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Tudo tem rendido menos após 2008 e a culpa não é só da crise

Estudo mostra que tanto a renda fixa, quanto a renda variável tiveram performances piores depois de 2008, mas a crise não é a única culpada

Bolso vazio: Redução dos juros explicam mais do que a crise o menor rendimento da renda fixa (Stock.xchng/playboy)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de fevereiro de 2014 às 11h54.

São Paulo – A situação anda desanimadora para os investidores , mas não só para quem investe na bolsa . Tanto os investimentos mais conservadores, quanto os mais arriscados têm trazido menores retornos de 2008 para cá, nos últimos seis anos, quando comparados aos seis anos anteriores, de 2002 a 2007. E a culpa não é só da crise .

Um estudo divulgado pelo Instituto Assaf com exclusividade para EXAME.com mostra o desempenho de alguns dos principais investimentos do mercado nos seis anos que precederam a crise financeira internacional, entre janeiro de 2002 a dezembro de 2007, e nos seis anos posteriores à crise, de janeiro de 2008 a dezembro de 2013, .

Confira abaixo os rendimentos brutos das aplicações nos dois períodos e veja na tabela seguinte os rendimentos reais de cada aplicação (descontada a inflação).

Investimento2002 a 20072008 a 2013
Poupança66,93%50,20%
CDB124,41%71,23%
Renda Fixa (CDI)133,07%77,46%
Ouro95,80%87,06%
Dólar-26,12%32,99%
Bolsa (Ibovespa)370,58%-19,37%
Imóveis (INCC)70,82%55,02%
Título Público (IMA-B)172,14%151,71%

Fonte: Instituto Assaf (veja a metodologia do estudo no final da matéria).

Entre 2002 a 2007, a inflação acumulada, medida pelo IPCA (índice oficial do Governo), foi de 50,7% e no período de 2008 a 2013, foi de 39,67%. Confira a rentabilidade real a seguir:

Investimento2002 a 20072008 a 2013
Poupança10,77%7,54%
CDB48,91%22,59%
Renda Fixa (CDI)54,66%27,05%
Ouro29,93%33,93%
Dólar-50,98%-4,78%
Bolsa (Ibovespa)212,26%-42,27%
Imóveis (INCC)13,35%10,99%
Título Público (IMA-B)80,58%80,22%

Fonte: Instituto Assaf


O resultado mostra que no geral as aplicações tiveram desempenhos piores no segundo período.

Em uma leitura desatenta, a crise pode parecer a resposta para a piora nos rendimentos, mas outros importantes fatores influenciaram os desempenhos, como os juros básicos da economia.

Renda fixa

Conforme explica Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos, a queda no desempenho dos ativos de renda fixa é ligada principalmente à política da taxa Selic . “Não existe uma relação direta entre a crise e os investimentos fora da bolsa. Existem crises nas quais os juros sobem e outras nas quais os juros caem”, afirma.

Como os juros são o principal fator de influência sobre o comportamento dos investimentos de renda fixa e a decisão de aumentar ou reduzir a taxa básica pode ser tomada por diversas motivações, como para conter a inflação, estimular o consumo, e não exatamente pela crise externa, é impossível dizer se uma nova crise pode prejudicar ou ajudar a renda fixa.

No caso dessa crise mais recente, por exemplo, a reação do governo à piora do cenário externo e à euforia nos países emergentes foi reduzir os juros para estimular o consumo. “O governo achou que tinha espaço e reduziu os juros para estimular o crescimento via consumo, mas fez isso de forma muito brusca. O resultado foi um crescimento baixo e uma pancada nos investimentos”, opina Alexandra.

Para William Eid, professor da Fundação Getúlio Vargas, a renda fixa também teve um rendimento menor no segundo período do estudo porque entre 2002 e 2003 os juros básicos estavam muito elevados. “Em 2002, durante a incerteza gerada pela eleição de Lula, o CDI estava em torno de 18%; em 2003 chegou a 26%, e ficava sempre acima de 15% no início do período”, diz.

