Exame Logo

Quais empresas se salvaram no primeiro trimestre?

Em um cenário de queda de receitas e lucros, analistas apostam em bons resultados de companhias ligadas ao consumo interno - como AmBev, Souza Cruz e NET - e estão pessimistas com Vale e Petrobras

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O mercado anda tão escaldado com a imprevisibilidade da crise que poucos arriscam afirmar que o primeiro trimestre será o fundo do poço para as empresas brasileiras, apesar de os dados já divulgados indicarem para essa direção. O primeiro trimestre deve ser marcado pela queda de receitas, margens e lucros devido aos impactos da crise.

"Os números mostram que o trimestre não foi fácil e, provavelmente, veremos muitas empresas com menos faturamento", afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings. Mas a nova safra de balanços, cuja divulgação se concentrará entre o final de abril e meados de maio, também mostrará companhias com crescimento sólido apesar da turbulência global.

Veja também

As principais apostas concentram-se nos setores sustentados pelo consumo interno, desde que os bens não dependam de crédito. É o caso de bebidas, supermercados e shopping centers. Outras empresas que devem se sair bem são as que possuem preços administrados, como as de energia elétrica e telecomunicações.

Mas, mesmo esses casos não podem ser generalizados. O que chama a atenção nos relatórios de prévia de resultados para o primeiro trimestre é que os analistas estão apontando a dedo quem deve apresentar crescimento. "É difícil definir uma tendência", diz Eduardo Roche, gerente de análises da Modal Asset Management. "Alguns setores apresentarão resultados melhores que o quarto trimestre, mas inferiores aos do início de 2008", acrescenta.

Além disso, o ajuste de estoques, que derrubou as vendas nos últimos meses do ano passado, ainda persistiu em alguns setores entre janeiro e março. "Apesar da melhora de vendas de alguns setores, a indústria ainda está muito estocada", avalia Kelly Trentin, analista-chefe da SLW Corretora.

Pelo lado positivo, a Ativa Corretora destaca a menor pressão do câmbio, o que deve contribuir para a queda das despesas financeiras - rubrica que respondeu pela maior parte dos prejuízos no quarto trimestre. Veja, a seguir, que empresas devem apresentar um resultado positivo, segundo as corretoras.

Telecomunicações: além da operadora de telefonia GVT (GVTT3), que já divulgou seus resultados nesta quarta-feira (22/4), a outra aposta dos analistas é a NET (NETC4). A operadora de TV paga deve apresentar elevada taxa de crescimento, devido ao impulso das vendas de pacotes de serviços (TV, banda larga e telefone VoIP). Segundo a Ativa, também não houve sinais significativos de inadimplência dos clientes no período. A empresa de TV por assinatura, no entanto, deve ser prejudicada nos próximos meses pela decisão da Anatel de proibir a cobrança pelo ponto extra.

Bebidas: a Itaú Corretora, que opera de modo independente do banco, espera um "sólido trimestre" para a Ambev (AMBV4). A expectativa é que o volume vendido de cerveja cresça 3% ante igual período do ano passado, puxado pelo reajuste do salário mínimo, pelo clima mais quente e pelo Carnaval, entre outros. O Itaú espera um incremento de 15,4% na receita trimestral, que chegaria a 5,593 bilhões de reais, e lucro líquido de 1,389 bilhão - 86,8% maior.

Fumo: longe da mídia por conta das restrições à publicidade de cigarros, a Souza Cruz (CRUZ3) também está no centro das atenções do mercado. A Itaú Corretora projeta um "trimestre forte" para a companhia. As vendas de cigarro ainda não apresentarão o reflexo do aumento dos impostos sobre o produto, promovido pelo governo no final de março. Além disso, a empresa deve se beneficiar de uma conjuntura favorável nas exportações de tabaco: os contratos, fechados em 2008, ganharam fôlego com a desvalorização cambial. O Itaú espera um incremento de 23,6% na receita líquida, que chegaria a 1,396 bilhão de reais. Já o lucro projetado é de 339 milhões, 29,2% maior.

