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Recapitalização dos bancos precisa começar, afirma Martin Wolf

Colunista do Financial Times afirma que os bancos com problemas são grandes demais para quebrarem sem danificar o sistema financeiro global

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Em artigo publicado pelo Financial Times, o colunista Martin Wolf defende a reestruturação imediata dos bancos americanos. Segundo Wolf, o governo deve intervir nas instituições, cujo porte é grande demais para que sua falência não cause problemas ao sistema financeiro. Leia, a seguir, os principais trechos do artigo:

"O senador republicano Lindsey Graham, o ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, e James Baker, segundo secretário do Tesouro do governo Ronald Reagan, são a favor. Ben Bernanke, atual presidente do Fed, e uma administração de democratas liberais estão contra. O que os divide? "Nacionalização" é a resposta.

Em 1978, Alfred Kahn, um conselheiro sobre inflação do presidente Jimmy Carter, usou a palavra "depressão". O presidente ficou tão bravo que Kahn passou a chamá-la de "banana". Mas a recessão que Kahn prognosticou aconteceu de qualquer modo. O mesmo pode acontecer com a nacionalização. De fato, já está acontecendo: como alguém descreve as ações do governo federal em relação ao Fannei Mae, Freddie Mac, AIG e, crescentemente, Citigroup? A nacionalização não é a nova grande banana do sistema financeiro?

Muito do debate é semântico. Mas, por baixo dele, há pelo menos duas grandes questões. Quem vai conduzir as perdas? Qual é o melhor modo de reestruturar os bancos?

Os bancos somos nós. O debate sempre foi conduzido como se eles pudessem ser punidos sem nenhum custo para o povo. Mas, se eles geram perdas, alguém precisa assumi-las. Com efeito, a decisão tem sido fazer com que os contribuintes arquem com as perdas que deveriam recair sobre os credores. Alguém pode argumentar que os acionistas deveriam ser resgatados também. Mas, corretamente, isso não está ocorrendo: o preço das ações está em colapso. É para isso que servem os acionistas.

Além disso, a esmagadora massa de ativos dos bancos é financiada por meio de empréstimos, não de patrimônio. Portanto, a decisão de proteger todos os credores possui fortes implicações. Se aceitarmos a definição de Bernanke de que a "nacionalização" é a decisão de "eliminar os acionistas privados", nós poderemos chamar essa medida de "socialização".

Quais são os prós e contras?

São dois os grandes contras. Primeiro, a socialização das perdas reduz o custo de capital dos megabancos, subsidiando seletivamente seus balanços. Isso, por sua vez, exacerba o problema do "grande demais para falhar". Segundo, isso deixa os acionistas com uma opção de valorização e, diante dos atuais valores de mercado, próximo do risco zero em uma desvalorização. Isso motivará um movimento de baixa. Então, a socialização das perdas aumenta a necessidade de controlar a gestão. Os quatro maiores bancos comerciais dos Estados Unidos - JP Morgan Chase, Citigroup, Bank of America e Wells Fargo - possuem 64% dos ativos de todos os bancos comerciais americanos. Se os credores desses negócios não podem sofrer significativas perdas, não se trata muito de uma economia de mercado.

O "pró" de uma socialização parcial é que isto elimina o risco de outro pânico dos credores ou dos investidores em relação às obrigações dos bancos, como seguros e fundos de pensão. Desde que os títulos dos bancos representam um quarto dos títulos corporativos americanos com grau de investimento, o risco de pânico é real. Após as conseqüências da quebra do Lehman, a decisão parece ser a única alternativa a uma falência desordenada. Isto é alarmante.

A segunda grande questão é como reestruturar os bancos. Um ponto está claro: uma vez que alguém decide socorrer os credores, a recapitalização não pode mais vir na forma da tradicional troca de dívidas por ações.

Esse processo deixa as instituições ou com capital do governo, ou com capital privado. Na prática, ambas as possibilidades são parcialmente bloqueadas nos Estados Unidos. A primeira, pela fúria dos políticos. A segunda, por uma série de profundas incertezas - sobre a valorização dos ativos podres, o futuro tratamento dos acionistas, e os prováveis rumos da economia. Isso torna a alternativa do "banco zumbi" uma saída provável. Aliás, esse tipo de bancos zumbis subcapitalizados também encontra dificuldades para reconhecer perdas ou expandir seus créditos.

A resposta do Tesouro americano é o seu exercício de "teste de estresse". Todos os 19 bancos com ativos acima de 100 bilhões de dólares estão incluídos. Eles foram solicitados a estimar suas perdas em dois cenários. O pior deles assume, quase otimistamente, que a maior queda do PIB será de 4%, na comparação anual, no segundo e terceiro trimestres de 2009. Os supervisores decidirão se mais capital é necessário. As instituições necessitadas lançarão títulos conversíveis para o Tesouro, e terão seis meses para levantar capital privado. Se forem malsucedidas, os títulos conversíveis serão transformados em ações na base do "quanto for necessário".

Isso, então, é a socialização das perdas em ação - ela garante um pára-choque público para proteger os credores. E poderia terminar dando ao governo o controle acionários de algumas instituições: o Citigroup, por exemplo. Mas, dizem os cricris, isso não é uma nacionalização.

Quais são, então, os prós e contras dessa abordagem, comparada com uma intervenção franca nas instituições? Douglas Elliott, do Brookings Institution, analisa essa questão em um intrigante artigo. Parte da resposta, ele sugere, é que ainda não está claro se os bancos estão insolventes. Se Nouriel Roubini, da Stern School de Nova York, estiver certo (como tem estado até aqui), eles estão. Se Roubini estiver errado, eles não estão. O professor Roubini sugere, por esse motivo, que seria melhor esperar seis meses para, deste modo, distinguir entre as instituições solventes e insolventes; elas parecerão fortemente descapitalizadas.

Nestas circunstâncias, a idéia de "nacionalização" deveria ser vista como um sinônimo de "reestruturação". Poucos acreditam que os bancos seriam mais bem geridos pelo governo indefinidamente. A vantagem da nacionalização, então, é que ela permitiria reestruturar os ativos e as obrigações em "bons" e "maus" bancos. As maiores desvantagens são inerentes à organização de takeover e à reestruturação de instituições tão complexas.

Se for impossível impor perdas aos credores, o governo deveria controlar os bancos por um longo período, antes que eles estejam aptos a retornar ao mercado. A maior reestruturação bancária realizada nos Estados Unidos, antes deste ano, foi o do Continental Illinois, assumido em 1984. Era então o sétimo maior banco e demorou uma década. Quanto tempo demoraria a reestruturação e a venda do Citigroup, com sua complexa rede global? Que prejuízos o processo traria para suas operações e filiais?

Estamos dolorosamente aprendendo que os megabancos mundiais são muito complexos para gerir, muito grandes para falhar e muito difíceis de reestruturar. Ninguém gostaria de começar isso. Mas, à medida que o mercado de ações piora os bancos devem ser resgatados de um modo sistemático e ordenado. Os testes de estresse deveriam ser mais severos que o agora planejado. A recapitalização deve ser feita. Chame-a de banana, se você quiser. Mas a reestruturação dos bancos deve começar."

 

 

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