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Recuperação mundial será mais demorada que o previsto

Perdas de instituições financeiras só crescem apesar das centenas de bilhões de dólares gastos pelo governo americano para ajudar os bancos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Os números mais recentes mostram que as instituições financeiras americanas não estão reagindo às centenas de bilhões de dólares que o governo dos Estados Unidos injetou no setor desde meados do ano passado. O prejuízo recorde da seguradora AIG no quarto trimestre - 61,7 bilhões de dólares, o maior já registrado por uma companhia daquele país - e o novo plano de socorro ao Citi alimentam o pessimismo dos investidores, cada vez mais convencidos de que a recuperação da economia será mais lenta que o previsto. À medida que o tempo passa, também aumenta a sensação de que os programas de resgate erraram o foco e, por isso, não são suficientes. "As soluções focam nos sintomas, e não nas causas. Os programas lançados voltam-se para os efeitos, representados pela crise bancária, sem dar a devida atenção às causas", afirma um relatório da SISR, uma consultoria financeira independente dos Estados Unidos.

Para os analistas, o melhor exemplo de como o governo americano está equivocado é a disparidade entre o quanto de dinheiro ele já injetou em algumas empresas, e o quanto elas valem hoje. Somente o Citigroup recebeu 52 bilhões de dólares do Tesouro americano no ano passado - 45 bilhões em injeção de capital, e outros 7 bilhões em troca de 301 bilhões de dólares de ativos podres assumidos pelo governo. Apesar dessa montanha de dinheiro, o banco continua em dificuldade, e fechou esta segunda-feira (2/3) com um valor de mercado de 8,175 bilhões de dólares, de acordo com a Thomson Financial. Seu valor equivale a apenas 16% do que recebeu do governo entre outubro e novembro de 2008. O Itaú Unibanco, por exemplo, fechou esta segunda-feira com um valor de mercado de 33 bilhões de dólares, segundo a Central do Investidor de EXAME.

A AIG, responsável por uma queda histórica das principais bolsas de valores do mundo nesta segunda, recebeu 150 bilhões de dólares do Tesouro americano no ano passado - em troca de 80% de participação do governo em seu capital. Após a divulgação dos prejuízos, nesta segunda, o Tesouro resolveu liberar outros 30 bilhões para evitar uma crise sistêmica, totalizando um aporte de até 180 bilhões na companhia. O valor de mercado da AIG, contudo, é de apenas 1,130 bilhão de dólares - ou 0,7% do total injetado pelo governo.

Somente no ano passado, o governo americano lançou 20 programas para estimular a liquidez do sistema financeiro. O TARP (Troubled Asset Relief Fund), aprovado em outubro pelo Congresso, após muita polêmica, é apenas o mais famoso deles, por ser também o maior - prevê 700 bilhões de dólares para injetar nos bancos em dificuldades. Desse total, 350 bilhões foram consumidos nos últimos meses da administração Bush. Mas há outras siglas menos conhecidas dos brasileiros, como o TALF (Term Asset-Backed Securities Loan Facility), lançado em novembro de 2008, com um orçamento de 200 bilhões de dólares.

Enquanto o TARP foca a compra, pelo governo, de títulos lastreados em empréstimos imobiliários, o TALF é dirigido para papéis lastreados em outros tipos de financiamento, como compra de automóveis e empréstimos de pequenas empresas. Mas essas cifras bilionárias ainda não foram suficientes para reverter a situação. "O TARP foi uma desgraça: o governo só injetou capital nas empresas; os problemas continuam lá", afirma Mariam Dayoub, estrategista-chefe da gestora de investimentos Arsenal.

Qual é o preço?
O maior problema, segundo os especialistas, continua sendo calcular o valor justo dos títulos lastreados em empréstimos - sejam eles imobiliários, ou a compra de um automóvel. O lado mais conhecido da história é a desvalorização dos imóveis. Segundo a consultoria americana SISR, entre janeiro de 2006 e janeiro de 2009, o preço dos imóveis nos Estados Unidos despencou 77,26%. E o pior: ainda não chegou ao fundo do poço. A consultoria projeta uma queda de mais 15% nos próximos quatro meses. Mas o raciocínio também é válido para outros tipos de crédito. Desde que a crise das montadoras americanas se agravou, as empresas e os revendedores vêm cortando o preço dos veículos para incentivar as vendas - desvalorizando todo o mercado e, por tabela, os títulos lastreados em crédito automotivo.

A conseqüência é que nem o governo, nem os bancos, conseguem calcular o valor dos títulos lastreados em hipotecas ou outros ativos que ainda estão em suas carteiras. E isso é o que está paralisando o governo americano neste momento. A decisão não é apenas técnica. Depois da grande injeção de dinheiro público - leia-se, dos contribuintes - nas instituições financeiras e dos resultados pífios dessa medida, o governo está pisando em ovos. Se comprar os títulos podres dos bancos por um preço considerado alto, despertará a ira de políticos e contribuintes.

Se oferecer um valor muito baixo pelos papéis, serão os bancos que perderão o interesse em vendê-los. Para as instituições, há dois problemas em aceitar um valor baixo. "Os subsídios ofertados pelo governo estão muito baratos", afirma Mariam, da Arsenal. Outro motivo é que eles não podem aceitar um preço muito baixo, porque complicaria ainda mais sua situação contábil. "A equação para os bancos é mais cruel. Se eles aceitarem um valor muito baixo, podem ficar com o patrimônio líquido negativo", afirma Marcelo Xandó, diretor da gestora de recursos Verax.

Fundo do poço
Somente a queda do estoque de imóveis poderá conter a queda dos preços e, por tabela, permitir que bancos e governos calculem o valor dos ativos em suas carteiras. "O estoque de imóveis, mais que os outros, é um indicador-chave para a capacidade de a economia se recuperar", afirma relatório do Bank of America/Merrill Lynch. O problema é que esse será um processo lento. O banco não espera uma estabilização do estoque em níveis razoáveis antes do ano que vem. Até lá, haverá mais espaço para queda de preços - cerca de 3% por trimestre, segundo suas estimativas.

"A crise bancária não será resolvida até que o preço dos imóveis pare de cair, e a recessão não terminará sem isso", afirma a consultoria americana SISR. Para os mutuários, a estabilização dos preços também é uma condição para outra prática bastante americana: a de dar a residência como garantia de empréstimos para o consumo.

Mas, para Xandó, da Verax, a crise americana já extrapolou os limites do problema da hipotecas. "O subprime foi a grande ferida, mas, à medida que os bancos apresentam perdas, a própria natureza de suas operações fica comprometida", diz. É a famosa crise de confiança, que leva os bancos em melhores condições a não emprestar dinheiro para quem está com problemas, empoçando os recursos injetados no sistema. A crise financeira também já contaminou bastante a economia real. A freada do crédito faz com que empresas e consumidores tenham menos recursos para cumprir seus compromissos ou adquirir novos bens, arrastando o mundo para uma recessão. Mariam, da Arsenal, afirma que, para a economia real, "2009 será horrível; 2010 será de estabilização e início de recuperação; e 2011 deverá ser se retorno ao crescimento potencial".

Para o Bank of America/Merrill Lynch, os Estados Unidos não devem crescer mais de 1,5% no próximo ano. Segundo o banco, o novo ponto de equilíbrio da economia mundial estará em um Estados Unidos com maior nível de poupança e menor nível de consumo, ao lado de outros países menos poupadores e mais consumistas. "Mas isso é um ajuste que, provavelmente, levará anos", diz o relatório. Ao que parece, o otimismo dos investidores em relação aos bancos americanos não deve voltar tão cedo.
 

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