Mercado de ações

Ainda que a crise não tenha sido o principal fator do pior desempenho da renda fixa após 2008, ela pode ter tido efeitos mais diretos sobre o mercado acionário.

Segundo William Eid, a crise influencia muito a bolsa porque afeta diretamente a atividade do capital estrangeiro no mercado, fator de grande impacto sobre a Bovespa. “No início de 2008, com a crise lá fora, os investidores achavam que aqui poderia ser diferente. O dinheiro veio para cá, mas depois, quando a situação piorou aqui, o dinheiro foi embora”, afirma.

Jurandir Sell Macedo, professor da UFSC e consultor do Itaú Unibanco, concorda que a crise teve forte impacto sobre a bolsa, os imóveis e os ativos no geral, mas ressalta que a relação nem sempre é direta, como mostra o caso da Venezuela, cuja bolsa teve o maior rendimento no mundo em 2013, mesmo em um cenário de crise.

Para Macedo, a bolsa brasileira foi afetada nos últimos anos sobretudo pela desconfiança dos investidores em relação ao governo. “A política econômica brasileira deixou a desejar em termos de credibilidade, houve excesso de intervenção e isso gerou um desânimo internacional."

Ele acrescenta que o mercado financeiro tem um comportamento maniqueísta, por isso as reações dos investidores sobre as atitudes do governo são as mais extremas. "O Brasil, que para os investidores estava decolando num passe de mágica, agora não tem mais nada que preste, na visão deles. Uma hora vai tudo para um lado e na outra hora tudo vai pro outro. O mercado é um pouco maníaco-depressivo”, brinca o consultor do Itaú.


Segundo Eid, existe uma crença entre estudiosos de que em países turbulentos, como o Brasil, quem corre pouco risco se sai melhor. Isso ocorre porque nesses mercados, a intensidade com que os ativos caem durante uma tendência de baixa é maior do que a intensidade com que eles sobem quando a tendência é de alta.

Em outras palavras, em países com maior instabilidade ganha mais quem diversifica na renda fixa, sem se preocupar em tomar muitos riscos.

Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf e responsável pela elaboração do levantamento, diz que uma das principais conclusões do estudo é que existem investimentos mais e menos cíclicos.

“É importante olhar os resultados para entender os riscos de cada investimento. Assim, quando o investidor sentir cheiro de crise, ele saberá melhor como movimentar o dinheiro de um investimento mais arriscado para outro de menor risco”, diz.

Estudo

Para chegar ao desempenho de CDB , dólar, ouro, poupança e CDI (taxa de juros que costuma balizar as aplicações de renda fixa), foram usadas as rentabilidades médias acumuladas divulgadas pelo Banco Central .A rentabilidade acumulada do Ibovespa foi utilizada para representar o desempenho da bolsa.

Para a variação dos imóveis foi usado o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) da Fundação Getúlio Vargas. E o desempenho dos títulos públicos foi medido pelo IMA-B, índice calculado com base na evolução de carteiras compostas por títulos atrelados ao IPCA (NTN-B).

O único investimento que teve um desempenho superior no período de 2008 a 2013 foi o dólar. Por ter como lastro a maior economia do mundo, a moeda é tida como um refúgio para investidores que querem se proteger em momentos de crise, o que eleva seu preço.

A bolsa foi o investimento com a maior guinada entre os períodos, o que comprova sua maior volatilidade e seu comportamento cíclico.

Os imóveis também têm trazido menores retornos. “O comportamento dos imóveis comprova a tese de que a bolha [alta artificial dos preços, seguida de queda brusca] existe. Até 2007 os imóveis subiram 70% e agora têm andado de lado”, comenta William Eid.

Os CDBs, títulos públicos e CDI tiveram os melhores resultados depois do dólar no período pós-crise, apesar de também sofrerem uma redução na rentabilidade do primeiro para o segundo período analisado.

A pior performance da renda fixa pode ser atribuída às oscilações dos juros, que no início de 2002 e 2003 estavam em patamares muito elevados, para no período de 2008 a 2013 passarem por uma redução, chegando à mínima histórica de 7,25% ao ano.

