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Queda de 32% dos papéis da ALL Logística mostra como o mercado está nervoso

Units perderam um terço do valor em apenas quatro dias, devido a rumores de que empresa enfrentaria problemas de crédito; companhia nega dificuldades

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Em apenas quatro dias, a ALL Logística amargou uma queda de 32% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Somente nesta quarta-feira (1/10), as units da empresa (ALLL11) foram os papéis que mais caíram entre os que compõem o Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, com um tombo de 13,07%. Cada unit da companhia é composta por uma ação ordinária e quatro preferenciais. Durante o dia, circularam rumores de que a empresa enfrentaria problemas de caixa - desmentidos pela ALL em comunicado. Foi o suficiente para que os papéis derretessem. O caso mostra como os investidores estão tensos em relação a companhias com suspeitas de endividamento ou dificuldades financeiras.

"A ALL tem uma boa geração de caixa, mas sua alavancagem pode vir a passar por um momento delicado, e seus planos de investimento são elevados", afirma a analista de transportes da Link Corretora, Maria Tereza Azevedo. Em comunicado, a empresa negou qualquer problema de caixa e afirmou que "mantém sólida posição financeira, com mais de 2,5 bilhões de reais em caixa e com um cronograma de amortização de dívida longo e bem distribuído no tempo, com prazo médio superior a cinco anos e sem a necessidade de acessar o mercado de crédito nos próximos anos".

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Nesta quarta (1/10), a companhia de logística também anunciou seu terceiro programa de recompra de papéis, com o objetivo de adquirir 5 milhões de units. Para pagá-las, a empresa adiantou que usará recursos de seu caixa, cuja situação é considerada "sólida" pela ALL.

Torneiras fechadas

O nervosismo do mercado deve-se à crescente escassez de crédito. O primeiro reflexo concreto, no Brasil, da crise que se alastra pelo mundo é o fechamento das linhas de financiamento para empresas. Cada vez mais companhias relatam dificuldades para obtenção de recursos para investir ou manter o giro. O dinheiro está mais caro e os financiadores, mais ariscos. Outro sintoma é a crescente opção das empresas por meios alternativos de captação de recursos, como a emissão de notas promissórias e de debêntures.

"Empresas que necessitem de capital de giro vão sofrer, e os investidores estão atentos a isso", afirma Rossano Oltramari, analista da corretora XP Investimentos. "A liquidez vai secar", completa.

A Rossi Residencial é outro exemplo de como as dívidas pesam cada vez mais sobre as ações na bolsa. Entre os papéis que compõem o Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, as ações ordinárias da construtora (RSID3, com direito a voto) são as que mais caíram neste ano - 76%. Não por acaso, a Rossi é uma das empresas mais endividadas do setor de construção civil.

Repique do dólar

Não é apenas a dificuldade em obter dinheiro que preocupa os analistas. O encarecimento das linhas de crédito em moeda estrangeira não se deve somente à maior aversão ao risco, que se traduz em juros mais altos e aprovação do crédito mais difícil. O recente repique do dólar também onera as operações e penaliza as companhias brasileiras. "Quem se endividar agora vai trazer um crédito mais caro para o balanço", afirma Delano Marques, consultor de investimentos do Private Banking do Banco Real.

O salto da moeda americana pressiona, ainda, as empresas que já possuem dívidas atreladas a ela. Por isso, mesmo que a companhia não tenha captado nada nos últimos tempos, nem tenha pretensões de fazê-lo, pode ver suas ações caírem na bolsa pelo fato de sua dívida crescer na mesma proporção do câmbio e do desconforto dos investidores. "O perfil das dívidas e a rolagem vão ser bastante monitorados", afirma Oltramari, da XP Investimentos.

Outro sinal de que empresas endividadas ou que necessitem de dinheiro estão espantando os investidores é a crescente simpatia por papéis de setores focados no mercado interno, e com pouco contato com o exterior. "Esse é o caso das empresas de telecomunicações e do setor elétrico", afirma Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora.

Não por acaso, as companhias do setor elétrico estão entre as mais resistentes à crise até o momento. Nos mesmos quatro dias (de 26 de setembro a 1 de outubro, em relação ao fechamento de 25 de setembro) em que a ALL perdeu 32% de seu valor de mercado devido às suspeitas de problemas de caixa, e a Rossi Residencial (RSID3) amargou um tombo de 25,52%, as ações de algumas elétricas chegaram, inclusive, a subir. As ordinárias da CPFL (CPFE3) ganharam 4,23%; e as ordinárias da Cemig (CMIG3) subiram 6,23%. Mais um sinal de que, nos últimos tempos, dívidas ou necessidade de levantar dinheiro só deixa os investidores estressados - seja nos Estados Unidos ou no Brasil.

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