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Plano dos EUA pode ter efeito colateral de elevar perda contábil dos bancos

Segundo o Financial Times, instituições terão de admitir novas perdas em seus balanços quando começarem a leiloar ativos podres

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O plano do governo para retirar os ativos tóxicos de bancos como o Citigroup e o Bank of America forçará as instituições financeiras a reconhecer novas perdas contábeis em seus balanços, segundo banqueiros e analistas ouvidos pelo jornal britânico Financial Times.

Hoje muitos dos ativos tóxicos dos bancos são contabilizados em seus balanços pelo valor de compra. Ao leiloarem esses papéis, as instituições financeiras deverão levantar um valor superior ao atual preço de mercado, mas bem inferior ao preço de compra de alguns anos atrás.

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A legislação americana prevê que os bancos podem carregar ativos podres em seus balanços pelo preço de compra e reconhecer apenas o percentual de perda proporcional ao prazo do empréstimo.

Para um empréstimo com prazo de pagamento de dez anos que deixou de ser pago, o banco pode reconhecer como perda apenas 20% de seu valor após dois anos, 30% após três anos e assim por diante. Mas toda a perda será lançada no balanço de uma vez quando um papel for vendido por um preço inferior ao de compra.

Dessa forma, apesar de levantarem capital para novos empréstimos e limparem seus balanços de papéis tóxicos com os leilões, os bancos deverão continuar a anunciar prejuízos bilionários a cada trimestre.

Haverá alguma autonomia para os bancos escolherem os papéis que deverão ser colocados em leilão. No entanto, o governo também já anunciou que fará "testes de estresse" para forçar os bancos a fazer provisões mais agressivas para garantir esses empréstimos de recebimento duvidoso.

Isso será um incentivo para a venda dos papéis, já que o aumento das provisões também levará a prejuízos bilionários no momento da divulgação dos balanços.

Para cobrir as perdas, os bancos terão de buscar novas injeções de capital junto ao governo. O problema é que essa solução também é ruim para quem tem ações dos bancos pois levará à diluição da participação dos atuais acionistas.

É por esse motivo que o professor Paul Krugman, colunista do jornal New York Times e Prêmio Nobel de Economia em 2008, escreveu nesta terça-feira que o plano do governo americano só vai adiar o inevitável: a nacionalização das grandes instituições financeiras insolventes.

No entanto, a presidente da FDIC (o fundo garantidor de créditos nos Estados Unidos), Sheila Bair, disse que a decisão dos bancos de vender ativos tóxicos ou não será tomada após consulta aos reguladores - um sinal de que o governo vai pressionar os bancos pela adesão ao pacote.

Na segunda-feira, quando foi divulgado, o plano trouxe otimismo ao mercado devido a declarações favoráveis de alguns dos maiores investidores americanos.

Esses fundos demonstraram interesse em comprar papéis podres dos bancos nesses leilões, uma vez que o governo americano assumiu a maior parte dos riscos e ofereceu empréstimos para a aquisição dos ativos a juros subsidiados.

Já na terça-feira os investidores realizaram lucros após perceberem que a adesão ao plano pode ser dolorosa demais para os bancos.

A não ser que haja forte disputa no primeiro leilão de ativos tóxicos realizado pelos bancos, é provável que os "banco zumbis" - mortos demais para emprestar e vivos demais para pedir a falência - continuem a perambular por Wall Street.

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