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Queda da produção reforça aposta de novo corte de 1 ponto da Selic

Freada da produção industrial, em dezembro, surpreende e deve levar o BC a acelerar o ritmo de redução dos juros, segundo analistas

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O mercado elevou as apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) promova mais um corte de um ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), em sua próxima reunião. Previsto para os dias 10 e 11 de março, o encontro do colegiado do Banco Central ocorrerá sob a sombra do indicador de produção industrial divulgado nesta terça-feira (3/2). Em dezembro, as indústrias brasileiras viram sua atividade cair 12,4% em relação a novembro - trata-se do pior desempenho desde 1991, quando o IBGE começou a apurar a série.

"Os números da indústria em dezembro tendem a reforçar as apostas em um novo corte da Selic de 1 ponto percentual na reunião do Copom de março", afirma a consultoria LCA, em relatório. Para a LCA, a diferença entre o crescimento efetivo do PIB e o seu potencial, chamado de hiato do produto, foi mais negativo do que se imaginava. A desaceleração econômica vai reduzir as pressões inflacionárias, o que dará espaço para o BC cortar os juros.

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A Sul América Investimentos apostava, até a divulgação dos números do IBGE, em um corte de 0,75 ponto percentual em março. "Vamos rever o cenário e pode haver, agora, uma expectativa de um corte de 1 ponto", afirma o economista-chefe da corretora, Newton Rosa. A empresa de análises econômicas Austin Rating também projeta um corte de 1 ponto em março. "O Copom já havia avisado, na ata da última reunião, que concentraria os cortes", diz seu economista-chefe, Alex Agostini. Para o Barclays, já apostava em redução de 1 ponto, o resultado da produção industrial só reforçou essa necessidade.

Desaceleração continua em janeiro

Para os economistas, não há mais dúvidas de que o BC vai acelerar o ritmo de queda dos juros. O primeiro motivo é a rápida deterioração da economia. Os especialistas já indagam se, após o resultado dramático de dezembro, os números de janeiro poderão vir melhores. Para o Banco Real, é possível que não. Nesta terça, a instituição divulgou o resultado de um indicador criado pelo próprio banco para acompanhar o termômetro da economia: o Índice Gerentes de Compras (PMI)., baseado em dados de produção, novos pedidos, emprego, períodos de entrega dos fornecedores e níveis de estoques.

O PMI recuou de 40 pontos para 38,1 pontos de dezembro para janeiro, mostrando que a deterioração econômica continua. De acordo com o Banco Real, é o quarto recorde consecutivo de baixa. Quanto mais abaixo de 50 pontos, maior é a tendência de desaceleração da economia mostrada pelo indicador. Quanto mais acima de 50 pontos, mais aquecido está o país.

De acordo com o Banco Real, a freada econômica continuou pesando em janeiro, as encomendas seguiram em queda e o desemprego também contribuiu. As empresas também informaram mais dificuldades na obtenção de crédito.

Novo patamar

O segundo motivo para que o BC acelere o passo é que os cortes dos juros não repercutem imediatamente sobre a economia. É o conhecido lag de efeito, no jargão do mercado. Em média, uma queda da Selic só é sentida pela economia seis meses depois de efetuada. "Depois que o calendário vira para o segundo semestre, os cortes perdem o efeito sobre o ano corrente", afirma Agostini, da Austin Ratings. Por isso, restam poucos meses para o Copom trazer os juros para um patamar que reanime a economia.

A pergunta do mercado, agora, é qual é este patamar? O último relatório Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira (2/2), mostra que, na média, as instituições financeiras projetam uma Selic de 10,75% ao ano em dezembro. O número está em queda há quatro semanas. A Austin Ratings, que estimava uma Selic de 11,25%, deve revisar sua projeção para 10,75% ou 10,50% ao ano, de acordo com Agostini.

Já a Sul América Investimentos já trabalhava com o cenário de 10,75% ao ano para dezembro. "O BC vai encurtar o ciclo de ajustes, mas não deve baixar o patamar dos juros", diz Rosa. Segundo o economista, isso sinaliza a postura cautelosa da autoridade monetária. Embora tudo aponte para a convergência da inflação para o centro da meta neste ano - a Sul América trabalha com uma expectativa de IPCA de 4,60% -, o BC pode manter os juros neste nível para evitar uma eventual contaminação do câmbio sobre os preços, ou uma reação da demanda que pressione a produção.

Para Agostini, chegar ao final do ano com juros ao redor de 10% é o limite que a política conservadora do BC permite. O economista lembra que, em breve, o BC pode evocar um conceito de que gosta bastante - o de taxa de juros de equilíbrio. Trata-se do nível de juros em que o país cresce sem gerar inflação. A taxa de equilíbrio é um segredo que só os membros do Copom conhecem. Mas simulações do mercado indicam que, para o BC, ela se situa em uma taxa de juros real de 8% a 8,5% ao ano. "Por isso, quando os juros nominais chegarem a 11%, podemos começar a ouvir o BC falar da taxa de equilíbrio", diz Agostini.

Mas há quem aposte em uma ação mais ousada do BC. O banco americano Morgan Stanley, por exemplo, afirma que o Copom pode cortar a Selic para 9,75% ao ano, já em meados de 2009. A expectativa inicial do banco, segundo a agência de notícias Bloomberg, era de 11,75% ao ano. Para tanto, o Morgan Stanley espera que o Copom promova três cortes consecutivos de um ponto percentual, a partir do atual patamar de 12,75% ao ano.

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