, diz a diretora geral da Cox Automotive e da KBB, Ana Renata Navas. "Caso a necessidade seja emergencial, não há como fugir. Mas o consumidor deve pesquisar e preferir carros que tenham mais oferta no mercado para obter um preço melhor".
A executiva também não recomenda a troca agora. "Melhor esperar alguns meses para conseguir obter um valor maior". O conselho é reforçado por J.R Caporal, CEO da Auto Avaliar. "Quem vendeu um veículo usado por um bom preço pode optar por veículos por assinatura até o momento em que verificar melhores condições para a compra. Há planos hoje por a partir de 1.100 reais por mês, caso de um Fiat Mobi".
Já para quem precisa se desfazer do carro para pagar dívidas, uma saída encontrada pelos distribuidores para dar conta da demanda foi criar a troca com troco. A operação consiste na compra de um carro mais novo e troca por um mais antigo ou de menor valor, explica Junior, da Fenabrave.
"Quem tem um carro de 50.000 reais pode trocar por um de 30.000 reais e sair com 20.000 no bolso. Muita gente está desempregada e precisando de liquidez na crise para pagar o cheque especial e despesas da casa. É um jeito de aumentar estoques. Em geral paga-se ao vendedor o preço da tabela FIPE, mas vai depender da conservação do veículo".