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Por que a casa própria é mau negócio para os recém-casados

Para planejador financeiro, casal deve morar de aluguel primeiro e só depois dar entrada em imóvel próprio, para poder organizar as finanças

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h59.

São Paulo – O lugar-comum de que “quem casa quer casa” pode não ser uma boa ideia, ao menos não nos primeiros anos de união. É o que pensa o planejador financeiro certificado (CFP) e sócio da Soma Invest Janser Rojo, que defende que a compra da casa própria pode ser um péssimo negócio para os recém-casados.

Segundo Rojo, muitos recém-casados que entram em um financiamento para já começar a vida de casados na casa própria o fazem mais por hábito que por uma real necessidade. Sem planejamento, acabam tomando a pior decisão financeira.

“O casal que acaba de se casar se deixa levar por esse pensamento, pois é cobrado pela família. Só que esse é um pensamento antigo que pode levar o casal a uma armadilha, em vez de priorizar a qualidade de vida”, diz Rojo.

O planejador defende que pode ser mais vantajoso morar de aluguel no início e poupar para dar uma entrada maior do que se endividar logo no início da vida de casados.

Para definir a entrada ideal, o casal deve primeiro fazer um orçamento e determinar qual seria a quantia confortável para se destinar à moradia.

“Se um aluguel de 2 mil reais for confortável, então o ideal é que este seja o valor máximo da parcela do financiamento”, diz Rojo. A partir daí, o casal simula o valor de entrada necessário para pagar essa parcela no financiamento do tipo de imóvel desejado.

“O valor da entrada depende muito da taxa de juros, mas costuma girar entre 30% e 40% do valor do imóvel”, afirma o sócio da Soma Invest.

Veja a seguir os principais motivos que fazem a compra da casa própria se tornar uma armadilha para os casais recém-casados:

1O casal pode não ser capaz de dar uma boa entrada

Se o casal não for capaz de dar uma boa entrada, ele se endividará por um prazo muito longo e, possivelmente, pagará juros mais elevados do que conseguiria se a entrada fosse maior. Isso pode resultar em uma parcela inicial mais alta do que um eventual aluguel.

Rojo dá o seguinte exemplo: um apartamento vendido por 400 mil reais, financiado em 30 anos com uma entrada de 10% (40 mil reais) resultaria em uma parcela inicial de 3.592 reais. Após as três décadas, o total pago pelo imóvel chegaria a 876.858 reais, com as taxas de juros.

O planejador lembra que essa quantia corresponde a mais que o dobro do preço do imóvel. Isso não significa que o casal deva esperar até ter todo o dinheiro para pagar o imóvel à vista, até porque, dependendo da renda, esse processo pode levar muito tempo.


O conselho de Janser Rojo é que o casal more de aluguel nos primeiros anos para poupar pelo menos um valor maior de entrada. Mas para isso, é preciso que o valor pago de aluguel seja inferior ao valor da primeira parcela do financiamento de um imóvel semelhante.

Conforme o exemplo anterior, se o casal conseguir pagar um aluguel de 2 mil reais para morar em um imóvel semelhante – o que equivale a 0,5% de 400 mil reais e é inferior ao valor da primeira parcela – ele pode poupar a diferença (1.592 reais) em uma aplicação financeira, para engordar a entrada.

Com uma entrada maior, o casal poderá reduzir os juros e o prazo do financiamento, ou manter o prazo de 30 anos e diminuir a parcela. Fora que o valor total do imóvel (incluindo os juros) não aumentará tanto.

2Imóvel próprio tira a flexibilidade da família

“Ah, mas e o dinheiro que eu vou jogar fora com o aluguel? Para que pagar por algo que não é meu se eu posso pagar uma prestação por algo que será meu?”

Rojo lembra que este é outro lugar-comum que deve ser ignorado. Primeiro porque, enquanto está financiado, o imóvel ainda não é de fato seu. “Ele está alienado em nome do banco”, diz Rojo.

Em segundo lugar, se o casal for jovem, fixar-se em um lugar pode ser ruim. Um novo emprego pode levar a uma mudança de cidade, ou mesmo fazer com que morar em outro bairro seja mais conveniente. “Trocar um imóvel próprio tem altos custos”, diz o planejador.

3A configuração familiar ainda vai mudar

Além disso, pode haver a chegada de filhos, levando à necessidade de um imóvel maior. Nesse sentido, alugar um apartamento menor no início do casamento para investir na compra de um imóvel maior e com mais estrutura quando os filhos chegarem pode ser mais vantajoso.

