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Propaganda enganosa

Conceitos coletivos que passam de pai para filho prejudicam a capacidade de aproveitar melhor aquele dinheiro que sobra no fim do mês. Veja aqui as verdades e as mentiras sobre os mitos mais difundidos na hora de investir

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

BOI GORDO
O mico mais recente do mundo dos investimentos é, sem dúvida, o contrato de engorda de gado. Várias empresas surgiram no rastro da Fazendas Reunidas Boi Gordo -- que pediu concordata no mês de outubro. O prometido nesse tipo de negócio era que, ao fim de 18 meses, aquele boi magro comprado pelo investidor estaria 42% mais gordo. Tirando os 10% de taxa de administração da empresa, o restante do dinheiro da venda do animal era o rendimento do investidor. Especialistas dizem que era um retorno alto demais para os padrões desse tipo de negócio. "Parecia uma pirâmide, em que o dinheiro arrecadado era usado para tapar buracos", diz William Eid Jr., professor da FGV-SP. Outra questão: o dinheiro tomado dos investidores nem sempre era investido em bois. Muitas vezes, era usado para comprar novas fazendas. E aí não havia nem boi para engordar. Para quem colocou suas economias na Boi Gordo, as chances de recuperá-las são pequenas. Investidores lesados estão formando associações para tentar o ressarcimento. A decisão judicial, porém, pode se arrastar por anos. Por isso, quando aquele seu amigo, expert em negócios, vier com uma superdica de algo que rende mais do que todos os outros produtos da indústria financeira, desconfie. Milagres não existem no mundo dos investimentos.

IMÓVEIS
Você já deve ter ouvido dizer que investir em imóveis é uma alternativa segura e rentável. Resquício dos tempos de inflação, esse é um dos mitos mais arraigados na cultura brasileira. Quem não conhece alguém que ainda hoje se vangloria de comprar ou construir casas para viver de renda? "Terrenos próximos de áreas urbanas eram realmente uma boa na década de 70", explica o professor Eid. "O Brasil estava se urbanizando, e o valor dos imóveis nas cidades, crescendo."

Seja para combater as perdas provocadas pela inflação, seja, no mínimo, pela segurança de ter um bem próprio, durante muito tempo o investimento imobiliário foi visto como líquido e certo. A verdade é que de líquido, hoje, ele não tem nada. Há casos e mais casos de gente que precisou de dinheiro às pressas e teve de vender seu imóvel a preço de banana. O fato é que casas, apartamentos ou terrenos não têm liquidez. Ou seja, se você precisa do dinheiro, tem duas alternativas: ou aceita o que o mercado estiver pagando no momento, e perde dinheiro em alguns casos, ou espera até encontrar quem pague o preço pedido. Há ainda o problema da desvalorização da região e da depreciação do imóvel. Uma área nobre pode se transformar numa região degradada em dez ou 20 anos -- e vice-versa. Além disso, quem tivesse comprado para vender mais tarde apartamentos grandes com apenas uma vaga na garagem (mais do que suficiente na década de 70), hoje provavelmente teria chances reduzidas de encontrar bom preço, já que agora a maioria das famílias tem dois ou mais veículos. "É uma aposta na sorte", diz Eid.

É claro que, se você está comprando seu primeiro imóvel e vai viver nele, a situação é diferente. É uma questão cultural: o brasileiro tem o sonho de morar no que é seu. Mas, se o objetivo é investir, pode não ser um bom negócio. Na verdade, pode até lhe trazer prejuízo. Se não conseguir alugá-lo, vai ter de arcar sozinho com as despesas de condomínio e IPTU. Os gastos com manutenção também vão sair do seu bolso. Além disso, o rendimento do aluguel em geral não corresponde ao que você poderia ganhar aplicando a mesma quantia no mercado financeiro. Portanto, se você herdou uma casa na praia que ninguém freqüenta ou uma fazenda onde não pretende produzir, considere seriamente a possibilidade de se desfazer logo desses bens e aplicar o dinheiro em outra coisa.

Uma modalidade mais moderna de investimento em ativos reais -- caso dos imóveis -- são os fundos imobiliários, criados no Brasil em 1993. Em poucas palavras, eles funcionam assim: empreendedores do ramo captam recursos de vários pequenos investidores para financiar a construção de shopping centers e edifícios comerciais. Os investidores se tornam donos de cotas desses imóveis e, no futuro, terão direito ao rendimento proveniente do aluguel desses espaços. Nem nesse caso há garantias de retorno do investimento. Alguns empreendimentos chegam a oferecer remuneração mínima ao investidor pelo período em que o edifício estiver sendo construído. Algo como receber o valor de um aluguel ainda durante a construção do imóvel. Mas é só uma estratégia para atrair mais investidores, porque não há certeza de que o espaço se manterá alugado quando estiver pronto. Outro problema é a liquidez do investimento, já que as cotas não podem ser resgatadas, opção que você tem ao investir num fundo em banco. Se quiser sair, você terá de arranjar um comprador que assuma sua posição. E o mercado secundário -- aquele onde é feita a revenda das cotas -- ainda não está muito desenvolvido. Além disso, não há um sistema de referência de preços estruturado (algo como os classificados de imóveis dos jornais), o que aumenta a possibilidade de você ser enganado na hora de comprar e vender suas cotas. Por isso, fundos imobiliários acabam sendo também um negócio de risco. Moderado, porém de risco.

