Rating socioambiental ganha espaço nas instituições financeiras
Avaliação de empréstimos e financiamentos começa a incorporar riscos sociais e ambientais dos projetos
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Cada vez mais, não basta apenas que um projeto seja viável economicamente para que os bancos o financiem. Algumas instituições já incorporaram um novo critério em sua análise de risco: o rating socioambiental, que indica o grau de prejuízos sociais e ambientais que podem ser gerados por uma proposta. O objetivo é incentivar o desenvolvimento econômico que não agrida o meio ambiente nem prejudique as populações afetadas pelos projetos financiados. "Queremos incentivar o uso racional dos recursos naturais", afirma Maurício Athie, coordenador de Meio Ambiente para a América Latina do International Finance Corporation (IFC), o braço financeiro do Banco Mundial que é dedicado a operações junto à iniciativa privada.
O IFC foi o responsável, em 2002, pela formalização dos critérios de análise de rating sociambiental. Tais critérios foram chamados de Princípios do Equador e sua elaboração contou com a ajuda de diversas instituições financeiras de porte mundial. A adesão ao conjunto de critérios de análise é voluntária. Atualmente, 26 bancos em todo o mundo seguem os princípios, sendo quatro brasileiros (Bradesco, Itaú, Itaú BBA e Unibanco).
Segundo Athie, embora a adesão pareça pequena, as instituições participantes estão entre as maiores do mundo. É o caso do Citigroup, maior banco privado do mundo, e do Mizuho Corporate Bank, um dos quatro maiores bancos do Japão. "O grupo que aderiu aos princípios representa cerca de 70% de todo o crédito privado mundial", diz Athie, sem citar números.
Classificação de risco
Por convenção, os bancos só aplicam o rating socioambiental para projetos cujo financiamento é superior a 50 milhões de dólares. Os empréstimos são divididos em três categorias: A (elevado risco ambiental e social), B (médio risco) e C (baixo risco). De prático, os bancos comprometem-se a elaborar um relatório ambiental sugerindo mudanças nos projetos classificados como A ou B, a fim de reduzir seus impactos.
Embora disponha de linhas de crédito para a iniciativa privada, o IFC não aporta recursos para os bancos que aderiram aos Princípios do Equador. "A adesão é voluntária e os projetos são financiados com recursos dos próprios bancos", diz Athie. O IFC financia, neste momento, cerca de 30 projetos no Brasil, mas Athie não informou quantos foram analisados sob critérios socioambientais, nem a quantia de recursos envolvida.
Arranjos produtivos
Mesmo sem aderir formalmente aos Princípios do Equador, o Banco do Brasil mantém desde setembro do ano passado um grupo técnico de Desenvolvimento Regional Sustentável, coordenado pelo gerente executivo Edson Moreira Correa Filho. Composta por 16 profissionais, o grupo se reporta diretamente ao conselho diretor do banco e é responsável pela análise de projetos que enfatizem aglomerados produtivos, como os de pequenos produtores rurais.
O grupo não possui um orçamento próprio para financiar projetos. Sua função é analisar as propostas de maior interesse e encaminhar para as áreas do banco em que o dinheiro pode estar disponível, como as diretorias comercial, de varejo ou de agronegócios. "Todos os projetos são analisados do ponto de vista da sustentação ambiental", diz Correa Filho.
Para 2004, o grupo pretende atender 920 municípios, beneficiando 184 400 famílias e treinando 1 324 funcionários do banco, para que entendam os critérios de análise socioambiental. Entre os projetos implantados pelo grupo, estão o desenvolvimento do pólo agroflorestal de Dom Moacir, no município de Bujari, no Acre, para o qual foram destinados 270 mil reais; e o manejo sustentável da extração de castanha no Pará, para o qual o banco reservou 350 mil reais. A carteira de crédito total do banco, em 2003, atingiu 77,636 bilhões de reais. Athie e Correa Filho participaram nesta quinta-feira (7/10) do seminário "Rating Sociambiental", organizado pela Unicorp e Uniemp em São Paulo.