E a caderneta de poupança apresentou um desempenho pior após 2008 sobretudo pela mudança na sua regra de remuneração, realizada em maio de 2012.

Veja no vídeo a seguir como aferir se a rentabilidade de um investimento é alta:

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São Paulo – A situação anda desanimadora para os investidores , mas não só para quem investe na bolsa . Tanto os investimentos mais conservadores, quanto os mais arriscados têm trazido menores retornos de 2008 para cá, nos últimos seis anos, quando comparados aos seis anos anteriores, de 2002 a 2007. E a culpa não é só da crise .

Um estudo divulgado pelo Instituto Assaf com exclusividade para EXAME.com mostra o desempenho de alguns dos principais investimentos do mercado nos seis anos que precederam a crise financeira internacional, entre janeiro de 2002 a dezembro de 2007, e nos seis anos posteriores à crise, de janeiro de 2008 a dezembro de 2013, .

Confira abaixo os rendimentos brutos das aplicações nos dois períodos e veja na tabela seguinte os rendimentos reais de cada aplicação (descontada a inflação).

Investimento2002 a 20072008 a 2013
Poupança66,93%50,20%
CDB124,41%71,23%
Renda Fixa (CDI)133,07%77,46%
Ouro95,80%87,06%
Dólar-26,12%32,99%
Bolsa (Ibovespa)370,58%-19,37%
Imóveis (INCC)70,82%55,02%
Título Público (IMA-B)172,14%151,71%

Fonte: Instituto Assaf (veja a metodologia do estudo no final da matéria).

Entre 2002 a 2007, a inflação acumulada, medida pelo IPCA (índice oficial do Governo), foi de 50,7% e no período de 2008 a 2013, foi de 39,67%. Confira a rentabilidade real a seguir:

Investimento2002 a 20072008 a 2013
Poupança10,77%7,54%
CDB48,91%22,59%
Renda Fixa (CDI)54,66%27,05%
Ouro29,93%33,93%
Dólar-50,98%-4,78%
Bolsa (Ibovespa)212,26%-42,27%
Imóveis (INCC)13,35%10,99%
Título Público (IMA-B)80,58%80,22%

Fonte: Instituto Assaf


O resultado mostra que no geral as aplicações tiveram desempenhos piores no segundo período.

Em uma leitura desatenta, a crise pode parecer a resposta para a piora nos rendimentos, mas outros importantes fatores influenciaram os desempenhos, como os juros básicos da economia.

Renda fixa

Conforme explica Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos, a queda no desempenho dos ativos de renda fixa é ligada principalmente à política da taxa Selic . “Não existe uma relação direta entre a crise e os investimentos fora da bolsa. Existem crises nas quais os juros sobem e outras nas quais os juros caem”, afirma.

Como os juros são o principal fator de influência sobre o comportamento dos investimentos de renda fixa e a decisão de aumentar ou reduzir a taxa básica pode ser tomada por diversas motivações, como para conter a inflação, estimular o consumo, e não exatamente pela crise externa, é impossível dizer se uma nova crise pode prejudicar ou ajudar a renda fixa.

No caso dessa crise mais recente, por exemplo, a reação do governo à piora do cenário externo e à euforia nos países emergentes foi reduzir os juros para estimular o consumo. “O governo achou que tinha espaço e reduziu os juros para estimular o crescimento via consumo, mas fez isso de forma muito brusca. O resultado foi um crescimento baixo e uma pancada nos investimentos”, opina Alexandra.

Para William Eid, professor da Fundação Getúlio Vargas, a renda fixa também teve um rendimento menor no segundo período do estudo porque entre 2002 e 2003 os juros básicos estavam muito elevados. “Em 2002, durante a incerteza gerada pela eleição de Lula, o CDI estava em torno de 18%; em 2003 chegou a 26%, e ficava sempre acima de 15% no início do período”, diz.

Mercado de ações

Ainda que a crise não tenha sido o principal fator do pior desempenho da renda fixa após 2008, ela pode ter tido efeitos mais diretos sobre o mercado acionário.