4Um financiamento pesado pode deixar outros objetivos em segundo plano

Rojo lembra que muita gente entra em um financiamento de imóvel logo no início da vida de casado sem sequer ter um orçamento ou saber quanto o outro ganha.

Além de isso poder levar a um descontrole financeiro, pois a parcela pode ficar mais pesada do que se imaginava, também pode levar o casal a ficar sem reservas para outros objetivos.

“A casa própria é um ‘super’ objetivo, mas há necessidades e desejos de curto e médio prazo também: uma viagem, a compra de um carro, e assim por diante. Se o casal se prende demais ao objetivo de longo prazo, ele acaba não conseguindo atingir objetivos de curto e médio prazo, o que gera um desgaste na relação”, diz o planejador.

Seu conselho é que o casal primeiro faça um orçamento doméstico para definir quanto pode gastar com a moradia, em vez de entrar em um financiamento e montar seu orçamento em torno disso.


Assim será possível definir uma parcela para a poupança e outra para o lazer, de modo a manter a qualidade de vida e formar uma reserva para emergências e outros objetivos. Se o financiamento couber na parcela destinada à moradia, tudo bem. Se não, melhor morar de aluguel e poupar para uma entrada maior.

Rojo lembra que mesmo quando se está em um financiamento, é preciso manter uma reserva de emergência, para imprevistos como a necessidade de fazer um reparo doméstico, uma perda de emprego ou uma doença mais grave na família.

“Se o casal entrar de supetão em um financiamento com uma parcela que não lhe deixa espaço no orçamento, pode acabar não sobrando dinheiro para atender a outros desejos. E se acontecer um imprevisto, o casal terá que se endividar ainda mais”, diz.

Ele lembra que a falta de lazer, o grande endividamento, a inadimplência e outros problemas financeiros acabam prejudicando a relação.

5O imóvel em que você mora não é um investimento

A ideia de que financiar um imóvel próprio é o mesmo que investir também é um lugar-comum que deve ser combatido, acredita Rojo.

O seu imóvel pode até se valorizar com o tempo, mas é bem provável que, se isso acontecer, os demais imóveis se valorizem também. Se aquele for seu único imóvel e a ideia for vendê-lo no futuro para comprar outro, de modo geral não haverá diferença, pois os outros imóveis também estarão mais caros.

“Esse raciocínio só faz sentido se o imóvel for realmente um investimento. Isto é, se não for a casa onde você mora e for destinado a gerar rendimentos com a valorização ou os aluguéis”, diz o planejador financeiro.

São Paulo – O lugar-comum de que “quem casa quer casa” pode não ser uma boa ideia, ao menos não nos primeiros anos de união. É o que pensa o planejador financeiro certificado (CFP) e sócio da Soma Invest Janser Rojo, que defende que a compra da casa própria pode ser um péssimo negócio para os recém-casados.

Segundo Rojo, muitos recém-casados que entram em um financiamento para já começar a vida de casados na casa própria o fazem mais por hábito que por uma real necessidade. Sem planejamento, acabam tomando a pior decisão financeira.

“O casal que acaba de se casar se deixa levar por esse pensamento, pois é cobrado pela família. Só que esse é um pensamento antigo que pode levar o casal a uma armadilha, em vez de priorizar a qualidade de vida”, diz Rojo.

O planejador defende que pode ser mais vantajoso morar de aluguel no início e poupar para dar uma entrada maior do que se endividar logo no início da vida de casados.

Para definir a entrada ideal, o casal deve primeiro fazer um orçamento e determinar qual seria a quantia confortável para se destinar à moradia.

“Se um aluguel de 2 mil reais for confortável, então o ideal é que este seja o valor máximo da parcela do financiamento”, diz Rojo. A partir daí, o casal simula o valor de entrada necessário para pagar essa parcela no financiamento do tipo de imóvel desejado.

“O valor da entrada depende muito da taxa de juros, mas costuma girar entre 30% e 40% do valor do imóvel”, afirma o sócio da Soma Invest.

Veja a seguir os principais motivos que fazem a compra da casa própria se tornar uma armadilha para os casais recém-casados:

1O casal pode não ser capaz de dar uma boa entrada

Se o casal não for capaz de dar uma boa entrada, ele se endividará por um prazo muito longo e, possivelmente, pagará juros mais elevados do que conseguiria se a entrada fosse maior. Isso pode resultar em uma parcela inicial mais alta do que um eventual aluguel.

Rojo dá o seguinte exemplo: um apartamento vendido por 400 mil reais, financiado em 30 anos com uma entrada de 10% (40 mil reais) resultaria em uma parcela inicial de 3.592 reais. Após as três décadas, o total pago pelo imóvel chegaria a 876.858 reais, com as taxas de juros.