Operadora de cartões: com a escassez de crédito bancário, a Planner Corretora aposta que os lojistas buscaram se financiar por meio do desconto de recebíveis (contas a receber) geradas por faturas de cartão de crédito. Para a corretora, a Redecard (RDCD3) deve se beneficiar dessa necessidade, acarretando um "expressivo resultado financeiro líquido". Outra razão para o otimismo dos analistas é a esperada expansão da rede de terminais eletrônicos (POS) da companhia. A Planner estima uma receita líquida de 712,3 milhões de reais, com alta de 27,5% sobre o primeiro trimestre de 2008. Já o lucro líquido projetado, 318,9 milhões, seria 43,3% maior.

Saneamento: das companhias listadas na Bovespa, a Sabesp (SBSP3) é a que apresentará melhor desempenho, segundo a Fator Corretora. A companhia paulista deve ser favorecida pela estabilidade cambial, já que 24% das suas dívidas estão atrelados a moeda estrangeira. A corretora estima que a receita líquida atinja 1,677 bilhão de reais, com alta de 8,9% sobre o mesmo período do ano passado. Já o lucro líquido esperado, de 312,4 milhões de reais, seria 2,9% superior.

Elétricas: a Ativa destaca a retração do consumo de energia de 4,8% no primeiro bimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. As indústrias foram a categoria de clientes que mais cortaram o consumo: 13,5%. O cenário deve prejudicar, sobretudo, distribuidoras que tenham a indústria como grande cliente. As esperanças das corretoras recaem sobre a AES Tietê (GETI4), por ser uma geradora de energia pura (sem negócios com distribuição). A empresa também será beneficiada pela queda de 0,9% do IGP-M no período. Esse índice de inflação corrige a dívida da companhia com a Eletrobrás. A Fator Corretora projeta receita líquida de 426,2 milhões de reais para a empresa, 7,5% maior. Já o lucro líquido seria de 197,8 milhões, 14,5% maior. Das 16 companhias de energia elétrica listadas na Bovespa, as outras que devem apresentar receita e lucro maiores que as do primeiro trimestre de 2008, segundo a Fator, são: Cesp (CESP6), Coelce (COCE6), CPFL (CPFE3) e Eletropaulo (ELPL6).

Varejo: O Pão de Açúcar (PCAR4) deve publicar seus números apenas em 13 de maio, mas o grupo já divulgou alguns dados, como o desempenho das vendas no critério "mesmas lojas" (aquelas com mais de 12 meses de operação). Segundo a Itaú Corretora, ajustadas sazonalmente, as vendas desses estabelecimentos cresceram 9% em relação ao mesmo período do ano passado. Por isso, a empresa é uma das apostas dos analistas para esta safra de balanços. Para a Ativa Corretora, outro destaque deve ser a Lojas Americanas (LAME4), para a qual espera-se a continuidade dos bons números apresentados no quarto trimestre de 2008. Segundo a Ativa, a Americanas mostrou um "resultado sólido operacionalmente", com expansão de margens.

Shopping centers: para a Ativa, a desaceleração da economia, refletida na queda das vendas, deve ser compensada pela maior receita de aluguéis, já que os contratos são reajustados pelo IGP-M. Com isso, o desempenho de três administradoras de shopping centers listadas na Bovespa - BR Malls (BRML3), Iguatemi (IGTA3) e Multiplan (MULT3) - deve ser positivo. A corretora também destaca que a queda dos juros beneficiará o setor, sobretudo a BR Malls, devido ao seu maior nível de alavancagem financeira.

O quadro que emerge das projeções das corretoras não é animador e sinaliza que os investidores ainda precisam ter cautela. "Se o investidor está esperando os resultados trimestrais para comprar ações, o cenário é adverso", afirma Eduardo Roche, gerente de análises da Modal Asset Management. "Será muito difícil usar os resultados como um catalisador para altas da Bovespa", completa.

Basta lembrar que aumenta o pessimismo dos analistas em relação aos números que serão divulgados pelas duas grandes blue chips brasileiras - a Vale a e Petrobras. Principais empresas negociadas na bolsa, ambas devem ser prejudicadas pela queda da demanda por seus produtos, pela redução dos preços no mercado mundial e pelos custos elevados e difíceis de controlar. Este é mais um motivo para prestar atenção nas empresas que serão exceção neste trimestre.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Minhas Finanças

Mais na Exame