Segundo William Eid, a crise influencia muito a bolsa porque afeta diretamente a atividade do capital estrangeiro no mercado, fator de grande impacto sobre a Bovespa. “No início de 2008, com a crise lá fora, os investidores achavam que aqui poderia ser diferente. O dinheiro veio para cá, mas depois, quando a situação piorou aqui, o dinheiro foi embora”, afirma.

Jurandir Sell Macedo, professor da UFSC e consultor do Itaú Unibanco, concorda que a crise teve forte impacto sobre a bolsa, os imóveis e os ativos no geral, mas ressalta que a relação nem sempre é direta, como mostra o caso da Venezuela, cuja bolsa teve o maior rendimento no mundo em 2013, mesmo em um cenário de crise.

Para Macedo, a bolsa brasileira foi afetada nos últimos anos sobretudo pela desconfiança dos investidores em relação ao governo. “A política econômica brasileira deixou a desejar em termos de credibilidade, houve excesso de intervenção e isso gerou um desânimo internacional."

Ele acrescenta que o mercado financeiro tem um comportamento maniqueísta, por isso as reações dos investidores sobre as atitudes do governo são as mais extremas. "O Brasil, que para os investidores estava decolando num passe de mágica, agora não tem mais nada que preste, na visão deles. Uma hora vai tudo para um lado e na outra hora tudo vai pro outro. O mercado é um pouco maníaco-depressivo”, brinca o consultor do Itaú.


Segundo Eid, existe uma crença entre estudiosos de que em países turbulentos, como o Brasil, quem corre pouco risco se sai melhor. Isso ocorre porque nesses mercados, a intensidade com que os ativos caem durante uma tendência de baixa é maior do que a intensidade com que eles sobem quando a tendência é de alta.

Em outras palavras, em países com maior instabilidade ganha mais quem diversifica na renda fixa, sem se preocupar em tomar muitos riscos.

Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf e responsável pela elaboração do levantamento, diz que uma das principais conclusões do estudo é que existem investimentos mais e menos cíclicos.

“É importante olhar os resultados para entender os riscos de cada investimento. Assim, quando o investidor sentir cheiro de crise, ele saberá melhor como movimentar o dinheiro de um investimento mais arriscado para outro de menor risco”, diz.

Estudo

Para chegar ao desempenho de CDB , dólar, ouro, poupança e CDI (taxa de juros que costuma balizar as aplicações de renda fixa), foram usadas as rentabilidades médias acumuladas divulgadas pelo Banco Central .A rentabilidade acumulada do Ibovespa foi utilizada para representar o desempenho da bolsa.

Para a variação dos imóveis foi usado o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) da Fundação Getúlio Vargas. E o desempenho dos títulos públicos foi medido pelo IMA-B, índice calculado com base na evolução de carteiras compostas por títulos atrelados ao IPCA (NTN-B).

O único investimento que teve um desempenho superior no período de 2008 a 2013 foi o dólar. Por ter como lastro a maior economia do mundo, a moeda é tida como um refúgio para investidores que querem se proteger em momentos de crise, o que eleva seu preço.

A bolsa foi o investimento com a maior guinada entre os períodos, o que comprova sua maior volatilidade e seu comportamento cíclico.

Os imóveis também têm trazido menores retornos. “O comportamento dos imóveis comprova a tese de que a bolha [alta artificial dos preços, seguida de queda brusca] existe. Até 2007 os imóveis subiram 70% e agora têm andado de lado”, comenta William Eid.

Os CDBs, títulos públicos e CDI tiveram os melhores resultados depois do dólar no período pós-crise, apesar de também sofrerem uma redução na rentabilidade do primeiro para o segundo período analisado.

A pior performance da renda fixa pode ser atribuída às oscilações dos juros, que no início de 2002 e 2003 estavam em patamares muito elevados, para no período de 2008 a 2013 passarem por uma redução, chegando à mínima histórica de 7,25% ao ano.

E a caderneta de poupança apresentou um desempenho pior após 2008 sobretudo pela mudança na sua regra de remuneração, realizada em maio de 2012.

Veja no vídeo a seguir como aferir se a rentabilidade de um investimento é alta:

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