O planejador lembra que essa quantia corresponde a mais que o dobro do preço do imóvel. Isso não significa que o casal deva esperar até ter todo o dinheiro para pagar o imóvel à vista, até porque, dependendo da renda, esse processo pode levar muito tempo.


O conselho de Janser Rojo é que o casal more de aluguel nos primeiros anos para poupar pelo menos um valor maior de entrada. Mas para isso, é preciso que o valor pago de aluguel seja inferior ao valor da primeira parcela do financiamento de um imóvel semelhante.

Conforme o exemplo anterior, se o casal conseguir pagar um aluguel de 2 mil reais para morar em um imóvel semelhante – o que equivale a 0,5% de 400 mil reais e é inferior ao valor da primeira parcela – ele pode poupar a diferença (1.592 reais) em uma aplicação financeira, para engordar a entrada.

Com uma entrada maior, o casal poderá reduzir os juros e o prazo do financiamento, ou manter o prazo de 30 anos e diminuir a parcela. Fora que o valor total do imóvel (incluindo os juros) não aumentará tanto.

2Imóvel próprio tira a flexibilidade da família

“Ah, mas e o dinheiro que eu vou jogar fora com o aluguel? Para que pagar por algo que não é meu se eu posso pagar uma prestação por algo que será meu?”

Rojo lembra que este é outro lugar-comum que deve ser ignorado. Primeiro porque, enquanto está financiado, o imóvel ainda não é de fato seu. “Ele está alienado em nome do banco”, diz Rojo.

Em segundo lugar, se o casal for jovem, fixar-se em um lugar pode ser ruim. Um novo emprego pode levar a uma mudança de cidade, ou mesmo fazer com que morar em outro bairro seja mais conveniente. “Trocar um imóvel próprio tem altos custos”, diz o planejador.

3A configuração familiar ainda vai mudar

Além disso, pode haver a chegada de filhos, levando à necessidade de um imóvel maior. Nesse sentido, alugar um apartamento menor no início do casamento para investir na compra de um imóvel maior e com mais estrutura quando os filhos chegarem pode ser mais vantajoso.

4Um financiamento pesado pode deixar outros objetivos em segundo plano

Rojo lembra que muita gente entra em um financiamento de imóvel logo no início da vida de casado sem sequer ter um orçamento ou saber quanto o outro ganha.

Além de isso poder levar a um descontrole financeiro, pois a parcela pode ficar mais pesada do que se imaginava, também pode levar o casal a ficar sem reservas para outros objetivos.

“A casa própria é um ‘super’ objetivo, mas há necessidades e desejos de curto e médio prazo também: uma viagem, a compra de um carro, e assim por diante. Se o casal se prende demais ao objetivo de longo prazo, ele acaba não conseguindo atingir objetivos de curto e médio prazo, o que gera um desgaste na relação”, diz o planejador.

Seu conselho é que o casal primeiro faça um orçamento doméstico para definir quanto pode gastar com a moradia, em vez de entrar em um financiamento e montar seu orçamento em torno disso.


Assim será possível definir uma parcela para a poupança e outra para o lazer, de modo a manter a qualidade de vida e formar uma reserva para emergências e outros objetivos. Se o financiamento couber na parcela destinada à moradia, tudo bem. Se não, melhor morar de aluguel e poupar para uma entrada maior.

Rojo lembra que mesmo quando se está em um financiamento, é preciso manter uma reserva de emergência, para imprevistos como a necessidade de fazer um reparo doméstico, uma perda de emprego ou uma doença mais grave na família.

“Se o casal entrar de supetão em um financiamento com uma parcela que não lhe deixa espaço no orçamento, pode acabar não sobrando dinheiro para atender a outros desejos. E se acontecer um imprevisto, o casal terá que se endividar ainda mais”, diz.

Ele lembra que a falta de lazer, o grande endividamento, a inadimplência e outros problemas financeiros acabam prejudicando a relação.

5O imóvel em que você mora não é um investimento

A ideia de que financiar um imóvel próprio é o mesmo que investir também é um lugar-comum que deve ser combatido, acredita Rojo.

O seu imóvel pode até se valorizar com o tempo, mas é bem provável que, se isso acontecer, os demais imóveis se valorizem também. Se aquele for seu único imóvel e a ideia for vendê-lo no futuro para comprar outro, de modo geral não haverá diferença, pois os outros imóveis também estarão mais caros.

“Esse raciocínio só faz sentido se o imóvel for realmente um investimento. Isto é, se não for a casa onde você mora e for destinado a gerar rendimentos com a valorização ou os aluguéis”, diz o planejador financeiro.

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