Exame Logo

Os sete principais desafios do novo secretário do Tesouro dos EUA

Nome mais esperado da equipe de Barack Obama enfrentará pressões para cortar impostos e combater o déficit público

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O presidente do Federal Reserve em Nova York, Timothy Geithner, deve ser escolhido pelo presidente Barack Obama como o novo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, segundo diversas agências de notícias e redes de TV americanas. A notícia é atribuída a pessoas que participam da montagem do novo governo, que tomará posse em 20 de janeiro. Se for confirmado no cargo, Geithner enfrentará pressões tão intensas quanto Obama para conter a crise que se alastra pelo país. E não são apenas os americanos que aguardam a retomada econômica. Por ser o mercado mais importante do mundo, as medidas adotadas para estimular os Estados Unidos também repercutirão nos outros países. Veja, a seguir, os sete principais desafios econômicos de Obama e seu secretário.

1. Recessão econômica

Veja também

Reverter o encolhimento da economia americana é o principal desafio do novo governo. No terceiro trimestre deste ano, os Estados Unidos apresentaram uma retração de 0,3%, contrastando com a alta de 2,8% entre abril e junho. O dado indica que a economia americana já entrou em recessão. Os analistas esperam que o resultado fechado de 2008 apresente um crescimento econômico próximo de zero. As consultorias também projetam pelo menos mais dois trimestres de retração econômica - os últimos três meses de 2008, com um recuo estimado de 2,8%; e o primeiro trimestre de 2009, com queda de 1,4%, segundo a consultoria Macroeconomic Advisers. De acordo com a corretora brasileira Ativa, as projeções de médio prazo indicam recuperação, mas adotam a premissa de que o sistema financeiro esteja em pleno funcionamento - o que pode não ser verdade.

2. Desemprego em alta

Um dos efeitos mais visíveis da recessão é o aumento do desemprego. Em outubro, o país fechou 240.000 vagas. Foi o décimo mês consecutivo de retração do mercado de trabalho americano. No acumulado do ano, 1,2 milhão de postos foram eliminados. A taxa de desemprego, no mês passado, subiu para 6,5%, ante 6,1% em setembro. É o maior índice desde os 6,6% de fevereiro de 1994. Obama planeja criar uma instituição focada em investimentos em infra-estrutura de transporte. Ela receberia 60 bilhões de dólares ao longo de dez anos. O objetivo é estimular a criação de empregos no setor. O novo governo também pretende apoiar pequenas e médias empresas com bom potencial de crescimento e estimular o desenvolvimento de combustíveis limpos, setor que poderia absorver muita mão-de-obra.

3. Redução da capacidade das famílias e das empresas de tomar crédito

Em economês, os Estados Unidos estão passando por um processo de desalavancagem, ou seja, os consumidores e as empresas estão perdendo a capacidade de tomar crédito. Isso não acontece apenas porque os bancos estão mais receosos de emprestar dinheiro e o desemprego está em alta. Um dos grandes problemas é a redução das garantias dadas pelos tomadores. O exemplo clássico foi o que aconteceu com o preço dos imóveis. As famílias americanas costumam dar suas casas como garantia dos empréstimos que tomam para consumir. A forte queda do valor dos imóveis contribuiu para reduzir a capacidade de endividamento dos consumidores, porque menos dinheiro pode ser levantado a partir de casas mais baratas como garantia. Um fenômeno semelhante ocorreu com os bancos. Com as ações derretendo na bolsa, o patrimônio líquido das instituições encolheu. Como os limites de crédito que podem tomar no mercado para repassar aos seus clientes dependem do seu patrimônio, os bancos agora podem captar menos recursos na praça. Logo, parte da liquidez empoçada vem das restrições decorrentes da desalavancagem bancária. O desafio do novo governo, nesse ponto, é adotar medidas que consigam elevar a renda dos americanos. Entre as medidas possíveis, está a ajuda a mutuários para arcar com as hipotecas.

4. Corte de impostos

Um dos modos de elevar a renda dos americanos e, por tabela, o dinheiro disponível para consumo é cortar impostos. Obama pretende implementar diversas reduções de tributos e subsídios. A maior beneficiada seria a classe média, a fim de compensar o aumento do custo de vida decorrente de gastos maiores com educação e saúde, por exemplo. A equipe de Obama estuda simplificar a declaração de impostos e conceder subsídios que permitirão aos contribuintes abater parte do imposto de renda pago. A medida beneficiaria 10 milhões de americanos. Obama espera que o pacote seja implantado já no início de 2009. O desafio, aqui, é convencer os congressistas a aprová-lo. A atual legislatura, na qual os republicanos ainda têm espaço, é propensa a apoiar a extensão dos cortes de impostos promovidos pelo presidente George W. Bush, mas reluta diante de novos abatimentos. Obama quer reduzir a carga tributária das famílias com renda anual de até 200.000 ou 250.000 dólares.

5. Austeridade fiscal

Um dos grandes nós do próximo governo será equilibrar o aumento de gastos e a renúncia fiscal necessários para estimular a economia e a necessidade de conter o rombo nas contas públicas. O orçamento de 2008 encerrou seu ano fiscal em setembro com um déficit recorde de 455 bilhões de dólares. O próximo orçamento, que vigora entre outubro deste ano e setembro de 2009, pode terminar com um rombo bem maior: 1 trilhão de dólares, segundo os analistas. A saída, segundo os analistas, é investir em programas de médio prazo, como os de infra-estrutura, e em ações diretas sobre a renda dos consumidores. Obama também prometeu durante a campanha retirar as tropas americanas do Iraque, o que deverá reduzir os gastos militares.

6. Déficit comercial

O rombo nas contas públicas americanas não vem apenas da gastança promovida pelo governo Bush. O país também é deficitário na balança comercial. Até agosto (últimos dados disponíveis), o rombo nessa conta era de 478 bilhões de dólares, ante 471 bilhões no mesmo período de 2007. Com o representativo fortalecimento do dólar em relação à maioria das moedas mundiais nas últimas semanas, esse déficit pode se agravar. Obama afirma que o comércio exterior pode ajudar os Estados Unidos a retomarem o crescimento. Para a corretora Ativa, o novo governo deve recorrer à OMC para renegociar barreiras tarifárias e não-tarifárias, com o discurso de que a relação comercial deve ser mais justa. Obama também não deve fazer muitas concessões comerciais e promover grandes aberturas de mercado.

7. Novas fontes energéticas

Obama aposta no desenvolvimento de fontes alternativas de energia, como os combustíveis limpos, e enxerga nesse setor uma aposta promissora de novos empregos e menos dependência do petróleo. Mas, segundo a Ativa, o discurso de Obama é menos favorável aos interesses do Brasil que o do candidato republicano derrotado, John McCain. O republicano falava abertamente em cortar os subsídios ao etanol de milho produzido nos Estados Unidos. Já Obama não é explícito sobre esse ponto. A expectativa de alguns analistas é que a pressão para equilibrar as contas públicas vença os lobbies do etanol, e o subsídio caia.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Minhas Finanças

Mais na Exame