POUPANÇA
Aproximadamente 110 bilhões de reais no Brasil e 1 trilhão de dólares nos Estados Unidos. Esses números impressionantes são a soma total do dinheiro aplicado em caderneta de poupança em cada um desses países. O que espanta é que, tanto lá como aqui, ainda há quem insista em manter seu dinheiro numa aplicação que rende praticamente a metade da renda fixa. Quem tivesse feito uma aplicação de mil reais na poupança em janeiro de 1999, teria hoje 1290,55 reais. Se, no mesmo período, tivesse aplicado esse valor num fundo DI, teria 1 461,23, já descontados uma taxa de administração hipotética de 1,5% ao ano e os 20% de imposto de renda que incidem sobre esse tipo de investimento. A poupança teria dado um rendimento de 29,1%. Quem preferiu o fundo DI teria conseguido 46,1% de rentabilidade.
Mas, se a poupança é o patinho feio das aplicações, por que há ainda tanta gente que insiste em manter suas economias ali? Por três motivos. Um é a suposta segurança da aplicação. A idéia de que o dinheiro investido em caderneta é garantido pelo governo ainda é muito atraente. "Só que o Fundo Garantidor de Crédito assegura apenas até 20 mil reais por CPF", diz Fábio Colombo, da consultoria financeira Money Maker. O segundo motivo é a simplicidade de funcionamento da aplicação. Outros fundos têm taxas e impostos diferentes, e a valorização depende muito de quem gerencia o dinheiro. São infinitamente complexos para quem está acostumado à simplicidade da velha poupança, corrigida apenas por uma taxa-base, igual para todos os bancos e independente de gestor. "Qualquer um entende como funciona", diz Colombo. Por último, há a crença de que outras aplicações são para quem tem muito dinheiro. Grande parte da população acha que não pode depositar suas sobras mensais em outro tipo de fundo simplesmente porque acredita que eles não aceitariam quantias tão pequenas quanto 100 reais, por exemplo. "Hoje existem fundos DI que aceitam depósitos iniciais de 100 reais", avisa Colombo. Mas é importante fazer um levantamento antes de optar pela instituição. Normalmente, quanto menor o valor inicial, maior a taxa cobrada pelo banco para gerir seu dinheiro. Pesquisando é possível encontrar opções competitivas e evitar que seu rendimento seja engolido por esses descontos.

DIVERSIFICAÇÃO DE INVESTIMENTOS
Há o mito de que diversificando investimentos é possível ganhar mais. "Diversificação é para minimizar prejuízos", afirma Colombo. Ou seja, se você tem dinheiro em renda fixa e renda variável, quando um deles vai mal, há chance de que o outro compense a perda. Mas, ainda assim, há momentos em que a maré não está para peixe em nenhum dos lados. "Quando tudo vai mal, não importa quanto você esteja diversificado", diz o professor Eid. Por isso, para quem não tem dinheiro para arriscar, o negócio é escolher um único tipo de aplicação -- para os conservadores brasileiros, nada mais garantido que a boa e velha renda fixa. Seus ganhos serão menores, é verdade, porém garantidos.

AÇÕES
Investimento em ações é um assunto contraditório. Muitos profissionais do mercado consideram que, no longo prazo, aplicar em renda variável é um grande negócio. Se você olhar a história das bolsas de valores no mundo, realmente vai ver que quem soube aproveitar os momentos de baixa para comprar e de alta para vender ganhou mesmo. O problema é exatamente esse: nem todo mundo consegue entrar e sair na hora certa. E aí perde dinheiro. Mesmo que tenha esperado muito tempo antes de vender. Um exemplo: quem entrou na Bovespa no início do Plano Cruzado, comprou ações na alta (o valor dos papéis estava num dos maiores picos que o mercado já viu). E, desde então, poucos foram os momentos em que esse investidor poderia ter vendido suas ações com lucro. Na verdade, se tentasse vendê-las hoje, teria prejuízo, mesmo depois de 15 anos.
Quem considera bolsa de valores algo arriscado até no longo prazo tem seus argumentos. "Ninguém sabe como os ciclos econômicos vão funcionar num mundo em que as companhias são globalizadas", explica Avelino de Almeida, da Lógica do Mercado, empresa de administração de recursos. Para ele, o negócio é comprar e vender ações num prazo curto. Existe outro ponto: se você apostou nesta ou naquela companhia, há necessidade de acompanhamento constante do mercado financeiro -- uma tremenda chateação para o investidor médio. Mas não é todo mundo que tem tempo para ficar analisando balanço de empresa. Você tem estômago para perder dinheiro? Se a resposta for não, então a história de que a bolsa é boa no longo prazo cai por terra para você, porque perder dinheiro é sempre uma possibilidade. Se for o contrário, então esse pode ser mesmo seu melhor negócio.

DOLAR E OURO
O lado verde dessa dupla -- o dólar -- também é outra preferência nacional. Basta o real, ou qualquer moeda corrente no momento, dar sinais de fraqueza que há quem compre moeda forte, só para garantir. O motivo? A memória dos calotes dados pelo governo, que tem o péssimo hábito de confiscar alguma coisa toda vez que tem oportunidade. Investir em dólar traz uma falsa sensação de segurança. "Só que ele perde para a alta taxa de juro brasileira", diz Colombo. Sem contar que os Estados Unidos também têm inflação; pequena, mas têm. E, graças a ela, os dólares que você guardou debaixo do colchão também vão se desvalorizando. Se o seu negócio é mesmo dólar, então aplicar em fundos cambiais, que rendem juros, é o menor dos males. Mas não dá para saber se as coisas continuarão como estão (a cotação, na verdade, já começou a cair). Os únicos que ainda ganham com fundos cambiais são aqueles que têm dívidas atreladas ao dólar ou planejam gastos nessa moeda.
Quanto ao ouro, o raciocínio é o mesmo. Em tempos de instabilidade, a procura tende a aumentar. Desde o início deste ano até o começo de novembro, o ouro subiu 32% na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Em tempos normais, entretanto, não é negócio, já que a cotação do metal costuma cair e perde em atrativos para a taxa de juro da renda fixa.

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